Há quem goste de começos,talvez para quebrar a monotonia da vida,quando instalada,em marcha de rotina. Lá terão as suas razões,de que eles são parte. E uma delas está bem á vista,e é a de verem a vida como um eterno recomeço. Pois não se morre,de algum modo,todos os dias,no sono? E a vida freme,a cada momento,em múltiplas transformações,como que renovando-se,num ser qualquer.
Depois,ou ao mesmo tempo,a natureza envolvente está ali sempre,bem próximo,a dar mostras de que quer continuar. E é o Sol que não se esquece da sua função,nascendo todos os dias,num teimoso recomeçar. E é a Primavera,portadora de promessas,que, persistentemente,as vem trazer. E é ver as plantas,erva,arbusto,árvore,numa perpétua renovação,mesmo sem os cuidados do homem. Elas lá nascem,lá crescem,lá se desenvolvem,lá passam o testemunho,tudo muito naturalmente. A vida nelas é um contínuo mudar,mudar de cara.
E mudar de cara é o que se passa com muitos,com todos,à semelhança do poeta,sem se deixar de ser,num eterno recomeço,a partir de si,de cada um. Não é de estranhar,pois,que haja quem diga que goste de começos,assumindo,afinal,a realidade de todos,que,a cada momento,de algum modo,vão renascendo.
sábado, 31 de janeiro de 2009
A COISA VAI MAL
Quando os meios se ocupam,dias a fio,com o noticiar de "escândalos" ou coisa parecida,usando as primeiras páginas,caixa alta,grandes parangonas,sublinhado,e sabe-se lá mais o quê,parece ser sinal claro de que a coisa vai mal,mesmo muito mal,a precisar,urgentemente, de médico á altura,ou à largura,como se queira. Parece ser sinal evidente de que os meios vão mal,mesmo muito mal,ou então,em alternativa,ou conjuntamente,a procura vai mal,mesmo muito mal.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
CAÇA AO HOMEM
Vale tudo. É,afinal,ao fim e ao cabo,o eterno "tira-te tu daí,que eu quero ir para lá".
Pobre D.Pedro V,e pobres de nós,não valeu de nada o teres escrito,com 18 anos,o "...E no passado recente,quanto mal tem sido feito a Portugal pelo facto de os homens se preocuparem muito mais com as personalidades do que com as causas....( Carta de 18/2/1885,de Cartas de D. Pedro ao Príncipe Alberto,Tradução de Ruben Andresen Leitão,Portugália Editora).
Pobre D.Pedro V,e pobres de nós,não valeu de nada o teres escrito,com 18 anos,o "...E no passado recente,quanto mal tem sido feito a Portugal pelo facto de os homens se preocuparem muito mais com as personalidades do que com as causas....( Carta de 18/2/1885,de Cartas de D. Pedro ao Príncipe Alberto,Tradução de Ruben Andresen Leitão,Portugália Editora).
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
CENAS DE SEMPRE
Tempos conturbados aqueles. Alguns apanharam de dois ou mais lados,talvez por não pertencerem a lado nenhum,o que parece não ser avisado. É que embirravam,decididamente,
alinhar,e destestavam o quem não é por mim é contra mim.
Se tinham o atrevimento de esboçar comiseração por tanta desgraça e injustiça,ali à volta,logo olhavam para eles de modo desconfiado. O que os meninos estão para aí a dizer? Olhem que isso não lhes fica nada bem e pode trazer-vos dissabores. Parece que ultimamente têm andado em más companhias. Um,até,coitado dele,não se livrou de ser chamado,teimosamente,por um nome muito feio. O que lhe valeu foi levar a coisa a rir e as testemunhas também.
O mesmo atreveu-se,em certo dia,já era atrevimento a mais,a comentar uma clamorosa contradição. Deixavam passar no crivo revistas de carácter brejeiro,mas mostravam-se extremamente severos com outras que de brejeiro nada tinham. O que ele foi dizer. Desta vez,foi caso para franzir o sobrolho. Acolheram,porém,agradavelmente,o ele ter aceitado um cargo de nomeação. Neste passo,levou forte de outro quadrante. Uma coisa dessas,nunca tinham imaginado. Acabaram,felizmente,por fechar os olhos,pois já havia gente a lastimar-se.
Enfim,cenas de ontem,e de hoje,cenas de sempre,sabe-se lá porquê. Coisas para entreter,que o tu e o eu não há meio de serem um só.
alinhar,e destestavam o quem não é por mim é contra mim.
Se tinham o atrevimento de esboçar comiseração por tanta desgraça e injustiça,ali à volta,logo olhavam para eles de modo desconfiado. O que os meninos estão para aí a dizer? Olhem que isso não lhes fica nada bem e pode trazer-vos dissabores. Parece que ultimamente têm andado em más companhias. Um,até,coitado dele,não se livrou de ser chamado,teimosamente,por um nome muito feio. O que lhe valeu foi levar a coisa a rir e as testemunhas também.
O mesmo atreveu-se,em certo dia,já era atrevimento a mais,a comentar uma clamorosa contradição. Deixavam passar no crivo revistas de carácter brejeiro,mas mostravam-se extremamente severos com outras que de brejeiro nada tinham. O que ele foi dizer. Desta vez,foi caso para franzir o sobrolho. Acolheram,porém,agradavelmente,o ele ter aceitado um cargo de nomeação. Neste passo,levou forte de outro quadrante. Uma coisa dessas,nunca tinham imaginado. Acabaram,felizmente,por fechar os olhos,pois já havia gente a lastimar-se.
Enfim,cenas de ontem,e de hoje,cenas de sempre,sabe-se lá porquê. Coisas para entreter,que o tu e o eu não há meio de serem um só.
CULTURAS
Do antropologista Phiippe Descola. "O ocidente não deve impor a sua visão do mundo a outras culturas"."No fundo,a diversidade biológica e a cultural são o mesmo"."Há que parar essa louca carreira de ataques contra o meio ambiente". "Que cada dia amanhece para eles(os índios amazónicos) numa total virgindade".
Do EL PAÍS.COM
29/1/2009 09:56 h
Do EL PAÍS.COM
29/1/2009 09:56 h
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
O FUTURO A DEUS PERTENCE
"Hoje,os Estados-Providência já não encantam ninguém...". Isto,em Setembro de 2006. Isto,ainda há pouco. As surpresas da vida. Nada se pode dar
como certo,é bem certo,e muito menos o futuro,que só a Deus pertence,como é uso dizer.
como certo,é bem certo,e muito menos o futuro,que só a Deus pertence,como é uso dizer.
VERGONHA DO MUNDO
Leu-se,algures,serem os pobres o tesouro do mundo. Com a devida licença,apetece não concordar de todo. E dizer,antes,que os pobres são a vergonha do mundo. E,depois,em tão grande quantidade,que não se sabe como não se põem a chorar as pedras da calçada.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
UMA TRISTEZA
Estão a perder todo o capital de simpatia que tinham grangeado por todo o seu muito grande sofrimento de há umas dezenas de ano,e não só. É ,de facto,demasiado longo o seu caminho de dor,de perseguições,de cativeiros,de expulsões,vá-se lá saber bem porquê.
A sua vida,neste peregrinar sofrido,não tem sido nada fácil há que concordar. Mas têm sabido sempre resistir. E isso deve-se,em grande parte,senão totalmente,às suas inegáveis capacidades,claramente demonstradas na sua teimosa sobrevivência e na sua alta representação nas mais diversas actividades humanas.
Mas, agora,estão a deitar fora,como não precisassem delas,a compaixão,a admiração,a consideração,a simpatia suscitadas. Parece terem querido vingar-se do muito mal que lhes têm feito,ao longo do seu trajecto penoso.
Mas escolheram um alvo,aparentemente,frágil. Um povo que também tem passado muito,desde tempos remotos. Um povo que,aparentemente,não dispõe de semelhantes virtualidades. Um povo que esqueceria traumas,antigos ou recentes,caso uma mão amiga e sábia,ali à sua beira, se lhe estendesse, para o ajudar.
Assim,não vão ter paz nunca,um modo de dizer,que o futuro de ninguém é. Os ódios vão-se acumulando,espalhando,cavando,interiorizando,clamando vingança,esse subproduto não se sabe de quê. Não bastavam já as querelas do passado cruento.
Depois,estão prestando um mau,um péssimo serviço ao Deus em que dizem acreditar. Um Deus sempre em guerras,desde tempos imemoriais. Um Deus que devia ser de abraços,de Paz para sempre. Quem é que quererá ter um Deus assim?
Depois,ainda,estão a fornecer achas aos não crentes,sobretudo,aos não crentes militantes,que os há,não se sabe quantos,que,talvez,lhes agradeçam,lá no seu íntimo,porque não esperariam ter um aliado de tal estatura.
Uma triteza,pois,tudo isto,um tudo esmagador,um tudo com ares de tudo se perder,perder mesmo o DEUS ÚNICO, o DEUS PAI DE TODOS. UMA TRITEZA TUDO ISTO.
A sua vida,neste peregrinar sofrido,não tem sido nada fácil há que concordar. Mas têm sabido sempre resistir. E isso deve-se,em grande parte,senão totalmente,às suas inegáveis capacidades,claramente demonstradas na sua teimosa sobrevivência e na sua alta representação nas mais diversas actividades humanas.
Mas, agora,estão a deitar fora,como não precisassem delas,a compaixão,a admiração,a consideração,a simpatia suscitadas. Parece terem querido vingar-se do muito mal que lhes têm feito,ao longo do seu trajecto penoso.
Mas escolheram um alvo,aparentemente,frágil. Um povo que também tem passado muito,desde tempos remotos. Um povo que,aparentemente,não dispõe de semelhantes virtualidades. Um povo que esqueceria traumas,antigos ou recentes,caso uma mão amiga e sábia,ali à sua beira, se lhe estendesse, para o ajudar.
Assim,não vão ter paz nunca,um modo de dizer,que o futuro de ninguém é. Os ódios vão-se acumulando,espalhando,cavando,interiorizando,clamando vingança,esse subproduto não se sabe de quê. Não bastavam já as querelas do passado cruento.
Depois,estão prestando um mau,um péssimo serviço ao Deus em que dizem acreditar. Um Deus sempre em guerras,desde tempos imemoriais. Um Deus que devia ser de abraços,de Paz para sempre. Quem é que quererá ter um Deus assim?
Depois,ainda,estão a fornecer achas aos não crentes,sobretudo,aos não crentes militantes,que os há,não se sabe quantos,que,talvez,lhes agradeçam,lá no seu íntimo,porque não esperariam ter um aliado de tal estatura.
Uma triteza,pois,tudo isto,um tudo esmagador,um tudo com ares de tudo se perder,perder mesmo o DEUS ÚNICO, o DEUS PAI DE TODOS. UMA TRITEZA TUDO ISTO.
TEOLOGIA DO MERCADO
"O regresso anunciado do Estado promete uma correcção indispensável à teologia do mercado".
Adriano Moreira,"Diário de Notícias",27-1-2009
in PUBLICO.PT 27 Janeiro 2009 - 09h24
Adriano Moreira,"Diário de Notícias",27-1-2009
in PUBLICO.PT 27 Janeiro 2009 - 09h24
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
CASAS DE MOZART E HAYDN
FOME NO MUNDO
A FAO pede que se duplique a produção alimentar para reduzir a fome no mundo. A crise alimentar agravou-se em 2008 por via da subida dos preços em 2007. Depois,a actual crise financeira mundial acentuou a grave situação de falta de sustento. São de arripiar os frios números. De facto,calcula-se que rondem os mil milhões os que passam fome.
Notícia do El País,de 26/1/2009
Notícia do El País,de 26/1/2009
OS INADAPTADOS
Olha,aqui também há pobres. Coitado dele,ali sentado no chão da rua,a arranhar um violino,com um boné bem aberto,ali ao lado,para as moedas,que lá iam caindo,talvez num ritmo de que não estava gostando.
