sexta-feira, 25 de junho de 2010

RASTO DE DESAMPARO

Vinha toda de negro vestida. Mas numa senhora de muitos anos não era isso de estranhar. Trazia na mão a caderneta da Caixa e queria actualizá-la,só que não sabia como o fazer,talvez por ter deixado os óculos em casa. Teve,pois,de pedir ajuda ao primeiro que lhe apareceu. Quem é que recusaria ou,até,estaria disposto a enganá-la,tal o seu desprotegido,confiante,submisso ar?
Enquanto a operação decorria,lá foi informando que o marido lhe morrera há anos e,pior do que isso,perdera ,recentemente, o seu único filho. Veja o senhor a minha desgraça.
Pode dizer-me quanto está aí? Era uma quantia de quase nada,à volta de quarenta euros. Dois dias antes,tinha havido um depósito de cinco euros e dezassete cêntimos.
Parecia esperar mais. Na página,viam-se sombras de registos na anterior. Quis saber o que era.
Desfez-se em agradecimentos,pegou em dois saquitos e lá foi,deixando atrás de si,bem fundo,um rasto de desamparo.

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