sábado, 10 de janeiro de 2009

"ENCONTRO COM SEBASTIÃO DA GAMA" - III

"A alegria que inunda toda a sua obra,a ponto de constituir uma verdadeira e própria
constante,nasce da conformidade com Deus e com os homens. É talvez,a par do amor,a sua mensagem.
Sebastião da Gama amou a vida sem a possuir. Por isso a sua poesia é sempre ventilada por um ar de mocidade,de bom humor,de brincadeira. Ter é tardar,disse Fernando Pessoa. Ora o poeta nunca teve,nunca reteve a vida. Bastou-lhe sempre deixá-la fluir,correr-lhe pelos dedos,como a tarde. O seu caminho de morte sempre se caracterizou por um aprofundamento progressivo nas raízes da alegria. Talvez não haja na língua portuguesa poesia mais alegre do que esta,dedicada
A uma rapariga:

Somos assim ao dezassete.
Sabemos lá que a vida é ruim!
A tudo amamos,tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.

Depois,Acilda,os livros dizem,
dizem os velhos,dizem todos:
"A vida é triste. A vida leva,
a um e um,todos os sonhos".

Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo,eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim."

RUY BELO
Na Senda da Poesia
Edição de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim
2002

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