O homem tinha ar de ave noctívaga. De dia,moirejava,de facto-macaco,na oficina. A mulher vigiava-o da janela,desconfiada,talvez,da sua fidelidade. Uma ranchada de filhos acompanhava-a. Tão numerosa prole dava-lhe uma certa autoridade,pelo que a sua voz ouvia-se bem,como se a rua fosse dela. Com tantos trabalhos,não cuidava muito de si,chegando a andar de roupão fora de casa,um tanto estremunhada. Os rebentos imitavam a mãe. Desgrenhados e lambuzados,vagueavam e bricavam no passeio,não se atrevendo a invadir os domínios do pai,ali a dois passos. Deviam ter-lhe muito respeito ou temor. A cara dele era,de facto,um tanto dura. Em vez de sorrisos,receberiam mimos de uma natureza bem diversa. O que era preciso é que não lhes faltasse o pão de cada dia. Mas era de desconfiar.
Em dias de folga,nem parecia o mesmo,vestido e calçado à moda,lembrando um conquistador de bairro. Num fim de tarde,ia todo de negro,acentuando os traços de falcão. Estava ainda novo e a mulher perdera a graça,engordando muito. A família teria ficado frente à televisão. No regresso,haveria mais uma cena,mas a vizinhança já não estranharia.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
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