E aquele, a empurrar um carrinho de mão,meio desconjuntado,a abarrotar de trastes velhos? Coitado dele,também,que devia lá estar ainda em casa,que a neve estava caindo.
Parece impossível. Mas isto não são vidros,nas janelas. Isto são cartões,e já a romperem-se. Coitados deles,o frio que lá deve fazer dentro. Pois é,dizes bem. O pior é o resto.
E ali,naquela esquina,estão a ver? Uma menina,coitadinha,aí de uns dez anos,se tanto,mal vestidinha,a vender flores,ela que também era uma flor,de bonita que era,apsar de tudo.
Todos eles tinham um nome que os envolvia a todos. Eram os inadaptados,um lindo nome.
E aquele, a empurrar um carrinho de mão,meio desconjuntado,a abarrotar de trastes velhos? Coitado dele,também,que devia lá estar ainda em casa,que a neve estava caindo.
Parece impossível. Mas isto não são vidros,nas janelas. Isto são cartões,e já a romperem-se. Coitados deles,o frio que lá deve fazer dentro. Pois é,dizes bem. O pior é o resto.
E ali,naquela esquina,estão a ver? Uma menina,coitadinha,aí de uns dez anos,se tanto,mal vestidinha,a vender flores,ela que também era uma flor,de bonita que era,apsar de tudo.
Todos eles tinham um nome que os envolvia a todos. Eram os inadaptados,um lindo nome.
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Páginas de um caderno,
Por terras da Velha Albion
O FIM DA POBREZA
Titulo do livro de Jeffrey Sachs,de 2005,com prefácio do Pe. Vítor Melícias(edição portuguesa de 2006,da Casa das Letras).
Neste prefácio,lê-se: "Partilhando,por isso, a convicção de Jeff de que " num mundo onde alguns vivem em conforto e abundância,enquanto metade da raça humana subsiste com menos de dois dólares por dia,não é justo,nem estável",também acho que a segurança não se garante por meio de forças militares poderosas,mas pela humanização das relações e dos apoios às pessoas e aos povos que a pobreza e a doença empurram para o desespero".
Há propósitos para atenuar esta injustiça, esta situação explosiva,como se pode ver na Web:The end of poverty - Economic problems of one time.
O tempo de vacas magras que se abateu sobre meio mundo,mais exactamente sobre o mundo todo,é que parece não ser nada favorável,de momento,a esses propósitos,mas haja esperança. E que o desespero tenha paciência.
Neste prefácio,lê-se: "Partilhando,por isso, a convicção de Jeff de que " num mundo onde alguns vivem em conforto e abundância,enquanto metade da raça humana subsiste com menos de dois dólares por dia,não é justo,nem estável",também acho que a segurança não se garante por meio de forças militares poderosas,mas pela humanização das relações e dos apoios às pessoas e aos povos que a pobreza e a doença empurram para o desespero".
Há propósitos para atenuar esta injustiça, esta situação explosiva,como se pode ver na Web:The end of poverty - Economic problems of one time.
O tempo de vacas magras que se abateu sobre meio mundo,mais exactamente sobre o mundo todo,é que parece não ser nada favorável,de momento,a esses propósitos,mas haja esperança. E que o desespero tenha paciência.
domingo, 25 de janeiro de 2009
O JUGO
A liberdade os perdera, porque não a souberam usar. E,naquela altura,tinham o que mereciam. O jugo. Para a próxima vez... Não há mais vezes. Não vale apena. Não têm emenda. Só olham para si,para o seu umbigo,para o senhor seu umbigo,desde que se conhecem. O jugo.
BASTA
Primeiro eu,depois eu,e assim por diante. Quando eu mandar,é para parar. Sinal de que já estou satisfeito. Mas,talvez,não fique por aí. Eu,depois,quando me apetecer,mando avisar.
Depois de mim,o dilúvio. Quem cá ficar,que se amanhe. Que morra o meu pai,que é mais velho,ou,tanto faz,o meu filho,que é mais novo. Cada um que se governe,que já tem idade para isso. Se não conseguir,não venha para cá queixar-se.
A miséria que vai por aí,por esses muitos cantos deste pequeno-vasto mundo. Um horror. Quero lá saber. Fizessem como eu. Egoísmo. Puro? Quero lá saber. Primeiro eu,depois eu,e assim por diante. Já é descaramento. Ah,é? Não sabia.
Meia palavra basta. Basta.
Depois de mim,o dilúvio. Quem cá ficar,que se amanhe. Que morra o meu pai,que é mais velho,ou,tanto faz,o meu filho,que é mais novo. Cada um que se governe,que já tem idade para isso. Se não conseguir,não venha para cá queixar-se.
A miséria que vai por aí,por esses muitos cantos deste pequeno-vasto mundo. Um horror. Quero lá saber. Fizessem como eu. Egoísmo. Puro? Quero lá saber. Primeiro eu,depois eu,e assim por diante. Já é descaramento. Ah,é? Não sabia.
Meia palavra basta. Basta.
VINTE E UM ANOS
A moça sorria,encantada com a sua juventude. Que idade tem ela? Vinte e um,respondeu a mãe. Quem nos dera a nós,considerou a outra. E o tom vinha carregado de tristeza. Ainda era solteira com esses anos,e o tom continuou igual,talvez até mais triste. Saudades? Arrependimento?
A vida não lhe teria concretizado os sonhos. Os filhos,se calhar também os netos. Só canseiras. Se eu soubesse,quereriam transmitir os olhos magoados,a cara emagrecida,a cor pálida. Estaria convencida de que seria muito diferente? Igual,não desejaria,certamente,que fosse. Ilusões de quem não pára de sonhar. Mas o seu ar era de quem acabaria por trilhar as mesmas veredas,
nem melhores,nem piores. As mesmas. Não havia para onde fugir.
A casa lá está,e se for uma como deve ser andará com muita sorte. Os filhos aparecerão,com o cortejo obrigatório de gestos e passos de trabalho. As aflições com a saúde deles,o sustento,os estudos,de acordo com as posses,ou sabe-se lá mais de quê,permitirem. E depois,os namoros,as companhias,os empregos,talvez o casamento.
Onde se há-de ir arranjar o dinheiro? Um bom padrinho e uma boa madrinha é que vinham mesmo a calhar. Sempre podiam acudir em alturas decisivas,no encarreirar,que isto está difícil. E a seguir,mais um neto,ou dois,ou mais,que nunca se sabe.
Não sei para onde me he-de voltar. Todos precisam de mim e eu que não posso. Ando para aqui cheinha de achaques e nem tempo tenho para ir ao médico. As horas que lá perderia e eu que não posso faltar aqui e ali,senão como é que eles se arranjariam? Não têm recursos para amas e muito menos para creches. Deus me vá dando saúde,para bem deles,que eu para mim já nada espero.
O sorriso não abandonara a cara da moça. Tinha o futuro à sua frente e vê-lo-ia cor de rosa. Para quê pensar em precupações? Guardava-as para mais tarde. Quando viessem,logo se veria.
A vida não lhe teria concretizado os sonhos. Os filhos,se calhar também os netos. Só canseiras. Se eu soubesse,quereriam transmitir os olhos magoados,a cara emagrecida,a cor pálida. Estaria convencida de que seria muito diferente? Igual,não desejaria,certamente,que fosse. Ilusões de quem não pára de sonhar. Mas o seu ar era de quem acabaria por trilhar as mesmas veredas,
nem melhores,nem piores. As mesmas. Não havia para onde fugir.
A casa lá está,e se for uma como deve ser andará com muita sorte. Os filhos aparecerão,com o cortejo obrigatório de gestos e passos de trabalho. As aflições com a saúde deles,o sustento,os estudos,de acordo com as posses,ou sabe-se lá mais de quê,permitirem. E depois,os namoros,as companhias,os empregos,talvez o casamento.
Onde se há-de ir arranjar o dinheiro? Um bom padrinho e uma boa madrinha é que vinham mesmo a calhar. Sempre podiam acudir em alturas decisivas,no encarreirar,que isto está difícil. E a seguir,mais um neto,ou dois,ou mais,que nunca se sabe.
Não sei para onde me he-de voltar. Todos precisam de mim e eu que não posso. Ando para aqui cheinha de achaques e nem tempo tenho para ir ao médico. As horas que lá perderia e eu que não posso faltar aqui e ali,senão como é que eles se arranjariam? Não têm recursos para amas e muito menos para creches. Deus me vá dando saúde,para bem deles,que eu para mim já nada espero.
O sorriso não abandonara a cara da moça. Tinha o futuro à sua frente e vê-lo-ia cor de rosa. Para quê pensar em precupações? Guardava-as para mais tarde. Quando viessem,logo se veria.
THE COMMONS NÃO PÁRA
A Galeria de New York Public Library é a décima sétima das dezoito adesões ao projecto conjunto do Flickr e da Congress Library.
Um mundo de imagens dos mais diversos campos. Arts & Literature. Cities & Buildings. Culture & Society. History & Geography. Industry &Technology. Nature & Science. Printing & Graphics. De esmagar.
A décima oitava é a Galeria de National Galleries of Scotland. Outro encanto para os olhos,e não só.
Um mundo de imagens dos mais diversos campos. Arts & Literature. Cities & Buildings. Culture & Society. History & Geography. Industry &Technology. Nature & Science. Printing & Graphics. De esmagar.
A décima oitava é a Galeria de National Galleries of Scotland. Outro encanto para os olhos,e não só.
sábado, 24 de janeiro de 2009
COISAS
Era aquilo um grande exagero. É que o espaço reservado às referências bibliográficas ultrapassava o do escrito propriamente dito. O costume. Lombada grossa é que sim,o resto não vale nada. Não têm fólego e depois,é o que se vê.
Não seria o primeiro a proceder assim,nem seria o último,está bem de se pensar. E foi o que se apontou,mas mais ainda. O pecado de omissão era largamente praticado. Tal como estava,
parecia ter havido ali grande descoberta,o que não era o caso,longe disso. Só que não se estava interessado em mostrá-lo,embora não se perdesse grande coisa. Coisas.
Não seria o primeiro a proceder assim,nem seria o último,está bem de se pensar. E foi o que se apontou,mas mais ainda. O pecado de omissão era largamente praticado. Tal como estava,
parecia ter havido ali grande descoberta,o que não era o caso,longe disso. Só que não se estava interessado em mostrá-lo,embora não se perdesse grande coisa. Coisas.
TESTEMUNHA
Para que estava ele guardado,nem mais,nem menos,para testemunha de defesa,num caso muito sério,muito complicado. Ora diga lá o que tem a apresentar em defesa do réu que aqui está a ser julgado. E o que ele contou indicava,claramente,que acusação não tinha fundamento. O réu nunca podia ter dito mal do produto em causa pela simples razão de ser ele o seu único representante. E mais ainda. Ao contrário do que constava,mas erradamente,o réu ainda o exaltou,o que tinha a sua justificação.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
UMA PALAVRINHA
Ele não esperava,coitado,aquela abordagem de um estranho. Que quererá este fora de moda,de sobretudo e o mais a condizer? Bem,vamos lá ter paciência e saber o que ele quer,mas para mim vem de carrinho,que eu tenho mais que fazer.
Desculpe,mas é só para uma palavrinha. É que o tenho observado,uma vez por outra,quando calha e a situação desperta,nas suas intermináveis,teimosas,longas andanças. O senhor,tudo somado,já teria dado a volta ao mundo. E sabe,invejo-lhe a resistência,tanto mais que se não pode dizer que seja um jovem,invejo-lhe,sobretudo,essas cores de saúde para dar e vender. O senhor é capaz de aturar até aos duzentos,ou mais.
Ele sorriu,ele ouviu,pacientemente,com a atenção possível,porque por ali havia muito movimento,e além disso,não estava nada acostumado àquela linguagem,de salamaleques,de palavras caras.
E por ali se ficou. À despedida,ele pousou a sua mão direita,delicadamente,no braço do outro,em quem nunca reparara,pois tinha mais para onde olhar,agradeceu,e lá foi para mais outra passeata de se lhe tirar o chapéu.
Desculpe,mas é só para uma palavrinha. É que o tenho observado,uma vez por outra,quando calha e a situação desperta,nas suas intermináveis,teimosas,longas andanças. O senhor,tudo somado,já teria dado a volta ao mundo. E sabe,invejo-lhe a resistência,tanto mais que se não pode dizer que seja um jovem,invejo-lhe,sobretudo,essas cores de saúde para dar e vender. O senhor é capaz de aturar até aos duzentos,ou mais.
Ele sorriu,ele ouviu,pacientemente,com a atenção possível,porque por ali havia muito movimento,e além disso,não estava nada acostumado àquela linguagem,de salamaleques,de palavras caras.
E por ali se ficou. À despedida,ele pousou a sua mão direita,delicadamente,no braço do outro,em quem nunca reparara,pois tinha mais para onde olhar,agradeceu,e lá foi para mais outra passeata de se lhe tirar o chapéu.
DA FÁBRICA QUE FALECE A CIDADE DE LISBOA
Author:Hollanda,Francisco de ,1517-1584.
Title: I trattati d'arte/ a cura di Grazia Madroni.
Published: Livorno: Silabe,2003.
Notes: Italian translation of: Da pintura antiga,Diálogos em Roma,Da fábrica que falece a cidade de Lisboa,Da ciência do desenho.
Na Biblioteca da Universidade de Harvard,EUA.
FRANCISCO DE HOLANDA
pintor,iluminador,arquitecto e escritor,filho de um iluminador e pintor flamengo estabelecido em Portugal,nasceu cerca de 1518 e morreu em 1584....
ANTÓNIO SÉRGIO
Prosa Doutrinal de Autores Portugueses
Portugália
1965
Title: I trattati d'arte/ a cura di Grazia Madroni.
Published: Livorno: Silabe,2003.
Notes: Italian translation of: Da pintura antiga,Diálogos em Roma,Da fábrica que falece a cidade de Lisboa,Da ciência do desenho.
Na Biblioteca da Universidade de Harvard,EUA.
FRANCISCO DE HOLANDA
pintor,iluminador,arquitecto e escritor,filho de um iluminador e pintor flamengo estabelecido em Portugal,nasceu cerca de 1518 e morreu em 1584....
ANTÓNIO SÉRGIO
Prosa Doutrinal de Autores Portugueses
Portugália
1965
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
A MARINHAGEM
A veemência que ia por ali. A verdade tinha de ser dita,de uma vez por todas,para que se fizesse a devida justiça,para que se apontassem os verdadeiros heróis. E era o que ele iria fazer,o que já não era sem tempo.
Pois não foram os capitães das caravelas que dobraram cabos,que afrontaram o desconhecido,que venceram medos,que descobriram,que lá aportaram,sujeitos a mil e um perigos. Nada disso. Foi precisamente como eu vou dizer. E aprumou-se,que a ocasião o pedia. Foram outros,e está-se mesmo a ver quem foram,escusava eu de estar para aqui a declará-lo,ainda que com muito prazer,que é disto que eu sei,como o tenho mostrado imensas vezes,com geral agrado,aliás.
Pois quem havia de ser? Uma caravela tem muito que se lhe diga. Uma caravela para ir por esses mares fora,por esses traiçoeiros mares, além do vento,que sem ele nada feito,precisa, como de pão para a boca,de braços muito fortes,de braços muito rudes,habituados a todas as canseiras,algumas quase sobrehumanas.
Onde estavam eles,esses braços heróicos? Nos capitães das caravelas? Uns dirão que sim,e lá terão as suas razões. Eu não lhes nego valor,seria o primeiro a afirmá-lo. Eram eles que comandavam,que tinham de ter pulso firme para manter a disciplina,que tinham de tomar decisões,algumas de grande risco. Mas,coitados,que seria deles,das caravelas,se não fosse a marinhagem? Estavam bem arranjados,eles e elas,talvez nem chegassem a partir,quanto mais lá chegarem.
Pois está-se mesmo a ver. Quem verdadeiramente foi por essas tenebrosas águas,infestadas de mostrengos,águas muitas vezes revoltas,alterosas,quem dobrou esses cabos horrendos,quem aportou a essas novas terras desconhecidas de muitos,quem lhes veio dar novas delas,foi essa brava marinhagem.Não sendo ela,quem é que havia de ser? E todo ele se empertigava,
se acalorava,muito certo da sua certeza.
Assim,é a ela,a essa marinhagem três vezes heróica ,que se deve prestar as maiores honras,pelos altíssimos feitos cometidos.
Pois não foram os capitães das caravelas que dobraram cabos,que afrontaram o desconhecido,que venceram medos,que descobriram,que lá aportaram,sujeitos a mil e um perigos. Nada disso. Foi precisamente como eu vou dizer. E aprumou-se,que a ocasião o pedia. Foram outros,e está-se mesmo a ver quem foram,escusava eu de estar para aqui a declará-lo,ainda que com muito prazer,que é disto que eu sei,como o tenho mostrado imensas vezes,com geral agrado,aliás.
Pois quem havia de ser? Uma caravela tem muito que se lhe diga. Uma caravela para ir por esses mares fora,por esses traiçoeiros mares, além do vento,que sem ele nada feito,precisa, como de pão para a boca,de braços muito fortes,de braços muito rudes,habituados a todas as canseiras,algumas quase sobrehumanas.
Onde estavam eles,esses braços heróicos? Nos capitães das caravelas? Uns dirão que sim,e lá terão as suas razões. Eu não lhes nego valor,seria o primeiro a afirmá-lo. Eram eles que comandavam,que tinham de ter pulso firme para manter a disciplina,que tinham de tomar decisões,algumas de grande risco. Mas,coitados,que seria deles,das caravelas,se não fosse a marinhagem? Estavam bem arranjados,eles e elas,talvez nem chegassem a partir,quanto mais lá chegarem.
Pois está-se mesmo a ver. Quem verdadeiramente foi por essas tenebrosas águas,infestadas de mostrengos,águas muitas vezes revoltas,alterosas,quem dobrou esses cabos horrendos,quem aportou a essas novas terras desconhecidas de muitos,quem lhes veio dar novas delas,foi essa brava marinhagem.Não sendo ela,quem é que havia de ser? E todo ele se empertigava,
se acalorava,muito certo da sua certeza.
Assim,é a ela,a essa marinhagem três vezes heróica ,que se deve prestar as maiores honras,pelos altíssimos feitos cometidos.
DIÁLOGOS EM ROMA
Author: Hollanda,Francisco de
Title: Quatro diálogos da pintura antiga. English.
Title: Diálogos em Roma(1538): conversations on art with Michelangelo Buonarrotti/Francisco de Hollanda;edited by Grazia Dolores Folliero - Metz;with a preface by Wolfgang Drost.
Published:Heidelberg:Winter,1998.
Na Biblioteca da Universidade de Harvard,USA.
Francisco de Holanda
pintor,iluminador,arquitecto e escritor,filho de um iluminador e pintor flamengo estabelecido em Portugal,nasceu cerca de 1518 e morreu em 1584....
ANTÓNIO SÉRGIO
Prosa Doutrinal de Autores Portugueses
Portugália
1965
Title: Quatro diálogos da pintura antiga. English.
Title: Diálogos em Roma(1538): conversations on art with Michelangelo Buonarrotti/Francisco de Hollanda;edited by Grazia Dolores Folliero - Metz;with a preface by Wolfgang Drost.
Published:Heidelberg:Winter,1998.
Na Biblioteca da Universidade de Harvard,USA.
Francisco de Holanda
pintor,iluminador,arquitecto e escritor,filho de um iluminador e pintor flamengo estabelecido em Portugal,nasceu cerca de 1518 e morreu em 1584....
ANTÓNIO SÉRGIO
Prosa Doutrinal de Autores Portugueses
Portugália
1965
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
GLACIAR DO KILIMANJARO - TANZÂNIA
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NAS BIBLIOTECAS DAS UNIVERSIDADES DE HARVARD E YALE (EUA)
António Nunes Ribeiro Sanches 13 e 5
Armando Cortesão 38 e 20
Damião Peres 45 e 17
Francisco de Holanda 19 e 10
Joel Serrão 42 e 31
José Agostinho de Macedo 118 e 6
José Pedro Machado 27 e 23
Luciano Cordeiro 30 e 14
Luís de Albuquerque 74 e 35
Luís António Verney 6 e 4
Mário Tavares Chicó 4 e 8
Orlando Ribeiro 30 e 12
Armando Cortesão 38 e 20
Damião Peres 45 e 17
Francisco de Holanda 19 e 10
Joel Serrão 42 e 31
José Agostinho de Macedo 118 e 6
José Pedro Machado 27 e 23
Luciano Cordeiro 30 e 14
Luís de Albuquerque 74 e 35
Luís António Verney 6 e 4
Mário Tavares Chicó 4 e 8
Orlando Ribeiro 30 e 12
ABSORÇÃO DO CO2 PELOS OCEANOS
Um ensaio de fertilização com sulfato de ferro,em pleno oceano,mais exactamente no sudoeste atlântico,iniciado em 7 de Janeiro deste ano,ir-se-á prolongar até 17 de Março. É uma iniciativa conjunta da Índia e da Alemanha,que disponobiliza o navio Polarstern. Estão envolvidos 48 cientistas: Índia(29), Alemanha(10),Itália(3),Espanha(2),Reino Unido(2),França(1),Chile(1).
Da Web - National Institut of Oceanography,India
Da Web - National Institut of Oceanography,India
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
RICO VINHO
Eram dois homens altos,a tirar para o seco,aí de uns quarenta anos,de cabelo muito louro. Tinham vindo lá de terras da velha Albion. Estavam naquela altura,já lá vão uns bons anos, bem no interior alentejano. Trouxera-os o serem eles técnicos especilizados em certo tipo de maquinaria,que uma nova fábrica iria utilizar.
Por lá andavam,desde manhã cedo,que o tempo,muito quente,assim aconselhava,regressando a casa,a pensão lá da vila,pela tardinha. Nunca se lhes vira comer do que quer que fosse,mas de beber é que sim.
A sorte que eles tiveram,ali instalados em pleno centro de uma região produtora de um rico vinho. Lá para os seus botões devem ter dito o mesmo. Que sorte tivémos nós. Pena era não ficarem ali para sempre,mas não podia ser. Nunca teriam sonhado com um paraíso daqueles. Seriam capazes de lá ter voltado,em tempo de férias,para matar sede e saudades.
Como era de esperar,a bebida estava primeiro,mas também em segundo e em terceiro. Deve dizer-se,porém,em abono da verdade,que nunca foram vistos fazendo disparates. Teriam vindo já bem preparados,já que os líquidos da sua aprendizagem tinham muito mais graduação.
Por lá andavam,desde manhã cedo,que o tempo,muito quente,assim aconselhava,regressando a casa,a pensão lá da vila,pela tardinha. Nunca se lhes vira comer do que quer que fosse,mas de beber é que sim.
A sorte que eles tiveram,ali instalados em pleno centro de uma região produtora de um rico vinho. Lá para os seus botões devem ter dito o mesmo. Que sorte tivémos nós. Pena era não ficarem ali para sempre,mas não podia ser. Nunca teriam sonhado com um paraíso daqueles. Seriam capazes de lá ter voltado,em tempo de férias,para matar sede e saudades.
Como era de esperar,a bebida estava primeiro,mas também em segundo e em terceiro. Deve dizer-se,porém,em abono da verdade,que nunca foram vistos fazendo disparates. Teriam vindo já bem preparados,já que os líquidos da sua aprendizagem tinham muito mais graduação.
