quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

TUDO PERDIDO

O encontro a dois começou a ser como era norma,um encontro formal,mas acabou na maior das informalidades,cada um a dizer de sua justiça. Um deles,o mais velho,andaria aí pelos sessenta ou setenta, e o outro,talvez uns quarenta,não mais. Era a primeira vez que se viam.
A certa altura,quando já se estava em plena informalidade,desataram a falar de tudo e de mais alguma coisa. Falaram da vida,dos seus escolhos,falaram dos filhos,que o mais novo tinha,falaram do seu futuro,como se costuma dizer,como se fossem donos dele.
Pois é,o diabo da vida não há meio de encarreirar,disse o mais velho. É sempre a mesma luta,e cada vez mais feroz. É o salve-se quem puder,doa a quem doer. Não há volta a dar-lhe. Saem-se melhor os que dispuserem de melhores armas,sobretudo,de melhores apoios,melhores
padrinhos,como é corrente dizer-se. É a vida.
O mais novo não esperava nada ouvir o que estava ouvindo,vindo de quem era. Foi uma surpresa,e das grandes,uma surpresa reveladora. Aquilo devia estar mesmo muito mal. É que o senhor tinha muita experiência da vida,não por ele,mas por aqueles com quem ele convivia,e ele lá saberia que era mesmo assim.
E assim,seria caso para dizer que estava tudo perdido. Estaria para muitos,porventura uma grande maioria,lá pensaria o mais novo. Como é que ele iria proceder para que os filhos não se perdessem? Não iria fazer nada em especial,nem mais nem menos do que tinha feito até àquela altura. Deixaria correr as coisas como até ali,que elas seguissem o seu curso e fosse o que Deus quisesse. De resto,em boa verdade, não podia fazer mais nada,mais exactamente,não sabia fazer mais nada.

Sem comentários: