segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

PORTAS ABERTAS

Ele era um sim-senhor assumido. É que não se podia incomodar,por mor do coração. Concordava com todos,não fossem pensar que os quisesse contrariar. Era o que faltava. Longe dele uma tal coisa. E não se punha com evasivas,para não restarem dúvidas.
Depois,se assim não procedesse,receava ter neles uns inimigos. Poriam umas caras muito feias e deixariam,até,de lhe falar,cortando relações. E isso,nunca. Sendo ele um pobretana,precisava de se dar bem com todos,cobrindo o maior número possível de frentes,por onde,um dia ou mais,teria de enfrentar um ataque,daqueles de não se saber para onde se voltar. Sem amparos de valia,como havia ele de se livrar de alguma armadilha,que estão sempre a acontecer? Ainda há não muito tempo,lembrava-se muito bem,tivera de recorrer a uma senhora de grande influência para escapar duma,daquelas de fugir a sete pés,tendo para onde.
Tinha,assim,neste temor,neste sobressalto permanente,de manter o maior número de portas abertas,sobretudo,daquelas bem largas,onde se recolher sem hesitações,no caso de alguma borrasca intempestiva.
Com o coração,de facto,não se pode brincar. Se não se tratar bem dele,o fim chegará,quando menos se espera. Há,pois,que lhe dar paz,envolvê-lo em paz. Paz,sempre,de manhã à noite,sem descanso. Era muito ajuizado,sem dúvida,o seu proceder. Se todos fizessem assim,pobretanas ou não,dava-se um grande passo,um passo de gigante,para impedir que guerra germinasse.

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