VAIDADE
Finalmente,já não era sem tempo. O alívio que vai por aí. É que acabara de ser anunciada,depois de uma eternidade de expectativa,a descoberta de um grande enigma,nada mais,nada menos,o porquê de um provérbio misterioso,fruto da sagacidade do sábio povo,o preso por ter cão,e preso por não o ter,aplicado a tudo e mais alguma coisa,cães,incluídos,como é de justiça,obviamente.
É que a polícia não suporta,não pode com vaidosos.Ela não sabe explicar bem porque tal sucede. Uma coisa,porém, sabe a polícia, e é que os vaidosos,além de ela os não suportar,causam-lhe doença,e isso, nunca,que é o que ninguém quer.
E assim,como vaidosos são os que cão têm, e vaidosos também os que não o têm,a polícia,
justamente, todos prende,numa tentativa,certamente infutífera,de os curar da vaidade.
É que a polícia não suporta,não pode com vaidosos.Ela não sabe explicar bem porque tal sucede. Uma coisa,porém, sabe a polícia, e é que os vaidosos,além de ela os não suportar,causam-lhe doença,e isso, nunca,que é o que ninguém quer.
E assim,como vaidosos são os que cão têm, e vaidosos também os que não o têm,a polícia,
justamente, todos prende,numa tentativa,certamente infutífera,de os curar da vaidade.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
DORMEM MELHOR
Estão lá num canto,muito sossegadinhos,sem articular palavra, sem emitir um som sequer,totalmente mudos,de olhos bem abertos,de ouvidos bem limpos,a observar apenas. Não perdem um termo que ele diga,uma frase que ele profira,à espera de um deslise.
Que diabo,ninguém é perfeito,e muito menos ele. Há que ter paciência,que a nossa hora há-de chegar,não me chame eu José,ou eu Maria. Era o que faltava perdermos aqui o nosso riquinho tempo,que tanto dinheiro é,para não colhermos nada.
E um dia,chega sempre um dia,o que é preciso é ter fé,muita fé,acontece o que há muito era apetecido. Ele cometeu um grave erro,um erro imperdoável,a necessitar a devida punição. Não interessa saber que erro é,basta nós dizermos que ele o fez. Um dia,tinha de dar bronca,e da grossa,e repetem,repetem até à exaustão.
E riem-se,e gozam,e espalham,chegam até a escrever,em grandes parangonas,que ele errou,espalhou-se,o que era de esperar,tratando-se de quem era. E naquela noite,e nas seguintes,dormem melhor,chegando mesmo a sonhar com ele a errar para sempre.
Que diabo,ninguém é perfeito,e muito menos ele. Há que ter paciência,que a nossa hora há-de chegar,não me chame eu José,ou eu Maria. Era o que faltava perdermos aqui o nosso riquinho tempo,que tanto dinheiro é,para não colhermos nada.
E um dia,chega sempre um dia,o que é preciso é ter fé,muita fé,acontece o que há muito era apetecido. Ele cometeu um grave erro,um erro imperdoável,a necessitar a devida punição. Não interessa saber que erro é,basta nós dizermos que ele o fez. Um dia,tinha de dar bronca,e da grossa,e repetem,repetem até à exaustão.
E riem-se,e gozam,e espalham,chegam até a escrever,em grandes parangonas,que ele errou,espalhou-se,o que era de esperar,tratando-se de quem era. E naquela noite,e nas seguintes,dormem melhor,chegando mesmo a sonhar com ele a errar para sempre.
domingo, 18 de janeiro de 2009
COLHEITA DE UM DIA - III
O que um simples pedido pode originar. Não se importa de cortar aqui estas folhas? Não,não me importo,até o faço de boa vontade. É que eu gosto de destruir,gosto de destruir. Não imagina.
Não parecia uma saída a propósito. Não se tratava,de facto,de uma destruição,longe disso,
mas,antes,uma mera eliminação,uma coisa sem importância. E tanto o que fez o pedido,como quem o satisfez,tinham disso a exacta noção.
Mas o calor,a ênfase,a repetição,a alegria,até,posta naquele manifesto gosto de destruir,impressionou. E aquelo gosto,assim tão veemente, parecia estar a pedir um esclarecimento. Que queria ela destruir,assim?
Era ela um jovem cheia de vida,uma força da natureza. Era uma jovem que pedia criação,e não destruição.
Não parecia uma saída a propósito. Não se tratava,de facto,de uma destruição,longe disso,
mas,antes,uma mera eliminação,uma coisa sem importância. E tanto o que fez o pedido,como quem o satisfez,tinham disso a exacta noção.
Mas o calor,a ênfase,a repetição,a alegria,até,posta naquele manifesto gosto de destruir,impressionou. E aquelo gosto,assim tão veemente, parecia estar a pedir um esclarecimento. Que queria ela destruir,assim?
Era ela um jovem cheia de vida,uma força da natureza. Era uma jovem que pedia criação,e não destruição.
COLHEITA DE UM DIA - II
Sim,dê-me esse,esse aí ao canto, o que está mais queimadinho. É dos que eu mais gosto. E os seus olhos luziam,e a sua cara luzia. Era um modesto folhado de queijo. Uma coisa banal,uma coisa singela, o que está,pois,aqui,a ser lembrado.
Já não era a primeira vez que isso sucedia,era a repetição do que tinha sucedido,já se não sabia quantas vezes. O que se sabia é que se passava isto mais ou menos à mesma hora,precisamente aí pelo meio-dia,a hora do almocinho.
Seria ele sozinho lá em casa. Já não era novo,longe disso. O dinheirinho não daria para mais. Também ,com a idade que tinha,já não precisava de se atafulhar.
Um folhado de queijo,um almoço,pois,baratinho. À medida da sua bolsa. Todos os dias. Porque não? Também se come pão todos os dias. Mas pão não levava. Dispensá-lo-ia. O folhado,de algum modo o continha. Seria também o seu pão.
E se o senhor fosse rico? E se o senhor fosse um avarento? Lá se tinha de inventar outra história.
Já não era a primeira vez que isso sucedia,era a repetição do que tinha sucedido,já se não sabia quantas vezes. O que se sabia é que se passava isto mais ou menos à mesma hora,precisamente aí pelo meio-dia,a hora do almocinho.
Seria ele sozinho lá em casa. Já não era novo,longe disso. O dinheirinho não daria para mais. Também ,com a idade que tinha,já não precisava de se atafulhar.
Um folhado de queijo,um almoço,pois,baratinho. À medida da sua bolsa. Todos os dias. Porque não? Também se come pão todos os dias. Mas pão não levava. Dispensá-lo-ia. O folhado,de algum modo o continha. Seria também o seu pão.
E se o senhor fosse rico? E se o senhor fosse um avarento? Lá se tinha de inventar outra história.
COLHEITA DE UM DIA - I
Os meus homens,os meus funcionários,os meus pobres. Estes três meus,e outros da mesma espécie,alguém os pode ver envolvidos numa sugestão de posse,porventura de uma posse quase absoluta. Os meus...
Têm eles um nome,os possuídos,são eles pessoas,mas,acima de tudo,são eles de alguém,que a eles se referem quando é caso disso,ou mesmo não vindo para o caso. São meus,muito meus,e de mais ninguém.
Ao fim e ao cabo,dependem de alguém. Manda neles,quer sejam homens,funcionários,pobres. Fará o que deles quiser? Deixá-los-à a pão e água? Castigá-los-à,com um castigo que só ele lá sabe? Despedilos-á quando bem entender?
Tudo perguntas pertinentes dirigidas a quem costuma usar meus para designar certos homens, certos funcionários,certos pobres.
Têm eles um nome,os possuídos,são eles pessoas,mas,acima de tudo,são eles de alguém,que a eles se referem quando é caso disso,ou mesmo não vindo para o caso. São meus,muito meus,e de mais ninguém.
Ao fim e ao cabo,dependem de alguém. Manda neles,quer sejam homens,funcionários,pobres. Fará o que deles quiser? Deixá-los-à a pão e água? Castigá-los-à,com um castigo que só ele lá sabe? Despedilos-á quando bem entender?
Tudo perguntas pertinentes dirigidas a quem costuma usar meus para designar certos homens, certos funcionários,certos pobres.
sábado, 17 de janeiro de 2009
GRANDE DESGRAÇA
Ele não queria acreditar no que estava a ler. À semelhança do que é vulgar ver,aqui e ali,em escritos deste e daquele,para estender,para encher mais umas linhas com coisas sem importância,esfregou os olhos,não estivesse ainda a dormir e o que acabara de ler fizesse parte de um sonho,ou pior,de um pesadelo,daqueles de arrasar.
Mas que grande desgraça se isso vier a acontecer,que grande desgraça,minha nossa senhora. Mas o que é, homem de Deus?,desembucha,de uma vez,que já me estás aqui a pôr muito ralada,porque essa desgraça é capaz de me tocar também a mim. Oh mulher,é que está aqui escrito com todas as letras,como a fogo,que o Estado-Providência está por um fio. Por um fio,estás a ouvir? O que vai ser de nós? Acertaste,pois também te toca a ti.
Quem o diz é pessoa muito inteirada nestas coisas,pois anda lá pelas alturas,onde elas se arranjam. Querem lá saber dos pobres. Falam deles,falam,mas aquilo é só conversa fiada. Por um fio. Tenho cá a impressão que até desejariam que esse estado tivesse já ido para sempre,que não fazia cá falta nenhuma. O que gostam é de dar com gente que não sabe o que há-de fazer à vida,gente desesperada,feitos náufragos,que se agarram à primeira mão que lhes apareça com uma esmola.
Uma esmola. Coisa bonita,não é?,uma esmola. Põe o que a recebe em situação de continuar a precisar dela e o outro,que a dá,muito satisfeito por dela não precisar. Lindo. Mas já pensaste,mulher,como ficará a dignidade do que pede,ou não pedindo,aceita? Nunca mais esquecerá aquela mácula,que o marcou para sempre,a fogo.
Mas alegra-te,mulher,o Estado-Providência não acabou ainda,esta aí vivo,como não tivesse estado para morrer,que era o que muitos queriam,e tudo faziam para isso. Está aí bem vivo. Está mesmo a necessitar dele quem dele nem sequer vê-lo queria.
Mas mulher,quer-me cá parecer que isto não vai ficar assim,infelizmente, para mal de muitos,para a maioria,afinal,dos que povoam este pequeno-vasto mundo. Era bom,era. Deve estar para aí muita cabeça a congeminar,a arquitectar. Isto não vai ficar assim,isto não pode ficar assim. Só o que me admira,mulher,com tanta boa cabeça que há para aí,como é que,de repente,a coisa deu-se. Ele há mesmo casos muito,muito estranhos. O que virá aí? Olha,só DEUS nos pode valer,os que precisam do Estado-Providência. Sem ele,será uma grande desgraça. Será o voltar às bichas,em portas de casas ricas e em portas de quartéis.
Mas que grande desgraça se isso vier a acontecer,que grande desgraça,minha nossa senhora. Mas o que é, homem de Deus?,desembucha,de uma vez,que já me estás aqui a pôr muito ralada,porque essa desgraça é capaz de me tocar também a mim. Oh mulher,é que está aqui escrito com todas as letras,como a fogo,que o Estado-Providência está por um fio. Por um fio,estás a ouvir? O que vai ser de nós? Acertaste,pois também te toca a ti.
Quem o diz é pessoa muito inteirada nestas coisas,pois anda lá pelas alturas,onde elas se arranjam. Querem lá saber dos pobres. Falam deles,falam,mas aquilo é só conversa fiada. Por um fio. Tenho cá a impressão que até desejariam que esse estado tivesse já ido para sempre,que não fazia cá falta nenhuma. O que gostam é de dar com gente que não sabe o que há-de fazer à vida,gente desesperada,feitos náufragos,que se agarram à primeira mão que lhes apareça com uma esmola.
Uma esmola. Coisa bonita,não é?,uma esmola. Põe o que a recebe em situação de continuar a precisar dela e o outro,que a dá,muito satisfeito por dela não precisar. Lindo. Mas já pensaste,mulher,como ficará a dignidade do que pede,ou não pedindo,aceita? Nunca mais esquecerá aquela mácula,que o marcou para sempre,a fogo.
Mas alegra-te,mulher,o Estado-Providência não acabou ainda,esta aí vivo,como não tivesse estado para morrer,que era o que muitos queriam,e tudo faziam para isso. Está aí bem vivo. Está mesmo a necessitar dele quem dele nem sequer vê-lo queria.
Mas mulher,quer-me cá parecer que isto não vai ficar assim,infelizmente, para mal de muitos,para a maioria,afinal,dos que povoam este pequeno-vasto mundo. Era bom,era. Deve estar para aí muita cabeça a congeminar,a arquitectar. Isto não vai ficar assim,isto não pode ficar assim. Só o que me admira,mulher,com tanta boa cabeça que há para aí,como é que,de repente,a coisa deu-se. Ele há mesmo casos muito,muito estranhos. O que virá aí? Olha,só DEUS nos pode valer,os que precisam do Estado-Providência. Sem ele,será uma grande desgraça. Será o voltar às bichas,em portas de casas ricas e em portas de quartéis.
"COSMIC RELIGION"
"The religion of the future will be a cosmic religion. It should transcend personal God and avoid dogma and theology."
É o que terá dito Albert Einstein.
Da Web: Albert Einstein Quotes on God,Religion,Theology
É o que terá dito Albert Einstein.
Da Web: Albert Einstein Quotes on God,Religion,Theology
A COR DA ESPERANÇA
"Eu não sei se sou ecologista. O que lhe posso dizer é que levei anos interessado em relações
solo-planta. O que eu gosto de verde. Gostava,até,de ver a Terra toda coberta de verde,por todas as razões,incluindo a de ser verde a cor da esperança."
Um anónimo
solo-planta. O que eu gosto de verde. Gostava,até,de ver a Terra toda coberta de verde,por todas as razões,incluindo a de ser verde a cor da esperança."
Um anónimo
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
UM REGALO
Era como que um outro "monte" aquele maneirinho cemitério,ali perdido no meio de montados e mais montados. Também tinha merecido cara lavada. Parecia,até, que a cal,azul e branca,fora lá posta de véspera. Assim se pintavam todos os "montes" ali em redor. E também estava lá num alto,mais próximo do céu,que ele ali representava.
Mas era mais feliz que os "montes" seus vizinhos,pelo menos naquela tarde de abrasar. É que lhe batia uma aragem leve,fresquinha,vinda de um tapete de água,que ali perto se estendia,quase à sua medida,de maneirinho que também era.
Muito raramente as suas portas se abririam. Por isso,como que para ali estava abandonado. Naquela altura,podia dizer-se,apenas as cigarras,formigas e outros que tais,tirando um ou outro nómada,lhe faziam companhia.
Viveria conformado o maneirinho cemitério. Não se esqueciam dele,pois,de vez em a quando,lá o vinham tratar,cuidando da sua roupa. Depois,tinha ali aquele tapete,quase a molhar-lhe os pés,um regalo em dias de sol de torrar,como naquela tarde.
Mas era mais feliz que os "montes" seus vizinhos,pelo menos naquela tarde de abrasar. É que lhe batia uma aragem leve,fresquinha,vinda de um tapete de água,que ali perto se estendia,quase à sua medida,de maneirinho que também era.
Muito raramente as suas portas se abririam. Por isso,como que para ali estava abandonado. Naquela altura,podia dizer-se,apenas as cigarras,formigas e outros que tais,tirando um ou outro nómada,lhe faziam companhia.
Viveria conformado o maneirinho cemitério. Não se esqueciam dele,pois,de vez em a quando,lá o vinham tratar,cuidando da sua roupa. Depois,tinha ali aquele tapete,quase a molhar-lhe os pés,um regalo em dias de sol de torrar,como naquela tarde.
BASTA YA!
Um apelo do ex-presidente do Chile,Ricardo Lagos,e actual presidente do Clube de Madrid-
"Basta ya! Empecemos con Gaza y empecemos ahora".
Em El País,de 16 de Janeiro de 2009
"Basta ya! Empecemos con Gaza y empecemos ahora".
Em El País,de 16 de Janeiro de 2009
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
COLECÇÃO
Não resta dúvida alguma,este é um mundo sempre muito senhor do seu nariz,do seu umbigo. Assim,entregue a si mesmo, não vai lá,onde podia,onde devia ir. Tem sido feito prova disso um número incontável de vezes,ao longo de milénios. É um mundo,tal como está,como é,afinal,talvez sem emenda,a contar com as suas próprias forças. Só DEUS intervindo. E é o que tem de ser feito,pelo andar das coisas,o mais depressa possível,se é que ELE o quer continuar a ter na SUA colecção.
CATURRAS
Quando o inimigo,ou lá como se queira chamar,o outro,o fulano que já devia ter marchado,não estar lá onde está,não ser o que é,um fulano que incomoda,porque ainda respira,é fraco,não vale um tostão,a tendência é ignorá-lo,fazer tábua rasa dele,deixá-lo lá a fazer o que ele quer,desde que não incomode.
Mas quando ele é forte,ou está forte,no entender deles,dos que não o podem ver,tolerar,é de bom tom inquietá-lo,atirar-lhe tudo quanto lhes vem às mãos,pedrinhas,pedras,pedregulhos,coisas assim,para magoar. Mostra isso coragem,muita coragem,virilidade. Mas é isso lógico,porque querem ser como ele,ou estarem lá onde ele está.
Para quê? Não se lembrarão que também têm inimigos,e que assim,mal se instalem,passam a ser eles os alvos das pedrinhas,das pedras,dos pedregulhos? É mesmo de caturras.
Mas quando ele é forte,ou está forte,no entender deles,dos que não o podem ver,tolerar,é de bom tom inquietá-lo,atirar-lhe tudo quanto lhes vem às mãos,pedrinhas,pedras,pedregulhos,coisas assim,para magoar. Mostra isso coragem,muita coragem,virilidade. Mas é isso lógico,porque querem ser como ele,ou estarem lá onde ele está.
Para quê? Não se lembrarão que também têm inimigos,e que assim,mal se instalem,passam a ser eles os alvos das pedrinhas,das pedras,dos pedregulhos? É mesmo de caturras.
REGAÇO DO CHÃO
Há mesmo coisas do arco da velha,coisas de muito pasmar. Do que se haviam de lembrar. O senhor morrera,coitado,ou não,sabe-se lá. Morrera,chegara a sua vez,chegara a hora de ir descansar. Era bom de dizer,mas a família é que não estava para ali virada.
E assim,antes de o enterrarem,antes de o pôrem lá no regaço do chão a ele destinado,onde,finalmente,repousaria,depois de muitos anos a penar,obrigaram aquele pobre corpo a fazer uma viagem,em condiçóes que não lembraria ao diabo mais diabo. Mal o apanharam morto,pegaram nele,sairam de casa,meteram-se no elevador,desceram escadas,enfiaram-no num carro,e ali foram,estrada fora,umas boas dezenas de quilómetros.
Lá chegados,aí sim,arranjaram as coisas para o morto,poder,finalmente repousar. Pode -se imaginar o que foi aquele passeio,mesmo para o morto,sabe-se lá. Não viera autoridade para o afirmar. Sabe-se lá se estava mesmo morto. E depois,porque tal procedimento não comum? Não eram uns pobres diabos,muito longe disso. Há mesmo coisas do arco da velha,coisas de muito pasmar.
E assim,antes de o enterrarem,antes de o pôrem lá no regaço do chão a ele destinado,onde,finalmente,repousaria,depois de muitos anos a penar,obrigaram aquele pobre corpo a fazer uma viagem,em condiçóes que não lembraria ao diabo mais diabo. Mal o apanharam morto,pegaram nele,sairam de casa,meteram-se no elevador,desceram escadas,enfiaram-no num carro,e ali foram,estrada fora,umas boas dezenas de quilómetros.
Lá chegados,aí sim,arranjaram as coisas para o morto,poder,finalmente repousar. Pode -se imaginar o que foi aquele passeio,mesmo para o morto,sabe-se lá. Não viera autoridade para o afirmar. Sabe-se lá se estava mesmo morto. E depois,porque tal procedimento não comum? Não eram uns pobres diabos,muito longe disso. Há mesmo coisas do arco da velha,coisas de muito pasmar.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
ÁRVORES ARTIFICIAIS
Para retirar CO2 da atmosfera. Assim o propõe William S. Broecker,um dos maiores responsáveis pela teoria do aquecimento global. Este cientista acaba de receber o primeiro prémio Fronteras del Conocimiento de la Fundación BBVA. Carlos Duarte, do CSIC,e secretário do júri que atribuiu o prémio,considera William S. Broecker "un de esos gigantes sobre los que edificamos la ciencia del cambio climatico".
Do El País de 14 de janeiro de 2009
Do El País de 14 de janeiro de 2009
TUDO PERDIDO
O encontro a dois começou a ser como era norma,um encontro formal,mas acabou na maior das informalidades,cada um a dizer de sua justiça. Um deles,o mais velho,andaria aí pelos sessenta ou setenta, e o outro,talvez uns quarenta,não mais. Era a primeira vez que se viam.
A certa altura,quando já se estava em plena informalidade,desataram a falar de tudo e de mais alguma coisa. Falaram da vida,dos seus escolhos,falaram dos filhos,que o mais novo tinha,falaram do seu futuro,como se costuma dizer,como se fossem donos dele.
Pois é,o diabo da vida não há meio de encarreirar,disse o mais velho. É sempre a mesma luta,e cada vez mais feroz. É o salve-se quem puder,doa a quem doer. Não há volta a dar-lhe. Saem-se melhor os que dispuserem de melhores armas,sobretudo,de melhores apoios,melhores
padrinhos,como é corrente dizer-se. É a vida.
O mais novo não esperava nada ouvir o que estava ouvindo,vindo de quem era. Foi uma surpresa,e das grandes,uma surpresa reveladora. Aquilo devia estar mesmo muito mal. É que o senhor tinha muita experiência da vida,não por ele,mas por aqueles com quem ele convivia,e ele lá saberia que era mesmo assim.
E assim,seria caso para dizer que estava tudo perdido. Estaria para muitos,porventura uma grande maioria,lá pensaria o mais novo. Como é que ele iria proceder para que os filhos não se perdessem? Não iria fazer nada em especial,nem mais nem menos do que tinha feito até àquela altura. Deixaria correr as coisas como até ali,que elas seguissem o seu curso e fosse o que Deus quisesse. De resto,em boa verdade, não podia fazer mais nada,mais exactamente,não sabia fazer mais nada.
A certa altura,quando já se estava em plena informalidade,desataram a falar de tudo e de mais alguma coisa. Falaram da vida,dos seus escolhos,falaram dos filhos,que o mais novo tinha,falaram do seu futuro,como se costuma dizer,como se fossem donos dele.
Pois é,o diabo da vida não há meio de encarreirar,disse o mais velho. É sempre a mesma luta,e cada vez mais feroz. É o salve-se quem puder,doa a quem doer. Não há volta a dar-lhe. Saem-se melhor os que dispuserem de melhores armas,sobretudo,de melhores apoios,melhores
padrinhos,como é corrente dizer-se. É a vida.
O mais novo não esperava nada ouvir o que estava ouvindo,vindo de quem era. Foi uma surpresa,e das grandes,uma surpresa reveladora. Aquilo devia estar mesmo muito mal. É que o senhor tinha muita experiência da vida,não por ele,mas por aqueles com quem ele convivia,e ele lá saberia que era mesmo assim.
E assim,seria caso para dizer que estava tudo perdido. Estaria para muitos,porventura uma grande maioria,lá pensaria o mais novo. Como é que ele iria proceder para que os filhos não se perdessem? Não iria fazer nada em especial,nem mais nem menos do que tinha feito até àquela altura. Deixaria correr as coisas como até ali,que elas seguissem o seu curso e fosse o que Deus quisesse. De resto,em boa verdade, não podia fazer mais nada,mais exactamente,não sabia fazer mais nada.
TESOURO
É dito,escreve-se,que os pobres são o tesouro da sociedade. Eles,os pobres,que os há por aí,em cada canto deste pobre mundo,aos milhões,uma montanha deles,ao ouvirem isso,porque ler,nem pensar,não querem acreditar,julgarão que estão a fazer pouco deles.
Mas caindo em si,passada a descrença,perguntarão,ele é isso? E nós que nunca tínhamos dado por tal,o que nós perdemos. Então digam-nos,digam-nos depressa,onde está ele,esse tesouro,que deve estar muito escondido,que nós nunca demos por ele,para deixarmos de ser pobres,pois já sofremos muito,um horror,que nunca passem por onde nós passámos,há tanto,tanto tempo.
Mas depois,o que viremos a ser? Ricos,muito ricos? Era tão bom que assim fosse. Ter uma boa casa,automóvel,viajar,gozar,não fazer nada. Sim,que é o que nós temos visto nalguns. Era tão bom. Digam-nos,digam-nos depressa,que não queremos passar um segundo mais o que nós
passámos.
Há mesmo gente que gosta de brincar com a desgraça dos outros. Sim, que dizer,escrever uma coisa dessas,não passa de uma brincadeira,para não lhe chamar outra coisa,e de muito,muito mau gosto. Não lembraria ao maior dos diabos dizê-lo. Já é descaramento. Um tesouro,já viram? Um tesouro,nós. Eles sabem lá o que é a pobreza,eles sabem lá. Vivem dela,é o que é. Se eles acabassem,os pobres,depois em que é que se iriam entreter,o que seria deles?
Mas caindo em si,passada a descrença,perguntarão,ele é isso? E nós que nunca tínhamos dado por tal,o que nós perdemos. Então digam-nos,digam-nos depressa,onde está ele,esse tesouro,que deve estar muito escondido,que nós nunca demos por ele,para deixarmos de ser pobres,pois já sofremos muito,um horror,que nunca passem por onde nós passámos,há tanto,tanto tempo.
Mas depois,o que viremos a ser? Ricos,muito ricos? Era tão bom que assim fosse. Ter uma boa casa,automóvel,viajar,gozar,não fazer nada. Sim,que é o que nós temos visto nalguns. Era tão bom. Digam-nos,digam-nos depressa,que não queremos passar um segundo mais o que nós
passámos.
Há mesmo gente que gosta de brincar com a desgraça dos outros. Sim, que dizer,escrever uma coisa dessas,não passa de uma brincadeira,para não lhe chamar outra coisa,e de muito,muito mau gosto. Não lembraria ao maior dos diabos dizê-lo. Já é descaramento. Um tesouro,já viram? Um tesouro,nós. Eles sabem lá o que é a pobreza,eles sabem lá. Vivem dela,é o que é. Se eles acabassem,os pobres,depois em que é que se iriam entreter,o que seria deles?
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
ENTROPA
"España es una hormigonera,Francia está en huelga e Italia es un campo de fútbol
La presidencia checa coloca en el Consejo de Europa una obra que denuncia los estereotipos de los Veintesiete"
ENTROPA,trabalho conjunto de 27 artistas,um por cada Estado Membro.
Notícia em El País de 13/1/2009
Europa Press - Bruselas- 12/o1/2009
Imagem da Reuters
QUE TEME MAIS?
Rajendra Pachauri,Prémio Nobel da Paz de 2007,com Al Gore, Presidente,desde 2002,do Painel
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU,e Dirigente do Instituto de Recursos Naturais e Energia da Índia,concedeu uma entrevista ao El País (12 de Janeiro de 2009).
Eis três das respostas a três das várias perguntas que lhe fizeram.
1 - Que significa para si desenvolvimento sustentável?
Primeiro,garantir que os recursos naturais que herdámos não sejam danificados,nem reduzidos,de maneira que a próxima geração os receba em melhor situação do que a nossa. Isto inclui ar limpo,água limpa,terra e florestas sãs e biodiversidade. A outra dimensão do desenvolvimento sustentável é dar oportunidades às pessoas. Não se pode manter um sistema que só pensa nos ricos....
2 - Que teme mais?
Se não fizermos mais para suster as alterações climáticas,os mais pobres,que são os mais prejudicados,não perdoarão aos países ricos. Haverá convulsões e guerras,porque se agravará a luta pelos recursos naturais,incluindo os do Ártico.
3 - Que diria aos que negam as alterações climáticas?
Trabalhamos com transparência e escolhemos os melhores cientistas do mundo. As nossas informações são aceites por todos os governos....
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU,e Dirigente do Instituto de Recursos Naturais e Energia da Índia,concedeu uma entrevista ao El País (12 de Janeiro de 2009).
Eis três das respostas a três das várias perguntas que lhe fizeram.
1 - Que significa para si desenvolvimento sustentável?
Primeiro,garantir que os recursos naturais que herdámos não sejam danificados,nem reduzidos,de maneira que a próxima geração os receba em melhor situação do que a nossa. Isto inclui ar limpo,água limpa,terra e florestas sãs e biodiversidade. A outra dimensão do desenvolvimento sustentável é dar oportunidades às pessoas. Não se pode manter um sistema que só pensa nos ricos....
2 - Que teme mais?
Se não fizermos mais para suster as alterações climáticas,os mais pobres,que são os mais prejudicados,não perdoarão aos países ricos. Haverá convulsões e guerras,porque se agravará a luta pelos recursos naturais,incluindo os do Ártico.
3 - Que diria aos que negam as alterações climáticas?
Trabalhamos com transparência e escolhemos os melhores cientistas do mundo. As nossas informações são aceites por todos os governos....
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
PARECE IMPOSSÍVEL.
"... E no passado recente,quanto mal tem sido feito a Portugal pelo facto de os homens se preocuparem mais com as personalidades do que com as causas...."
Da carta de 27/10/1855,tinha D. Pedro V 18 anos.
Cartas de D.Pedro ao Príncipe Alberto
Tradução de Ruben Andressen Leitão
Portugália Editora
Mas é o que se passa hoje,disse o tio Joaquim,o que só tem a instrução primária,ao ler isto. Esta gente não tem emenda. Parece impossível. Mas para o que lhes havia de dar. E ficou muito triste o tio Joaquim.
Da carta de 27/10/1855,tinha D. Pedro V 18 anos.
Cartas de D.Pedro ao Príncipe Alberto
Tradução de Ruben Andressen Leitão
Portugália Editora
Mas é o que se passa hoje,disse o tio Joaquim,o que só tem a instrução primária,ao ler isto. Esta gente não tem emenda. Parece impossível. Mas para o que lhes havia de dar. E ficou muito triste o tio Joaquim.
MAIS UM CASTIGO
A propósito de um castigo em que alguém está a pensar. Em primeiro lugar,há pessoas,
quantas?,que,mal se levantam da caminha,sobretudo,nas manhãs em que apetece ficar nela,por via do frio,só pensam aplicar,a torto e a direito,em quem calhe,no que estiver mais a jeito,castigos,muitos castigos. Mas isso,bem entendido,nunca,por nunca,nele ou nos mais chegados.
Em segundo lugar,para dizer,que está tudo dito no primeiro. Para bom entendedor,meia palavra basta. E assim vai o mundo,o mundo pequenino,de certos,que não tendo deixado de ser meninos,continuam com as brincadeiras do costume. Isto está mesmo a precisar de que o nosso GRANDE EÇA desça cá abaixo,para continuar a CAMPANHA.
Tanta desgraça que vai por esse pobre mundo,tanta fome por esse pobre mundo,tanta lágrima por esse pobre mundo,e,há ainda quem pense aplicar um castigo mais. No começo de um novo ano. No final de um outro,cheio de castigos,é demais. Depois de mais um Renascer,nas barbas dEle. Que castigo merecerá quem pensa em mais um castigo? Está-se a ver,lá no alto,bem no alto,o castigo merecido. Perdoai-lhe Senhor,que aquilo foi fruto de um pesadelo. Perdoai-lhe Senhor.
quantas?,que,mal se levantam da caminha,sobretudo,nas manhãs em que apetece ficar nela,por via do frio,só pensam aplicar,a torto e a direito,em quem calhe,no que estiver mais a jeito,castigos,muitos castigos. Mas isso,bem entendido,nunca,por nunca,nele ou nos mais chegados.
Em segundo lugar,para dizer,que está tudo dito no primeiro. Para bom entendedor,meia palavra basta. E assim vai o mundo,o mundo pequenino,de certos,que não tendo deixado de ser meninos,continuam com as brincadeiras do costume. Isto está mesmo a precisar de que o nosso GRANDE EÇA desça cá abaixo,para continuar a CAMPANHA.
Tanta desgraça que vai por esse pobre mundo,tanta fome por esse pobre mundo,tanta lágrima por esse pobre mundo,e,há ainda quem pense aplicar um castigo mais. No começo de um novo ano. No final de um outro,cheio de castigos,é demais. Depois de mais um Renascer,nas barbas dEle. Que castigo merecerá quem pensa em mais um castigo? Está-se a ver,lá no alto,bem no alto,o castigo merecido. Perdoai-lhe Senhor,que aquilo foi fruto de um pesadelo. Perdoai-lhe Senhor.
ESTRATÉGIA
Quem o vê pensará que vai ali alguém,curvado ao peso da vida,a pensar, angustiadamente,no fim do mês. Quem o vê não dirá que são várias e pingues as suas fontes de rendimento. Pese tudo isso,é ele parco no gastar em frentes essenciais,no vestir,no comer,no folgar. O automóvel é quase da sua idade. Casou tarde e não teve filhos. Não se sabe o que faz ao seu muito dinheiro. Muito provavelmente entessoura-o,visto não ser de acreditar que o distribua pelos pobres. É que lhes chama madraços,sem distinções.
Sempre que vem a propósito,segundo consta,e ,às vezes,fora do contexto do que se estava para ali a dizer,critica, asperamente,o mínimo aumento de salários,talvez por ver nele uma séria ameaça à sua bolsa recheada. Achará que já contribui de mais. Façam como eu. As pessoas não precisam de ganhar mais,as pessoas têm é de gastar menos. E estando inspirado,cita tempos longínquos,gloriosos,de que muito gostou,e dos quais guarda sentidas saudades,tempos em que uma sardinha dava,tinha de dar,para dois ou mais. Chega,até,nos tais momentos de inspiração,ao ponto de apontar exemplos de países em que os trabalhadores aceitaram redução de salário. O ideal, para ele ,seria,certamente,os dependentes nada exigirem,vivendo do ar e morando em barracas.
A sua aparência,a lembrar um indigente,é,inegavelmente, parte de uma estratégia lá muito dele. Ninguém,familiar,conhecido,um qualquer,ousará bater a uma porta destas,num caso de aflição,de emergência. Coitado,precisa tanto como nós,ou mais ainda. Passam,assim,de largo,não vá ele,também,atrever-se a pedinchar. Era bem capaz disso,não por precisão,claro,mas para tentar remover qualquer dúvida que se levante a seu respeito,a respeito do seu cofre.
Com tudo isto,está ali para lavar e durar. Saúde não lhe falta,nem nunca lhe faltou,segundo uns,graças a Deus. Dá-se ao luxo de andar vestido de inverno quase como no verão,suscitando as maiores admirações e invejas. Um fenómemo,muito raro,suscitando,talvez,em alguém,o desejo de estudar o seu genoma,por razões óbvias.
Sempre que vem a propósito,segundo consta,e ,às vezes,fora do contexto do que se estava para ali a dizer,critica, asperamente,o mínimo aumento de salários,talvez por ver nele uma séria ameaça à sua bolsa recheada. Achará que já contribui de mais. Façam como eu. As pessoas não precisam de ganhar mais,as pessoas têm é de gastar menos. E estando inspirado,cita tempos longínquos,gloriosos,de que muito gostou,e dos quais guarda sentidas saudades,tempos em que uma sardinha dava,tinha de dar,para dois ou mais. Chega,até,nos tais momentos de inspiração,ao ponto de apontar exemplos de países em que os trabalhadores aceitaram redução de salário. O ideal, para ele ,seria,certamente,os dependentes nada exigirem,vivendo do ar e morando em barracas.
A sua aparência,a lembrar um indigente,é,inegavelmente, parte de uma estratégia lá muito dele. Ninguém,familiar,conhecido,um qualquer,ousará bater a uma porta destas,num caso de aflição,de emergência. Coitado,precisa tanto como nós,ou mais ainda. Passam,assim,de largo,não vá ele,também,atrever-se a pedinchar. Era bem capaz disso,não por precisão,claro,mas para tentar remover qualquer dúvida que se levante a seu respeito,a respeito do seu cofre.
Com tudo isto,está ali para lavar e durar. Saúde não lhe falta,nem nunca lhe faltou,segundo uns,graças a Deus. Dá-se ao luxo de andar vestido de inverno quase como no verão,suscitando as maiores admirações e invejas. Um fenómemo,muito raro,suscitando,talvez,em alguém,o desejo de estudar o seu genoma,por razões óbvias.
domingo, 11 de janeiro de 2009
THE MAIAS RESISTEM
The Maias, de Eça de Queirós, com tradução de Margaret Jull Costa, publicado pela Editora Dedalus Books,em 14 de Março de 2007, tem figurado,sempre,até agora,nos Top Ten. Para além disso, que já era muito, esta obra mereceu dois prémios : Winner of PEN/Book - of - the - Month - Club Translation Prize for 2008 e Winner of The Oxford Weidenfeld Translation Prize for 2008.
TORMENTOS
...
E descalcinhos,doridos,
a neve deixa inda vê-los,
primeiro,bem definidos,
depois,em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos,enfim!
Mas as crianças,Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,fica em mim presa.
Cai neve na na Natureza
- e cai no meu coração.
Parte da Balada da Neve
AUGUSTO GIL
Do Projecto Vercial
E descalcinhos,doridos,
a neve deixa inda vê-los,
primeiro,bem definidos,
depois,em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos,enfim!
Mas as crianças,Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,fica em mim presa.
Cai neve na na Natureza
- e cai no meu coração.
Parte da Balada da Neve
AUGUSTO GIL
Do Projecto Vercial
O NOVO DIA
Estou aqui construindo o novo dia
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se-ia
não estar fazendo nada.
E,contudo,estou aqui construindo o novo dia.
Porque o dia constrói-se; não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas,um arfar de troncos nus,
o erguer,a uma só voz,dos remos da galera.
Cantando entre os dentes
um refrão anidro
abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.
ANTÓNIO GEDEÃO
Escopro de Vidro
Poesias Completas
(1956 - 1967)
7ª edição
Portugália Editora
1978
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se-ia
não estar fazendo nada.
E,contudo,estou aqui construindo o novo dia.
Porque o dia constrói-se; não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas,um arfar de troncos nus,
o erguer,a uma só voz,dos remos da galera.
Cantando entre os dentes
um refrão anidro
abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.
ANTÓNIO GEDEÃO
Escopro de Vidro
Poesias Completas
(1956 - 1967)
7ª edição
Portugália Editora
1978
sábado, 10 de janeiro de 2009
DEPOIS DE MIM O DILÚVIO
É o que parece pensarem todos aqueles que,nada temendo,nem mesmo Deus,se lançam nas mais arriscadas aventuras,para alcançarem os seus fins.
UMA DEDICATÓRIA
"Aos meus inimigos,que tanto me ajudaram na minha carreira."
CAMILO JOSÉ CELA
A Família de Pascoal Duarte
Tradução de Tomaz Ribas
Círculo de Leitores
1990
CAMILO JOSÉ CELA
A Família de Pascoal Duarte
Tradução de Tomaz Ribas
Círculo de Leitores
1990
"ENCONTRO COM SEBASTIÃO DA GAMA" - III
"A alegria que inunda toda a sua obra,a ponto de constituir uma verdadeira e própria
constante,nasce da conformidade com Deus e com os homens. É talvez,a par do amor,a sua mensagem.
Sebastião da Gama amou a vida sem a possuir. Por isso a sua poesia é sempre ventilada por um ar de mocidade,de bom humor,de brincadeira. Ter é tardar,disse Fernando Pessoa. Ora o poeta nunca teve,nunca reteve a vida. Bastou-lhe sempre deixá-la fluir,correr-lhe pelos dedos,como a tarde. O seu caminho de morte sempre se caracterizou por um aprofundamento progressivo nas raízes da alegria. Talvez não haja na língua portuguesa poesia mais alegre do que esta,dedicada
A uma rapariga:
Somos assim ao dezassete.
Sabemos lá que a vida é ruim!
A tudo amamos,tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.
Depois,Acilda,os livros dizem,
dizem os velhos,dizem todos:
"A vida é triste. A vida leva,
a um e um,todos os sonhos".
Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo,eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim."
RUY BELO
Na Senda da Poesia
Edição de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim
2002
constante,nasce da conformidade com Deus e com os homens. É talvez,a par do amor,a sua mensagem.
Sebastião da Gama amou a vida sem a possuir. Por isso a sua poesia é sempre ventilada por um ar de mocidade,de bom humor,de brincadeira. Ter é tardar,disse Fernando Pessoa. Ora o poeta nunca teve,nunca reteve a vida. Bastou-lhe sempre deixá-la fluir,correr-lhe pelos dedos,como a tarde. O seu caminho de morte sempre se caracterizou por um aprofundamento progressivo nas raízes da alegria. Talvez não haja na língua portuguesa poesia mais alegre do que esta,dedicada
A uma rapariga:
Somos assim ao dezassete.
Sabemos lá que a vida é ruim!
A tudo amamos,tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.
Depois,Acilda,os livros dizem,
dizem os velhos,dizem todos:
"A vida é triste. A vida leva,
a um e um,todos os sonhos".
Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo,eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim."
RUY BELO
Na Senda da Poesia
Edição de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim
2002
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO
"Faz hoje,2 de Outubro,55 anos que morreu o desbragado foliculário,o poetastro infatigável,o panfletário sabido que fundou entre nós o jornalismo,com o Desengano,com a Tripa Virada e com a Besta Esfolada,de que chegavam a tirar-se quatro mil exemplares!
Nunca houve homem mais plebeiamente popular,nenhum dos nossos caceteiros da pena lhe deitou a barra adiante na impudência,no descaramento,na desfaçatez. A sua veia(hoje diz-se verve),a sua facúndia,eram inesgotáveis. Sabia a linguagem das colarejas e rameiras,porque as frequentava,e o calão dos cárceres e das enxovias porque passou por lá. O seu estilo era torrente,mas jorro que sai de um cano - um enxurro violento de imundícies. Criou um género,que se nacionalizou português.
..."
OLIVEIRA MARTINS
Perfis (edição póstuma,1930)
Projecto Vercial
Web
Nunca houve homem mais plebeiamente popular,nenhum dos nossos caceteiros da pena lhe deitou a barra adiante na impudência,no descaramento,na desfaçatez. A sua veia(hoje diz-se verve),a sua facúndia,eram inesgotáveis. Sabia a linguagem das colarejas e rameiras,porque as frequentava,e o calão dos cárceres e das enxovias porque passou por lá. O seu estilo era torrente,mas jorro que sai de um cano - um enxurro violento de imundícies. Criou um género,que se nacionalizou português.
..."
OLIVEIRA MARTINS
Perfis (edição póstuma,1930)
Projecto Vercial
Web
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NA BIBLIOTECA NACIONAL DE ESPANHA E NA CONGRESS LIBRARY(EUA)
António Ribeiro Sanches 4 e 7
Armando Cortesão 31 e 24
Damião Peres 15 e 46
Francisco de Holanda 18 e 20
Joel Serrão 7 e 42
José Agostinho de Macedo 3 e 42
José Pedro Machado 28 e 27
Luciano Cordeiro 16 e 43
Luís de Albuquerque 31 e 54
Luís António Verney 8 e 12
Mário Tavares Chicó 1 e 7
Orlando Ribeiro 14 e 33
Armando Cortesão 31 e 24
Damião Peres 15 e 46
Francisco de Holanda 18 e 20
Joel Serrão 7 e 42
José Agostinho de Macedo 3 e 42
José Pedro Machado 28 e 27
Luciano Cordeiro 16 e 43
Luís de Albuquerque 31 e 54
Luís António Verney 8 e 12
Mário Tavares Chicó 1 e 7
Orlando Ribeiro 14 e 33
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
OPOSIÇÃO DO ANO
Aqueles tinham sido uns tempos para esquecer. Nunca se tinham vivido tempos como esses,pelo menos,nos últimos quase cem anos.
Como seria de esperar,as oposições malharam forte e feio,sem dó nem piedade,nos que estavam a mandar. Chamavam-lhes nomes,sobretudo,que eram uns ineptos,que a culpa de toda aquela desgraça a eles se deviam,e a mais ninguém. Se elas,as oposições, lá estivessem,ao leme,a coisa seria muito diferente,seria mesmo o paraíso,e não aquele inferno,em que,e repetiam até à exaustão,os que estavam a mandar tinham precipitado os pobres países,ainda que fossem ricos.
Mas houve uma oposição,na esteira das oposições do passado,dum passado longo,que levou a palma a todas as outras oposições. Por isso mesmo,pela sua constância,pela sua fidelidade,pela sua coerência,e mais distinções,em casos destes,foi considerada, unanimemente,universalmente,A OPOSIÇÃO DO ANO.
Como seria de esperar,as oposições malharam forte e feio,sem dó nem piedade,nos que estavam a mandar. Chamavam-lhes nomes,sobretudo,que eram uns ineptos,que a culpa de toda aquela desgraça a eles se deviam,e a mais ninguém. Se elas,as oposições, lá estivessem,ao leme,a coisa seria muito diferente,seria mesmo o paraíso,e não aquele inferno,em que,e repetiam até à exaustão,os que estavam a mandar tinham precipitado os pobres países,ainda que fossem ricos.
Mas houve uma oposição,na esteira das oposições do passado,dum passado longo,que levou a palma a todas as outras oposições. Por isso mesmo,pela sua constância,pela sua fidelidade,pela sua coerência,e mais distinções,em casos destes,foi considerada, unanimemente,universalmente,A OPOSIÇÃO DO ANO.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
UMA GOTA
"Apaixonado pela Internet criei este site dedicado à comunicação persuasiva,inclusive reproduzindo obras clássicas relacionadas direta ou indiretamente ao tema. Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado,ou melhor,da Sociedade que paga impostos,tenho obrigação de retribuir ao menos uma gota do que ela me proporcionou."
Da Web: Comunicando Comunicação - Nelson Jahr Garcia
Da Web: Comunicando Comunicação - Nelson Jahr Garcia
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
CERTA NOTÍCIA
Toda a gente sabe,ou devia saber,o que vai por aí. Vai mal,mesmo muito mal. Não se sabe é se melhor ou pior do que noutras alturas,pois que mal,segundo alguns,mais ou menos entendidos,esteve sempre,não para todos,mas para alguns,pelo menos,os do costume.
Pois em certo canto deste vário e vasto mundo parece que não. E é o que se pode depreender de certa notícia,vinda em certo jornal. Vão-se gastar 52 milhões de euros,52 preciosos milhões de euros,na aquisição de uma famosa tela,de um não menos famoso artista. E isso, para assegurar a sua posse,visto ser de imaginar que outros 52 milhões,ou mais, a querer fazer o mesmo,não faltarão por aí,o que obriga a tomar cautelas.
Pois em certo canto deste vário e vasto mundo parece que não. E é o que se pode depreender de certa notícia,vinda em certo jornal. Vão-se gastar 52 milhões de euros,52 preciosos milhões de euros,na aquisição de uma famosa tela,de um não menos famoso artista. E isso, para assegurar a sua posse,visto ser de imaginar que outros 52 milhões,ou mais, a querer fazer o mesmo,não faltarão por aí,o que obriga a tomar cautelas.
EXAGEROS
Por vezes acontece pagar o justo pelo pecador. Vem isto a propósito do que sucedeu certa vez. Pareceu,nessa ocasião,ter chegado a hora de pôr um ponto final em injustiças clamorosas,que já vinham, por assim dizer, lá do fundo dos séculos. Era a hora da "vingança",doesse a quem doesse. É que não havia tempo para apurar culpas ou inocências. Tinham sido muitos os anos de sujeição,não havia tempo a perder com dúvidas. Iria tudo a eito,sem detenças,não fosse,
rapidamente,voltar tudo ao que tinha sido antes,ou pior ainda. Teriam feito,ao menos,o gosto ao dedo.
E assim, lá tiveram de ir,mulher,marido,dois filhos quase de colo,todos como que de baraço ao peito,submeterem-se ao vexame de um julgamento,do qual se sabia,de antemão,a sentença. Os "injustiçados" riam,gozavam,certíssimos de que tinha chegado a sua hora.
Coitados deles,muito tinham passado,efectivamente,eles e os que lhes tinham antecedido,desde,
pode dizer-se,o princípio dos princípios. Chegara a sua vez,de virem cá para cima,olhar,com desprezo,e sabe-se lá mais o quê,para aqueles que os tinham desprezado,e sabe-se lá o quê. Só que, naquele concreto caso,tinham errado o alvo,só que,com as pressas,tinham metido todos os"inimigos" no mesmo saco.
Por tudo isso,por toda essa injustiça imensa,foram perdoados os "algozes" de ocasião. Verdadeiramente,não eram eles os culpados,coitados deles. Tinham sido levados àquele exagero clamoroso,porque tinham sido clamorosos os exageros que tinham suportado,eles,e todos aqueles,multidões incontáveis,na verdade,que eles ali representavam
rapidamente,voltar tudo ao que tinha sido antes,ou pior ainda. Teriam feito,ao menos,o gosto ao dedo.
E assim, lá tiveram de ir,mulher,marido,dois filhos quase de colo,todos como que de baraço ao peito,submeterem-se ao vexame de um julgamento,do qual se sabia,de antemão,a sentença. Os "injustiçados" riam,gozavam,certíssimos de que tinha chegado a sua hora.
Coitados deles,muito tinham passado,efectivamente,eles e os que lhes tinham antecedido,desde,
pode dizer-se,o princípio dos princípios. Chegara a sua vez,de virem cá para cima,olhar,com desprezo,e sabe-se lá mais o quê,para aqueles que os tinham desprezado,e sabe-se lá o quê. Só que, naquele concreto caso,tinham errado o alvo,só que,com as pressas,tinham metido todos os"inimigos" no mesmo saco.
Por tudo isso,por toda essa injustiça imensa,foram perdoados os "algozes" de ocasião. Verdadeiramente,não eram eles os culpados,coitados deles. Tinham sido levados àquele exagero clamoroso,porque tinham sido clamorosos os exageros que tinham suportado,eles,e todos aqueles,multidões incontáveis,na verdade,que eles ali representavam
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
A BANDA DE LÁ
Lá se fora mais um. Já se não sabia o quantos tinham sido,tantos se tinham já sucedido. Só se sabia que fora mais um. Algumas razões se podiam avançar para isso,mas a mais determinante deveria ser a idade com que entravam de serviço,uma idade com poucas ou nenhumas surpresas. É que se encontravam mais para a banda de lá,a outra banda.
Ela estaria como eles,tendo em conta a idade,mas a banda de lá é que não queria nada com ela. Parecia essa banda ter receio de a lá ver. Estava ali,de facto,pode dizer-se,
para lavar e durar,sã que nem uma pera sem bicho.
Coitada da senhora,apsar de tudo,que se via obrigada,volta não volta,a conhecer ,muito de perto, nova cara. Mas o que é que ela havia de fazer mais se os ladrões não havia meio de se sumirem de vez,antes pelo contrário,visto haver por ali,mesmo à sua vista, cada vez mais?
Não tardará,pois,que ela se ponha,mais uma vez,à janela. Quem quer casar com a carochinha.... Mas sabendo da sua triste história,que muito triste ela é,sem dúvida,com que cara entrará o novo preferido de faxina? Querem ver que não vou passar desta noite,que esta noite é que vou saltar para a banda de lá?
Ela estaria como eles,tendo em conta a idade,mas a banda de lá é que não queria nada com ela. Parecia essa banda ter receio de a lá ver. Estava ali,de facto,pode dizer-se,
para lavar e durar,sã que nem uma pera sem bicho.
Coitada da senhora,apsar de tudo,que se via obrigada,volta não volta,a conhecer ,muito de perto, nova cara. Mas o que é que ela havia de fazer mais se os ladrões não havia meio de se sumirem de vez,antes pelo contrário,visto haver por ali,mesmo à sua vista, cada vez mais?
Não tardará,pois,que ela se ponha,mais uma vez,à janela. Quem quer casar com a carochinha.... Mas sabendo da sua triste história,que muito triste ela é,sem dúvida,com que cara entrará o novo preferido de faxina? Querem ver que não vou passar desta noite,que esta noite é que vou saltar para a banda de lá?
domingo, 4 de janeiro de 2009
sábado, 3 de janeiro de 2009
ATÉ UMA NOITE
Tivera uma vida simples,uma vida para sobreviver. Quando não pudesse mais,ou quando chegasse a tal hora,diria adeus,ainda que ninguém o escutasse. Fora uma vida como tantas outras,uma vida semeada de escolhos. Aparentava ter mais idade,o que não era para admirar. O mesmo se passava com muitas outras vidas.
Teriam sido esses escolhos os principais causadores do desgaste. Os esforços,tantas vezes,porventura,para além das suas fracas forças,tê-lo-iam posto assim,um tanto alheado,quase um autómato. Um ano,para ele,teriam sido dois,ou mais.
Depois,dera-lhe para andar duas ou três léguas duma assentada,só para se entreter,para passar uma parte do tempo que tinha para si. Podia tê-lo gasto noutros lazeres,como jogar às cartas horas intermináveis,ou conversar nas esquinas com os amigos,também tempos sem fim,mas disso não gostava.
Os anos foram ficando para trás,e ele lá se foi aguentando até um dia,ou,mais exacto,até uma noite. Ainda a cama o recebeu para mais um sono,mas já não acordou,como era costume,um longo costume,apsar de tudo. Foram dar com ele a dormir para sempre. Teria acordado noutro mundo,onde já se encontravam muitos da sua geração,que se lhe tinham adiantado,talvez por terem labutado mais,ou não,talvez por terem palmilhado mais léguas,ou não,talvez por se terem entretido com cartas,ou não,talvez....
Teriam sido esses escolhos os principais causadores do desgaste. Os esforços,tantas vezes,porventura,para além das suas fracas forças,tê-lo-iam posto assim,um tanto alheado,quase um autómato. Um ano,para ele,teriam sido dois,ou mais.
Depois,dera-lhe para andar duas ou três léguas duma assentada,só para se entreter,para passar uma parte do tempo que tinha para si. Podia tê-lo gasto noutros lazeres,como jogar às cartas horas intermináveis,ou conversar nas esquinas com os amigos,também tempos sem fim,mas disso não gostava.
Os anos foram ficando para trás,e ele lá se foi aguentando até um dia,ou,mais exacto,até uma noite. Ainda a cama o recebeu para mais um sono,mas já não acordou,como era costume,um longo costume,apsar de tudo. Foram dar com ele a dormir para sempre. Teria acordado noutro mundo,onde já se encontravam muitos da sua geração,que se lhe tinham adiantado,talvez por terem labutado mais,ou não,talvez por terem palmilhado mais léguas,ou não,talvez por se terem entretido com cartas,ou não,talvez....
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
COLÉGIO MODERNO,LISBOA - PORTUGAL
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
UM SONHO
Pode dizer-se que não estavam nada bem um para o outro. Mas, naquele tempo,uma desgraça comum visitara-os. É que tinham sido privados,muito proximamente,de alguns dos seus teres,pelo mesmo inimigo. Fora isso suficiente para os irmanar.
E,assim,volta não volta,lá se reuniam para carpir e congeminar. O inimigo não podia levar a melhor. E foi o que sucedeu,como se antevia logo de início,pois,para mal dele,não tinha pernas para ir longe.
Os teres não demoraram muito a regressar a quem de direito. Tudo,afinal,não passara de um sonho,para ambas as partes,inimigos e amigos.
Desaparecera,assim,a causa que produzira aquele insólito par,pois os ombros deixaram de servir para neles lágrimas derramar. Depois,a distância que sempre os separara,sobretudo, em termos de pessoa,impôs-se,e não mais foram vistos juntos.
Um,lá seguiu a sua vida,como nada tivesse acontecido,o outro,apsar da recuperação dos bens,não mais foi o mesmo,de tempos áureos. Parecia que uma peste o tomara,de que havia de fugir.
E,assim,volta não volta,lá se reuniam para carpir e congeminar. O inimigo não podia levar a melhor. E foi o que sucedeu,como se antevia logo de início,pois,para mal dele,não tinha pernas para ir longe.
Os teres não demoraram muito a regressar a quem de direito. Tudo,afinal,não passara de um sonho,para ambas as partes,inimigos e amigos.
Desaparecera,assim,a causa que produzira aquele insólito par,pois os ombros deixaram de servir para neles lágrimas derramar. Depois,a distância que sempre os separara,sobretudo, em termos de pessoa,impôs-se,e não mais foram vistos juntos.
Um,lá seguiu a sua vida,como nada tivesse acontecido,o outro,apsar da recuperação dos bens,não mais foi o mesmo,de tempos áureos. Parecia que uma peste o tomara,de que havia de fugir.
"ENCONTRO COM SEBASTIÃO DA GAMA" - II
"Num estudo sobre Sebastião da Gama ,por breve e despreocupado que seja,não se pode deixar de considerar o indivíduo por oposição à pessoa,que é a que como tal intervém na criação poética. A personalidade criadora,como vimos,sempre tende a expandir-se ,a comunicar-se,a dar-se. Por isso a actividade poética,em si,é de carácter essencialmente desinteressado. Nunca ela aparece comprometida pelos caminhos avessos que o homem pode trilhar....
É difícil que no momento da arte se lembre de si quem na vida de si se esqueceu....Uma afloração desse sentido de generosidade parece-me encontrá-la artisticamente determinada em Pequeno Amor,que insere uns versos que dizem assim:
Para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Só esta visão o domina na reconstituição poética do facto do seu nascimento. O homem manifesta-se tendencialmente,amorosamente. É para sua mãe,numa total configuração de contemplação. A seus olhos,é esta a única importância do dia...."
RUY BELO
Na Senda da Poesia
Edição de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim
2002
É difícil que no momento da arte se lembre de si quem na vida de si se esqueceu....Uma afloração desse sentido de generosidade parece-me encontrá-la artisticamente determinada em Pequeno Amor,que insere uns versos que dizem assim:
Para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Só esta visão o domina na reconstituição poética do facto do seu nascimento. O homem manifesta-se tendencialmente,amorosamente. É para sua mãe,numa total configuração de contemplação. A seus olhos,é esta a única importância do dia...."
RUY BELO
Na Senda da Poesia
Edição de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim
2002
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