terça-feira, 22 de junho de 2010

FEIRA DA LADRA

Tempos atrás,o pacato jardim fora percorrido por uns sujeitos munidos de tintas,de pincéis e de réguas. Que brincadeira será esta?,interrogaram-se alguns pardais, que andavam por ali,na boa paz. A pouco e pouco,aqueles arruamentos foram-se enchendo de rectângulos amarelos. Ainda numeraram alguns,mas,ou porque se acabasse a tinta,ou porque houvera grande esforço,desistiram. Aquilo,na altura,ficou-se por ali. Para que seria um traçado daqueles? Fazia lembrar um jogo de crianças. Talvez fosse para isso,pensaram,e qualquer dia teriam ali grande festa. Pois muito se enganaram. Ideias de gente simples.
Certo domingo,logo de manhazinha,ainda mal o sol despontara,deu-se uma invasão. Homens e mulheres,com sacos e saquetas,com malas e maletas,ocuparam aqueles rectângulos. E daqueles baús,saíram os mais diversos e disparatados objectos,a maior parte muito velhos e outros cheirando a mofo. Paulatinamente,seguiu-se outra invasão. Eram os curiosos ou os interessados em tais bugigangas. Enfim,um desassossego.
Olhem,a nossa vida,lastimavam-se os pobrezinhos. Então,isto é para durar? Muitos voaram para outras paragens,que aquilo não podiam suportar. Só regressaram,quando foram avisados por uns mais velhos,de ouvido mais duro,que vieram a saber que aqueles ajuntamentos só se fariam no último domingo de cada mês. Era um dia de sacrifício,apenas. Gostavam muito daquele jardim,mesmo ali ao pé do grande rio,e custar-lhes-ia deixá-lo. Que outra desdita não os afectasse.

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