Coitada dela,vivia de esmolas e morava na rua. À noite,recolhia-se num desvão de prédio. Trazia sempre consigo toda a sua fortuna,acondicionada em sacos de plástico. Um amigo fiel não a largava,um amigo engarrafado,de tinta cor. Pareciam sentinelas,as garrafas que ela depositava,mesmo ali ao alcance das mãos,sempre prontas a acudir-lhe.
Coitada dela,muito ela falava,talvez narrando,em ladainha,a sua triste vida. Dizia-se que era doutora,que tivera vida boa. E por ter sido assim,alguns tinham com ela atenções. E foi o que um dia se presenciou.
Eram dois que dela se abeiraram,movidos por um misto de compaixão e de respeito. Não eram eles doutores,mas um seu equivalente. Não se ouviu bem o que lhe disseram. Mas que se lhe dirigiram com toda a consideração,não restava a mínima dúvida. Muito chegados a ela,quase lhe tocando,merecia o quadro ficar registado,como ficou.
Deram-lhe umas moedas,que seria para qualquer coisa de comer,e não de beber,pois ela era incapaz de assim as gastar,como asseveraram. Ela,uma doutora,não faria uma coisa dessas. Nem repararam nas sentinelas,tal era a sua convicção.
sábado, 27 de dezembro de 2008
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