quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A MARINHAGEM

A veemência que ia por ali. A verdade tinha de ser dita,de uma vez por todas,para que se fizesse a devida justiça,para que se apontassem os verdadeiros heróis. E era o que ele iria fazer,o que já não era sem tempo.
Pois não foram os capitães das caravelas que dobraram cabos,que afrontaram o desconhecido,que venceram medos,que descobriram,que lá aportaram,sujeitos a mil e um perigos. Nada disso. Foi precisamente como eu vou dizer. E aprumou-se,que a ocasião o pedia. Foram outros,e está-se mesmo a ver quem foram,escusava eu de estar para aqui a declará-lo,ainda que com muito prazer,que é disto que eu sei,como o tenho mostrado imensas vezes,com geral agrado,aliás.
Pois quem havia de ser? Uma caravela tem muito que se lhe diga. Uma caravela para ir por esses mares fora,por esses traiçoeiros mares, além do vento,que sem ele nada feito,precisa, como de pão para a boca,de braços muito fortes,de braços muito rudes,habituados a todas as canseiras,algumas quase sobrehumanas.
Onde estavam eles,esses braços heróicos? Nos capitães das caravelas? Uns dirão que sim,e lá terão as suas razões. Eu não lhes nego valor,seria o primeiro a afirmá-lo. Eram eles que comandavam,que tinham de ter pulso firme para manter a disciplina,que tinham de tomar decisões,algumas de grande risco. Mas,coitados,que seria deles,das caravelas,se não fosse a marinhagem? Estavam bem arranjados,eles e elas,talvez nem chegassem a partir,quanto mais lá chegarem.
Pois está-se mesmo a ver. Quem verdadeiramente foi por essas tenebrosas águas,infestadas de mostrengos,águas muitas vezes revoltas,alterosas,quem dobrou esses cabos horrendos,quem aportou a essas novas terras desconhecidas de muitos,quem lhes veio dar novas delas,foi essa brava marinhagem.Não sendo ela,quem é que havia de ser? E todo ele se empertigava,
se acalorava,muito certo da sua certeza.
Assim,é a ela,a essa marinhagem três vezes heróica ,que se deve prestar as maiores honras,pelos altíssimos feitos cometidos.

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