quarta-feira, 23 de junho de 2010

CALDEIRADAS

Muito produzia aquela horta,pois água não lhe faltava. É que a fornecia um valente burro,que não se cansava de andar ali á roda As voltas que ele dava sem ficar tonto e surdo,que a nora não parava de chiar.
A água desabava ,em grande parte,na bocarra de onde saíra,por via dos muitos rasgos nos velhos alcatruzes. Não respeitavam o esforço daquele burro,que era,assim,muito desbaratado. Mas ele a tudo se submetia,sem um queixume. Talvez se deliciasse com o barulho daquelas cataratas e com o trinado de bandos de pássaros que ali faziam pela vida,aliás,com grande proveito.
Naquele tempo,a mão de obra era barata,mas a jorna tinha ali valiosos acrescentos. Além de vinho,tudo aquilo estava à sua disposição,sem restrições. As panelas atulhavam-se de rodelas e rodelas de batata,de cebola,de tomate,de pimento. Os odores que vinham daquelas caldeiradas não tinham rival.
Era um prazer vê-los engulir as garfadas a escorrer azeite e vinagre. Estavam sempre dispostos a partilhar,que aquela gente não era de egoísmos. Não se precisava de mesa,pois os cestos de vindima e o chão serviam muito bem.

Sem comentários: