terça-feira, 30 de junho de 2009
COISA PARECIDA
O que era a vida. Durante anos não fizera outra coisa senão servir de condutor de carros,grandes e pequenos,mas depois que se reformara tivera de arranjar nova enxada. É que passava todo o tempo a olhar para as moscas,de que se fartou,e a reforma também não lhe dava para o que ele queria. Teve de arranjar assim uns biscates,que lhe ocupavam a maior parte do tempo. Quer dizer,não mudara de vida. Trabalhar,dormir, comer,descansar,olhando para as moscas,ou coisa parecida. Que lhe adiantara ter nascido? O que viera cá fazer?
O MANDO
Até ali, tinha sido só um a mandar,passando o mando de pais para filhos. Depois,passara o mando para quem o povo escolhesse. Para isso,tinha o povo de sair de casa,tinha de se incomodar.
Ora o povo,depois de tanto tempo a ser mandado,foi-se a pouco e pouco cansando de sair de casa. E a certa altura,parecia ter-se voltado aos tempos antigos. Eles que lá se entendessem,que era disso,do mando, é que eles gostavam.
Ora o povo,depois de tanto tempo a ser mandado,foi-se a pouco e pouco cansando de sair de casa. E a certa altura,parecia ter-se voltado aos tempos antigos. Eles que lá se entendessem,que era disso,do mando, é que eles gostavam.
ATÉ MUITO PIOR
E ali ficara ele a pensar,com muita tristeza, que tudo aquilo tinha sido feito à custa de sacrifícios sem conta,de muitas mortes mesmo,por vontade,por decisão,afinal ,de meia dúzia,assim se podia dizer.
E o que era mais triste ainda,era quase ter-se a certeza de que se fosse outra a meia dúzia que mandasse,que tomasse as decisões, o resultado não seria muito diferente,podendo ter sido até muito pior.
E o que era mais triste ainda,era quase ter-se a certeza de que se fosse outra a meia dúzia que mandasse,que tomasse as decisões, o resultado não seria muito diferente,podendo ter sido até muito pior.
A VIDA
Aquilo tinha a sua graça. Não visitavam um museu,não entravam numa biblioteca,que um e outra deveriam ter doença ruim,daquela que se pegava,que vinha pelo ar que se respirava. Mas havia um sitio onde não podiam faltar um dia sequer,vistoriando-o mais de uma vez,de manhã,à tarde,e à noitinha. Esse sítio era,nada mais,nada menos,o supermercado,pois então,uma espécie de repositório de coisas sagradas.
Não havia prateleira que escapasse,não havia preço que não fosse registado,não havia fruta que não fosse apalpada,por vezes,até,quando era caso disso,experimentada. Paravam,avaliavam,comparavam,reflectiam,comentavam. A vida cada vez estava mais cara,não sabiam onde aquilo iria parar. Mas eles,felizmente,é que não paravam,que a vida,afinal,não estava assim tão mal como diziam,sobretudo quando comparada com a de tantos cantos do mundo,onde,aí,sim,é que as coisas estavam mesmo muito mal,tinham estado mesmo sempre assim muito mal,que era o que lhes valia,por já estarem bem acostumados a ela,a vida.
Não havia prateleira que escapasse,não havia preço que não fosse registado,não havia fruta que não fosse apalpada,por vezes,até,quando era caso disso,experimentada. Paravam,avaliavam,comparavam,reflectiam,comentavam. A vida cada vez estava mais cara,não sabiam onde aquilo iria parar. Mas eles,felizmente,é que não paravam,que a vida,afinal,não estava assim tão mal como diziam,sobretudo quando comparada com a de tantos cantos do mundo,onde,aí,sim,é que as coisas estavam mesmo muito mal,tinham estado mesmo sempre assim muito mal,que era o que lhes valia,por já estarem bem acostumados a ela,a vida.
JÁ OS CONHECIA
Xavier era um cidadão exemplar. Um dia,quiseram saber qual a sua opinião sobre a condução da coisa pública que estava vivendo. Pior do que aquilo não podia haver,um horror,queriam tudo para eles,já os conheçia.
Num outro dia,estava lá outra gente a mandar,quiseram saber a sua opinião sobre a condução da coisa pública que passara a viver. Pior do que aquilo não podia haver,um horror,queriam tudo para eles,já os conhecia.
Num outro dia,estava lá outra gente a mandar,quiseram saber a sua opinião sobre a condução da coisa pública que passara a viver. Pior do que aquilo não podia haver,um horror,queriam tudo para eles,já os conhecia.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
PARQUE NACIONAL COIBA - PANAMÁ
http://www.flickr.com/photos/ableman/2177443542/sizes/l/
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http://www.flickr.com/photos/ableman/2177446268/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/32715493@N07/3318054461/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/32715493@N07/3319065078/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/32715493@N07/3318831300/sizes/l/
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A FLOR E A FRASE
Deviam ser umas quatro da tarde,tempo apropriado para dar um giro,depois de uma soneca reparadora. Seria o que ele estava fazendo. E a boa disposição era tanta,que levava na mão uma flor. Enquanto caminhava,repetia uma frase,em alto e bom som,frase um tanto provocatória,por um facto ocorrido na véspera.Era um cidadão que estaria gozando dos rendimentos de uma longa vida de aturado labor. Aparentemente,não se podia queixar muito,a atentar na elegante farpela desportiva que o protegia,desde os pés até à ponta dos cabelos,acondicionados por um boné azul e branco,à marinheiro.E qual era a frase,lançada aos quatro ventos, que ele não se cansava de repetir? A greve é o meu trabalho,a greve é o meu trabalho. Esta frase,vinda de alguém já permanentemente em férias,parecia algo deslocada. A indumentária,a flor e a frase compunham um quadro de elevada perplexidade.
UM PRÉMIO
Aquilo parecia uma situação complicada,pelo menos a ele,pelo que andava um tanto confuso,não sabendo o que o esperava. Talvez fosse coisa boa,pelo menos para ele,este lado sempre presente,o lado de cada um.
E a coisa era assim. Uma maioria ganhara,coisa que,felizmente,vai acontecendo por aqui,por ali,e felizmente por não se ver uma melhor saída. E essa maioria estava satisfeita,o que é natural,pois que ninguém gosta de perder. É natural,mas não será o melhor,mas isso é outra coisa.
Estando satisfeita,quereria isso dizer que as coisas iriam mudar,de modo a continuarem satisfeitos. E isto quereria dizer que quem antes não andava satisfeito talvez viesse a ficar satisfeito.
Ora como ele não andava satisfeito,talvez viesse a ganhar. Quem sabe? Talvez viessem a ganhar todos,o que seria o ideal. E se todos viessem a ganhar,merecia a maioria um prémio. Estaria disposta a tê-lo? Era o que se iria ver.
E a coisa era assim. Uma maioria ganhara,coisa que,felizmente,vai acontecendo por aqui,por ali,e felizmente por não se ver uma melhor saída. E essa maioria estava satisfeita,o que é natural,pois que ninguém gosta de perder. É natural,mas não será o melhor,mas isso é outra coisa.
Estando satisfeita,quereria isso dizer que as coisas iriam mudar,de modo a continuarem satisfeitos. E isto quereria dizer que quem antes não andava satisfeito talvez viesse a ficar satisfeito.
Ora como ele não andava satisfeito,talvez viesse a ganhar. Quem sabe? Talvez viessem a ganhar todos,o que seria o ideal. E se todos viessem a ganhar,merecia a maioria um prémio. Estaria disposta a tê-lo? Era o que se iria ver.
domingo, 28 de junho de 2009
SAMARCANDA - USBEQUISTÃO
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http://www.flickr.com/photos/static6/698965436/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/71948072@N00/2259960431/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/jaxxon/37844275/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/amauriaguiar/23275174/sizes/o/
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O COSTUME
Já há muito tempo que se não viam. Tinham andado na mesma escola,tinham estado no mesmo emprego,ali lado a lado,pelo que havia coisas em comum,algumas das quais gostariam de ter lembrado. Poderia ter sido isso motivo de alguma conversa,mas não.
Ficaram,é certo,ali retidos uns minutos,mas com coisas banais,daquelas de que se costuma falar,quando não se tem nada para dizer,porque não ocorre,que a memória está gasta,ou simplesmente não se está para perder tempo com coisas que não dão lucro.
Assim,falaram do tempo,da saúde,também de uma ou outra coisa que não havia meio de andar, por culpa de outros,não deles mesmo,claro,que ideia,enfim,o costume. E não havendo mais nada a tratar,lá se despediram,com os desejos de se voltarem a encontrar de novo,para continuar a conversa,que,naquela altura não,que a hora já ia adiantada.
Que vitórias não teriam para contar,ou que um apenas teria,e que gostaria de estar ali a narrá-las,o que não se estaria para ouvir,que não havia com que equilibrar? O melhor,portanto,era terminar,e que passassem lá muito bem,ficaria para outra vez o resto que tinha ficado por dizer.
Ficaram,é certo,ali retidos uns minutos,mas com coisas banais,daquelas de que se costuma falar,quando não se tem nada para dizer,porque não ocorre,que a memória está gasta,ou simplesmente não se está para perder tempo com coisas que não dão lucro.
Assim,falaram do tempo,da saúde,também de uma ou outra coisa que não havia meio de andar, por culpa de outros,não deles mesmo,claro,que ideia,enfim,o costume. E não havendo mais nada a tratar,lá se despediram,com os desejos de se voltarem a encontrar de novo,para continuar a conversa,que,naquela altura não,que a hora já ia adiantada.
Que vitórias não teriam para contar,ou que um apenas teria,e que gostaria de estar ali a narrá-las,o que não se estaria para ouvir,que não havia com que equilibrar? O melhor,portanto,era terminar,e que passassem lá muito bem,ficaria para outra vez o resto que tinha ficado por dizer.
sábado, 27 de junho de 2009
LAGO BAIKAL
http://www.flickr.com/photos/lupus83/1037768984/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/lukeii/14594621/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/clurross/2805504828/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/don_quilty/2638728376/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/pnp/1576368683/sizes/l/
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SÓ OSSATURA E PELE
"Tenho apanhado sol em todas estas eiras. Nunca me farto de ver as grandes pedras veneráveis,nem de falar com jornaleiros,cavadores e pedreiros,que não ganham para comer,porque as mulheres têm filhos às ninhadas como os ratos. Refiro-me principalmente aos pedreiros - geração formidável que há séculos vem rachando a alvenaria para edficar a casa,erguer os socalcos e lagear as eiras. São homens só ossatura e pele,que na mesma cantilena - ou pedra- ou - oupa - lá tem erguido as cabanas de todos estes arredores. É o Torto,o Carvalhoa,o Bernardino,quase todos da mesma família,alguns velhos de poucas falas,e os filhos,que vão sucedendo aos pais no mesmo mester de cortar a lage e a afeiçoar a pico e cinzel,sempre cantando e trabalhando - ou pedra - ou oupa - lá - para no fim da vida acabarem de fome."
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II)
Obras Completas Vol. I p. 44-45
Edição de José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II)
Obras Completas Vol. I p. 44-45
Edição de José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
MANCHAS DOLOROSAS
O que lhe interessava a ele era tudo menos as pessoas,todas as pessoas,poque para ele,com a idade,mas mais com a experiência que tivera a sorte,ou o azar,conforme o canto em que se pusesse,de ter,eram todas iguais,sem tirar,nem pôr.
O que lhe interessava era tudo quanto estava para além das pessoas,que era muito,que era imenso,tão imenso,e tão variado,e tão rico,que só uma pequenina fracção podia bisbilhotar. Bisbilhotar,dizia bem,porque a maior parte dela ficar-lhe-ia para sempre vedado. E isso para ele punha-o em estado de êxtase,como se estivesse diante de uma maravilha sem igual.
Uma maravilha multifacetada,com quadros,às vezes,que o levavam a ficar triste,porque achá-los-ia estarem ali a mais,a estragar a paisagem. Mas o que sabia ele daquela paisagem,como aparecera ela ali,para que serviria ela,na realidade,e porque haveria ela de ter essas manchas dolorosas?
O que lhe interessava era tudo quanto estava para além das pessoas,que era muito,que era imenso,tão imenso,e tão variado,e tão rico,que só uma pequenina fracção podia bisbilhotar. Bisbilhotar,dizia bem,porque a maior parte dela ficar-lhe-ia para sempre vedado. E isso para ele punha-o em estado de êxtase,como se estivesse diante de uma maravilha sem igual.
Uma maravilha multifacetada,com quadros,às vezes,que o levavam a ficar triste,porque achá-los-ia estarem ali a mais,a estragar a paisagem. Mas o que sabia ele daquela paisagem,como aparecera ela ali,para que serviria ela,na realidade,e porque haveria ela de ter essas manchas dolorosas?
FARPELA LAVADA
Não se esforçam,não trabalham no duro,são preguiçosos,tratam as coisas pela rama,não procuram esclarecer-se na medida das suas capacidades.
Portanto,só há uma coisa a fazer,lá pensam eles. E essa coisa é desfazer,desfazer de qualquer maneira,a torto e a direito,de maneira a ficar tudo em cacos,sem olhar a meios,à bruta mesmo.
O que é preciso é retirar do caminho todos os que lhes estão a impedir a caminhada triunfal,porque se não for assim,triunfal,a coisa não tem graça nenhuma. O que é preciso,mais precisamente,é reduzir os outros a pó,que uma brisa leve lá para muito longe. O que é preciso é dizer cobras e lagartos dos outros,se doutras coisas não se lembrarem,para ninguém os poder olhar a direito.
Então,só assim é que se sentem felizes,lá à maneira deles,porque chamar àquilo felicidade é de não se estar bom da cabeça. Coitados deles,uns tristes,que não podem ver uma farpela lavada nos corpinhos dos outros,todos os outros,sem um escapar,um só que seja,para só eles terem uma farpela lavada.
Portanto,só há uma coisa a fazer,lá pensam eles. E essa coisa é desfazer,desfazer de qualquer maneira,a torto e a direito,de maneira a ficar tudo em cacos,sem olhar a meios,à bruta mesmo.
O que é preciso é retirar do caminho todos os que lhes estão a impedir a caminhada triunfal,porque se não for assim,triunfal,a coisa não tem graça nenhuma. O que é preciso,mais precisamente,é reduzir os outros a pó,que uma brisa leve lá para muito longe. O que é preciso é dizer cobras e lagartos dos outros,se doutras coisas não se lembrarem,para ninguém os poder olhar a direito.
Então,só assim é que se sentem felizes,lá à maneira deles,porque chamar àquilo felicidade é de não se estar bom da cabeça. Coitados deles,uns tristes,que não podem ver uma farpela lavada nos corpinhos dos outros,todos os outros,sem um escapar,um só que seja,para só eles terem uma farpela lavada.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
O CUSTÓDIO
"Como era um homem de bem e um homem de coração,acabou naturalmente pobre ,o que lhe não deve ter pesado nada,porque,a bem dizer,o fim da sua vida não foi juntar dinheiro,mas correr mundo,planear empresas,discutir letras,assinar contratos,e sonhar,sobretudo sonhar. A bem dizer cuido que o Custódio foi um grande poeta".
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II)
Obras Completas Vol.I p.189
Edição de José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II)
Obras Completas Vol.I p.189
Edição de José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
TODOS IGUAIS
X era um cidadão exemplar. Um dia,querem saber a sua opinião sob a condução da coisa pública que estava vivendo. Pior do que aquilo não podia haver.
Noutro dia,quando era outra gente a gerir a coisa pública,quiseram saber a sua opinião sobre a coisa pública que passara a viver. Pior do que aquilo não podia haver.
Em outras ocasiões,anos mais tarde,não muitos,estava X na condução da coisa pública,era opinião corrente de que pior do que aquilo munca houvera. Quer dizer,as coisas iam de mal a pior. Parecia não haver volta a dar-lhe. Era assim,cada qual que se governasse,que eram todos iguais,incluindo os cada quais,de que saíam lá os da condução da coisa pública.
Noutro dia,quando era outra gente a gerir a coisa pública,quiseram saber a sua opinião sobre a coisa pública que passara a viver. Pior do que aquilo não podia haver.
Em outras ocasiões,anos mais tarde,não muitos,estava X na condução da coisa pública,era opinião corrente de que pior do que aquilo munca houvera. Quer dizer,as coisas iam de mal a pior. Parecia não haver volta a dar-lhe. Era assim,cada qual que se governasse,que eram todos iguais,incluindo os cada quais,de que saíam lá os da condução da coisa pública.
NAS TINTAS
Há passos que não se dão na vida por haver alguém interessado em que eles se dêem,mas por outros,ainda que menos capazes. Quer dizer,quem tem a batuta na mão,quem mexe os cordelinhos,parece estar-se nas tintas para a valia da caminhada,talvez por estar convencido de que tudo vai dar ao mesmo,quaisquer que sejam os que derem esses passos.
CONTRASTE CLAMOROSO
Parece um caso de muito pensar o de se ocupar de vidas que se foram,e que deixaram rasto fundo,de admiração. Vidas algumas muito sofridas,apsar desse rasto,que deveria ter sido apreciado,louvado,em vida do que o fizera.
E então,o contraste é grande,é clamoroso,de bradar aos céus. Desses rastos,brotam rendas que não compensam os autores deles,mas antes os que se ocupam deles. Quer dizer,estiveram os autores a trabalhar não para eles mesmos,mas para os que se vêm a ocupar deles,vasculhando-lhes os baús.
E então,o contraste é grande,é clamoroso,de bradar aos céus. Desses rastos,brotam rendas que não compensam os autores deles,mas antes os que se ocupam deles. Quer dizer,estiveram os autores a trabalhar não para eles mesmos,mas para os que se vêm a ocupar deles,vasculhando-lhes os baús.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
DE IGUAL PARA IGUAL
Já não aparecia por ali há muito tempo,e ele lá saberia porquê. Parecia era estar mais novo. O boné que,naquela altura, usava condizia com o seu aparente remoçamento, Alguma coisa de bom lhe teria acontecido.
Andaria ainda na sua vida,talvez de anos,uma vida de andarilho. Teria lá as suas casas certas,espalhadas por vários bairros,casas que lhe seriam mais ou menos fiéis. E assim,lá se iria governando,umas vezes melhor,outras pior,como, de resto,sucedia com todos,incluindo lá os das casas das portas a que ,pendularmente,batia,de acordo com um programa rigoroso.
Deixara de frequentar aquela rua,mas,naquele dia,lá se dispôs a percorrê-la de novo,mas só para passar por ela. E,naquele encontro,fizera um comprimento de conhecido de longa data,um comprimento amistoso,nada servil,como se a sua vida tivesse levado uma grande volta,uma volta para melhor,muito melhor.
Fora um comprimento assim como de igual para igual,como,alás,sempre tinha sido,só que, naquela altura, de uma maneira efectiva,a indicar que já não bateria à porta.
Andaria ainda na sua vida,talvez de anos,uma vida de andarilho. Teria lá as suas casas certas,espalhadas por vários bairros,casas que lhe seriam mais ou menos fiéis. E assim,lá se iria governando,umas vezes melhor,outras pior,como, de resto,sucedia com todos,incluindo lá os das casas das portas a que ,pendularmente,batia,de acordo com um programa rigoroso.
Deixara de frequentar aquela rua,mas,naquele dia,lá se dispôs a percorrê-la de novo,mas só para passar por ela. E,naquele encontro,fizera um comprimento de conhecido de longa data,um comprimento amistoso,nada servil,como se a sua vida tivesse levado uma grande volta,uma volta para melhor,muito melhor.
Fora um comprimento assim como de igual para igual,como,alás,sempre tinha sido,só que, naquela altura, de uma maneira efectiva,a indicar que já não bateria à porta.
MESADAS GARANTIDAS
É claro que eram admitidas opiniões,viessem elas de onde viessem. Era a respiração do jogo,do jogo limpo. Só que as opiniões que se avançavam eram só para negar inteiramente o que se tinha proposto. Coitados deles,não acertavam uma sequer,por inócua que fosse,ou parecesse,ao contrário das opiniões,que acertavam sempre.
A coisa,assim,não atava,nem desatava. Era o faz que anda,mas não anda. Era um sarilho,e dos grandes,o novelo cada vez mais enredado. E quem pagava já se sabia quem era,não era preciso apontá-lo. O que se sabia é que não eram os das opiniões,que esses riam-se,e gozavam. Queriam eles lá saber,pois tinham as mesadas garantidas,
A coisa,assim,não atava,nem desatava. Era o faz que anda,mas não anda. Era um sarilho,e dos grandes,o novelo cada vez mais enredado. E quem pagava já se sabia quem era,não era preciso apontá-lo. O que se sabia é que não eram os das opiniões,que esses riam-se,e gozavam. Queriam eles lá saber,pois tinham as mesadas garantidas,
quarta-feira, 24 de junho de 2009
ASSIM NÃO DAVA
Não parecia,mas, por junto, estivera em França quase vinte anos. Regressara quando já não tinha mais meias onde guardar as notas que conseguira poupar,sabe-se lá,que ele não disse,à custa de que sacrifícios. Com elas,fez uma casita,muito melhor do que aquela que tinha deixado lá na terra de onde abalara,comprara uns pedaços de chão,que jurara serem,um dia,seus,e mais um carro,para não ter de andar a pé,que já ia ficando um bocado cansadote.
Tinha,também,à sua espera,ou ele à espera dela, uma reforma pelo tempo que lá passara. Estava com receio das burocracias,mas tudo se havia de resolver,que ele era muito paciente,pois andara numa boa escola.
Para se ir entretendo,além do emprego que arranjara,que não era grande coisa,cultivava lá os pedacitos,sobretudo aos fins de semana,mas estava a ver que o melhor era fazer só o vinhito lá de meia dúzia de cepas,pois os intermediários queriam levar tudo,e assim não dava. O que lhe valia era a mulher,que não o acompanhara lá na França,que o ajudava muito,pelo que lhe estava muito agradecido,como ela sabia.
Tinha,também,à sua espera,ou ele à espera dela, uma reforma pelo tempo que lá passara. Estava com receio das burocracias,mas tudo se havia de resolver,que ele era muito paciente,pois andara numa boa escola.
Para se ir entretendo,além do emprego que arranjara,que não era grande coisa,cultivava lá os pedacitos,sobretudo aos fins de semana,mas estava a ver que o melhor era fazer só o vinhito lá de meia dúzia de cepas,pois os intermediários queriam levar tudo,e assim não dava. O que lhe valia era a mulher,que não o acompanhara lá na França,que o ajudava muito,pelo que lhe estava muito agradecido,como ela sabia.
DE TRISTEZA
Fora um caso de muito pensar aquele de um homem, ainda novo, morrer, subitamente,dois ou três dias depois de ter sido distinguido pelo seu trabalho. Andaria já doente e as emoções teriam sido determinantes?
Alguém sugeriu que talvez tivesse morrido de tristeza. Não suportara tanta inveja,que,sem o querer,despertara.
Alguém sugeriu que talvez tivesse morrido de tristeza. Não suportara tanta inveja,que,sem o querer,despertara.
GRANDE DESGOSTO
Uma coisa daquelas não devia ter acontecido É que ela conseguira,não interessa como,subir vários degraus enquanto o diabo esfregava um olho,tendo vindo ela lá dum poiso em que nem um degrau sequer havia,por via do chão de lá ser térreo.
E tendo assim trepado tanto,trepou-lhe a importância à cabeça,passando a sentir-se muito mal com a antiga companhia,desprezando-a mesmo,nem para ela olhando.
Tratar assim quem com ela tinha vivido em horas más para todos,horas de fraternidade na penúria,era um proceder muito reprovável,de causar grande desgosto a quem tal soubesse. Nem poderia olhar direito para ela.
E tendo assim trepado tanto,trepou-lhe a importância à cabeça,passando a sentir-se muito mal com a antiga companhia,desprezando-a mesmo,nem para ela olhando.
Tratar assim quem com ela tinha vivido em horas más para todos,horas de fraternidade na penúria,era um proceder muito reprovável,de causar grande desgosto a quem tal soubesse. Nem poderia olhar direito para ela.
UMA TAL REDE
A quantidade de gente que anda por aí ainda mas que alguém já varreu ou quer varrer do mapa. É isto precisamente o que supõem as muitas expressões que a cada passo se ouvem. Não quererão significar outra coisa o "ainda está vivo?",o "já o fazia morto",o"não há meio de morrer",o "anda cá só a empatar",o"já devia ter marchado,não faz cá falta alguma",o"já devia ter morrido há mais tempo",o "esse já morreu",o "ele já deu o que tinha a dar".
Depois,num outro registo,mas de sinal da mesma família,os silêncios que se fazem,o nem querem ouvir falar deles,o ignorá-los,o massacrá-los,o condená-los,o desprezá-los,o ridicularizá-los,o reduzi-los a pó,que uma leve brisa leva por esses ares,para nunca mais.
Exagerando muito,ou caricaturando,é caso para dizer que já está tudo morto,porque não haverá quem possa escapar a uma tal rede,de malha tão apertada.
Depois,num outro registo,mas de sinal da mesma família,os silêncios que se fazem,o nem querem ouvir falar deles,o ignorá-los,o massacrá-los,o condená-los,o desprezá-los,o ridicularizá-los,o reduzi-los a pó,que uma leve brisa leva por esses ares,para nunca mais.
Exagerando muito,ou caricaturando,é caso para dizer que já está tudo morto,porque não haverá quem possa escapar a uma tal rede,de malha tão apertada.
terça-feira, 23 de junho de 2009
O ACTOR
Afinal,por alguma coisa sempre desconfiara. E ali estava ele como fora sempre,só que,naquela altura,com muitos anos em cima,já deixara de se poder resguardar,esconder. O sério que ele não era,e por que se fizera passar.
E ali estava ele,em corpo inteiro,a narrar, com aberto prazer, aquela história,em que teria sido um outro o actor principal. Que pormenores aqueles,pormenores bem desenhados,pormenores de sarjeta. Parecia ter sido ele quem os vivera,uma coisa sórdida.
Estar-se-ia a esconder ainda? Não tivera coragem de se mostrar tal qual era. A coragem dera só para contar a história. Mas o prazer com que a contara quereria dizer que,se não fora ele o actor,gostaria de ter sido.
E ali estava ele,em corpo inteiro,a narrar, com aberto prazer, aquela história,em que teria sido um outro o actor principal. Que pormenores aqueles,pormenores bem desenhados,pormenores de sarjeta. Parecia ter sido ele quem os vivera,uma coisa sórdida.
Estar-se-ia a esconder ainda? Não tivera coragem de se mostrar tal qual era. A coragem dera só para contar a história. Mas o prazer com que a contara quereria dizer que,se não fora ele o actor,gostaria de ter sido.
FALANDO DE ALTO
Fora um grande desgosto que uma vez sentira que o levara a deixar por lá passar. O vilãozinho que era ele aproveitara-se de uma situação de carência extrema para armar em soberbo dono. Quem mandava ali era ele,e só ele. E olhava de cima para os pobres carenciados,dele dependentes,suspensos da sua generosidade.
O certo é que tal disposição rendera-lhe cem por um,quer dizer,premiara-o largamente. E dera em passear-se por lá,bem medrado,feito grande senhor,falando de alto,exibindo os seus muitos anéis.
O certo é que tal disposição rendera-lhe cem por um,quer dizer,premiara-o largamente. E dera em passear-se por lá,bem medrado,feito grande senhor,falando de alto,exibindo os seus muitos anéis.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
PARQUE NACIONAL TAYRONA - COLÔMBIA
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http://www.flickr.com/photos/fredfraces/2204063782/sizes/l/
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http://www.flickr.com/photos/fredfraces/2658842376/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/bastiandoetsch/3550437654/sizes/l/
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SEMPRE A PRIMEIRA VEZ
Não seria caso único,que o mundo é vasto e muita é a gente que nele circula. Mas aquela era uma cena que não se podia perder,que merecia registo,ainda que simples.
Os olhos que ele,ao entrar, deitara ao que iria em breve comer,o seu futuro almocinho. Os olhos que ele fizera quando,efectivamente, encomendou,apontando-o. Os olhos que ele pusera quando já lhe não podia fugir,por estar bem seguro na sua mão Os olhos que ele trocara com quem olhara para ele,ao sair.
Era a cena para ficar registada,ainda que ela se repetisse,como,de facto,acontecia,como se fosse a primeira vez. De resto,era,de algum modo,sempre a primeira vez.
Os olhos que ele,ao entrar, deitara ao que iria em breve comer,o seu futuro almocinho. Os olhos que ele fizera quando,efectivamente, encomendou,apontando-o. Os olhos que ele pusera quando já lhe não podia fugir,por estar bem seguro na sua mão Os olhos que ele trocara com quem olhara para ele,ao sair.
Era a cena para ficar registada,ainda que ela se repetisse,como,de facto,acontecia,como se fosse a primeira vez. De resto,era,de algum modo,sempre a primeira vez.
UMA TREMENDA INJUSTIÇA
Não era,assim,com boas vontades,que se resolveriam os muitos e complexos problemas. As coisas eram de tal maneira graves que só num enquadramento instituído é que encontrariam solução capaz.
Faziam lembrar as boas vontades as esmolinhas. Aonde é que estas tinham endireitado vidas? Em parte alguma,em caso nenhum. De resto,as esmolinhas contemplavam apenas uma meia dúzia,uma gota de água na imensidade dos carentes. E os muitos outros? Que tivessem paciência,que chegaria a sua vez. Uma tremenda injustiça.
As coisas tinham de ser tratadas na globalidade do problema,sem amadorismos. Era,de certa maneira,um desbaratar de energias,um mau aproveitamento de recursos. De resto,também algumas dessas boas vontades esconderiam desejos de protagonismo,o que complicava ainda mais as coisas.
Faziam lembrar as boas vontades as esmolinhas. Aonde é que estas tinham endireitado vidas? Em parte alguma,em caso nenhum. De resto,as esmolinhas contemplavam apenas uma meia dúzia,uma gota de água na imensidade dos carentes. E os muitos outros? Que tivessem paciência,que chegaria a sua vez. Uma tremenda injustiça.
As coisas tinham de ser tratadas na globalidade do problema,sem amadorismos. Era,de certa maneira,um desbaratar de energias,um mau aproveitamento de recursos. De resto,também algumas dessas boas vontades esconderiam desejos de protagonismo,o que complicava ainda mais as coisas.
domingo, 21 de junho de 2009
NADA PARA DEITAR FORA
Não,nunca passei por essa terra,mas sou de lá perto. Pois então vou-lhe contar uma história lá passada,há aí uns vinte e mais anos.
Deviam ser umas quatro da tarde de um dia muito quente de verão. Entrei numa espécie de bar e pedi uma água mineral e pão com queijo. Ao ver o queijo, perguntei se ali era costume comê-lo com casca,que era assim que ele estava lá entre o pão. Disseram que sim. Não era o melhor do queijo,mas não era nada para deitar fora.
Pois lá na minha terra,quando por lá andei,acontecia o mesmo. Era hábito lá da região,e não consta que tivesse alguém morrido por isso. Se o não comessem é que podia ter sido o diabo.
Deviam ser umas quatro da tarde de um dia muito quente de verão. Entrei numa espécie de bar e pedi uma água mineral e pão com queijo. Ao ver o queijo, perguntei se ali era costume comê-lo com casca,que era assim que ele estava lá entre o pão. Disseram que sim. Não era o melhor do queijo,mas não era nada para deitar fora.
Pois lá na minha terra,quando por lá andei,acontecia o mesmo. Era hábito lá da região,e não consta que tivesse alguém morrido por isso. Se o não comessem é que podia ter sido o diabo.
RADICAIS LIVRES E ANTIOXIDANTES
Radical livre é um átomo ou grupo de átomos com um electrão desemparelhado. É extremamente reactivo. A sua vida é curta ,mas pode ocasionar reacções biológicas indesejáveis. Os antioxidantes previnem ou atenuam essas reacções,como se oferecendo em alternativa,
"imolando-se".
"imolando-se".
MUITO AMIGOS
Então,não tens medo de andar por aqui sozinho mais as tuas ovelhas? Olha que em tempos andaram lobos por estes sítios. Eu sei isso muito bem,que os meus pais,de vez em quando,falam nisso,mas agora já não há. Posso andar por aqui descansado.
Mas se um dia derem,outra vez,em aparecerem,tenho quem me defenda. É esse cão que aí está. Ele não ia deixar que os lobos me fizessem mal. Somos muito amigos.
Mas se um dia derem,outra vez,em aparecerem,tenho quem me defenda. É esse cão que aí está. Ele não ia deixar que os lobos me fizessem mal. Somos muito amigos.
LANTERNAS VERMELHAS
E,a dada altura,os sem amparo lá se lançam na vida,desprotegidos,assim como ao Deus dará,ao contrário dos outros,os que têm rectaguarda,seja ela qual for,familiares,padrinhos,amigos. Destes,não vale a pena falar,mas dos outros sim,por terem muito para contar,histórias,às vezes,do arco da velha.
Sabe-se lá o que os espera. Só sabem é que se têm de aguentar sozinhos,só sabem é que têm de contornar escolhos,saltar barreiras,vencer desfiladeiros. Ora,sozinhos,sentem eles que não podem ir longe,que o mais provável é não passarem da cepa torta,da soleira,do primeiro degrau.
Então,vá de arranjar muletas,Deus,manhas suas. É que devem ter ouvido aos já lançados na vida que têm de correr e não se fiarem só na virgem. Pode ser que assim,com Deus,e correndo,que não fiquem irremediavelmente para trás,feitos lanternas vermelhas.
Sabe-se lá o que os espera. Só sabem é que se têm de aguentar sozinhos,só sabem é que têm de contornar escolhos,saltar barreiras,vencer desfiladeiros. Ora,sozinhos,sentem eles que não podem ir longe,que o mais provável é não passarem da cepa torta,da soleira,do primeiro degrau.
Então,vá de arranjar muletas,Deus,manhas suas. É que devem ter ouvido aos já lançados na vida que têm de correr e não se fiarem só na virgem. Pode ser que assim,com Deus,e correndo,que não fiquem irremediavelmente para trás,feitos lanternas vermelhas.
sábado, 20 de junho de 2009
UMA RATOEIRA
A casita já não era nova. Teria sido já dos pais,ou dos avós. A terra ali,à beira da estrada,era melhor,até havia um poço,que dava para ter uma hortinha,onde pontificavam couves que pareciam árvores. Também por lá se viam algumas videiras,que não dariam para os gastos de um ano.
Em tempos,seria aquilo uma ilha no meio de mato bravio. Nessas alturas, os horizontes eram largos. Mas depois,a pouco e pouco,as vistas deram em tapar-se,por via de plantações de eucaliptos.
E lá surgiu ali uma ratoeira,que traria os habitantes da casita em grande sobressalto,não sendo preciso explicar porquê. Só pela estrada é que poderiam escapar,mas para isso tinham de andar quilómetros e mais quilómetros,para um lado e para o outro. Um sarilho dos grandes. Tinham de rogar a todos os santos para dele os livrar,que dali não podiam sair,lá por coisas.
Em tempos,seria aquilo uma ilha no meio de mato bravio. Nessas alturas, os horizontes eram largos. Mas depois,a pouco e pouco,as vistas deram em tapar-se,por via de plantações de eucaliptos.
E lá surgiu ali uma ratoeira,que traria os habitantes da casita em grande sobressalto,não sendo preciso explicar porquê. Só pela estrada é que poderiam escapar,mas para isso tinham de andar quilómetros e mais quilómetros,para um lado e para o outro. Um sarilho dos grandes. Tinham de rogar a todos os santos para dele os livrar,que dali não podiam sair,lá por coisas.
LÁ NOS CONFINS
Já lá iam muitos anos,mas fora uma coisa que nunca ele esquecera. O que se teria passado para tal acontecer?
Vinha ele lá do seu trabalho e eram horas de almoçar. Estava ali uma porta aberta com ares de dar de comer a quem tinha fome e ele entrou.
A sala estava vazia. Era uma sala com algumas mesas,muito bem postas. Lá pediu o que lhe apeteceu e esperou. Entretanto,chegou mais gente,uma senhora,aí de uns quarenta anos,com um filho aí de dez.
Lá veio o que tinha pedido e lá comeu. E aquela mãe,e aquele filho,ali mesmo ao lado,a fazer o mesmo. Parecia nada mais ter acontecido,o que,de facto,aconteceu.
O certo é que aquele almoço,naquela terra meio perdida lá nos confins,nunca mais fora esquecido. O que teria acontecido,se nada aconteceu?
Vinha ele lá do seu trabalho e eram horas de almoçar. Estava ali uma porta aberta com ares de dar de comer a quem tinha fome e ele entrou.
A sala estava vazia. Era uma sala com algumas mesas,muito bem postas. Lá pediu o que lhe apeteceu e esperou. Entretanto,chegou mais gente,uma senhora,aí de uns quarenta anos,com um filho aí de dez.
Lá veio o que tinha pedido e lá comeu. E aquela mãe,e aquele filho,ali mesmo ao lado,a fazer o mesmo. Parecia nada mais ter acontecido,o que,de facto,aconteceu.
O certo é que aquele almoço,naquela terra meio perdida lá nos confins,nunca mais fora esquecido. O que teria acontecido,se nada aconteceu?
COMPROMETE
Embora com algum exagero,parece poder dizer-se que nada há de mais cristão do que dar ou dar-se.
Assim,quando não se dá,na acção que envolva o acto,o termo cristão não está lá a fazer nada. Mais grave ainda,compromete,e de que maneira.
Assim,quando não se dá,na acção que envolva o acto,o termo cristão não está lá a fazer nada. Mais grave ainda,compromete,e de que maneira.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
NECESSIDADE
A estrada,ali,tinha,de um lado,o rio,e do outro,uma correnteza de casas,a maioria de rés-do-chão. Quase não havia passeio.
Chovera muito nos últimos dias,pelo que o rio corria em jeito de sair do leito,inundando a estrada,e entrando nas casas,o que já teria acontecido noutras ocasiões. Não seria novidade,pois, para a gente que ali costumava passar,e,sobretudo,que ali morava.
Estariam,naquela altura,as famílias muito raladas,em particular,os pais. As crianças é que não davam mostras de apoquentações,visto andarem por ali como numa festa.
Que ideia aquela de fazerem habitações mesmo ali à beiro do rio. E o que levava a gente que nelas vivia em escolherem tal poiso? Necessidade a quanto obrigas.
Chovera muito nos últimos dias,pelo que o rio corria em jeito de sair do leito,inundando a estrada,e entrando nas casas,o que já teria acontecido noutras ocasiões. Não seria novidade,pois, para a gente que ali costumava passar,e,sobretudo,que ali morava.
Estariam,naquela altura,as famílias muito raladas,em particular,os pais. As crianças é que não davam mostras de apoquentações,visto andarem por ali como numa festa.
Que ideia aquela de fazerem habitações mesmo ali à beiro do rio. E o que levava a gente que nelas vivia em escolherem tal poiso? Necessidade a quanto obrigas.
COM MUITO GOSTO
Irresistível. Aproximavam-se três gerações,em que uma das pontas andaria pelos cem anos,e a outra pelos dias. Uma realidade que não podia ser deixada passar,por todos os motivos e mais um,sem uma observação. E foi,o que,irresistivelmente,se fez.
A centenária quase nem deu conta do reparo,parecendo aquilo não ser com ela. O bebé estaria,talvez,muito concentrado na fome que já ia tendo. A jovem mãe é que correspondeu,com muito gosto.
A centenária quase nem deu conta do reparo,parecendo aquilo não ser com ela. O bebé estaria,talvez,muito concentrado na fome que já ia tendo. A jovem mãe é que correspondeu,com muito gosto.
ERA O QUE FALTAVA
Tinha graça,tinha,se ele não pudesse andar como ele bem entendia,pentear-se como ele mais gostava,vestir-se como ele queria,adornar-se como lhe vinha à cabeça,fazer o que lhe dava mais gosto.
Pedira dinheiro a alguém para assim proceder? Não,podia prová-lo . Então,metessem-se lá com a sua vida que ele tinha a dele,niguém tinha nada com isso,era o que faltava. Têm carro? Pois também eu tenho,e de uma boa marca,como podiam ver,se estivessem interessados.
Dão esmolas aos pobrezinhos? Também eu dou,se calhar muito maiores do que a de muitos ,que dáo só umas moedinhas,quando podiam dar uma coisa que se visse. Estão casados? Também eu estou,e gosto muito da minha mulher,e da minha filha,que está ali quase uma mulher.
Ora metam-se lá com a sua vida,que eu tenho a minha,ninguém tem nada com issso,que eu não me meto com a dos outros,que,não sei porquê,quando me vêem,parece que viram um fantasma,pela cara que põem. Já uma pessoa não pode andar com quer? Era o que faltava.
Pedira dinheiro a alguém para assim proceder? Não,podia prová-lo . Então,metessem-se lá com a sua vida que ele tinha a dele,niguém tinha nada com isso,era o que faltava. Têm carro? Pois também eu tenho,e de uma boa marca,como podiam ver,se estivessem interessados.
Dão esmolas aos pobrezinhos? Também eu dou,se calhar muito maiores do que a de muitos ,que dáo só umas moedinhas,quando podiam dar uma coisa que se visse. Estão casados? Também eu estou,e gosto muito da minha mulher,e da minha filha,que está ali quase uma mulher.
Ora metam-se lá com a sua vida,que eu tenho a minha,ninguém tem nada com issso,que eu não me meto com a dos outros,que,não sei porquê,quando me vêem,parece que viram um fantasma,pela cara que põem. Já uma pessoa não pode andar com quer? Era o que faltava.
AVAREZA
Todos quererão ser ricos. É muito mais fácil continuar na riqueza do que sair da pobreza. Ninguém quererá ser pobre. Quem um dia extendeu a mão à caridade não mais o esquecerá. A pobreza é má conselheira. A pobreza é a mãe da avareza.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
MOEDA
A herança não é só dinheiro,ou o equivalente em coisas. Pois não. A herança,coisa evidente,é tudo quanto herdado é dos progenitores. Pode lá estar muita coisa,boa, má,assim assim. O que se herda lá está a lembrá-los,a perpetuá-los.
A herança diferencia,a herança separa,a herança fractura. A herança pode ser o diabo,ainda que se não queira,ainda que de dinheiro,ali à vista,contado,não seja. O diabo não escolhe moeda.
A herança diferencia,a herança separa,a herança fractura. A herança pode ser o diabo,ainda que se não queira,ainda que de dinheiro,ali à vista,contado,não seja. O diabo não escolhe moeda.
PAVONEAR-SE
Tal como na selva. Parecia ter chegado a vez dele. O outro,o chefe do momento,o mandão,o rei,como se lhe queira chamar,já não era o mesmo de há uns tempos,tempos que não havia meio de mudar de dono,tempos do quer,posso e mando. O que ele passara,ao mando dele,não o desejava ao maior "inimigo".
Naquela altura é que era aproveitar. Era altura de o desafiar,que ele já não era o mesmo de tempos atrás,de tempos de vitória,que ainda cheirava. A volúpia que sentia,um prazer novo. É que já antevia uma hora nova,a hora em que o passariam a respeitar,como se tinha feito com o outro. Era um prazer muito grande,uma coisa que ele nunca tinha sentido. O prazer seria ainda maior,certamente,quando ele lá estivesse no topo,no lugar do "inimigo".
Bastava ter visto e sentido,como o ainda chefe se pavoneava por essas ruas e praças,quando se expunha. Era o que ele iria fazer quando o removesse lá do cadeirão,daquele poiso tão sonhado,que até lhe doíam,às vezes,os sonhos,de tão vividos que eles eram. Havia de lhes mostrar,sobretudo a ele,ao que iria desalojar,o que era pavonear-se. Não teriam sido em vão os esforços que fizera para bem o fazer. Haveria de mostrar,sobretudo a ele,ao derrotado,o que era pavonear-se.
Naquela altura é que era aproveitar. Era altura de o desafiar,que ele já não era o mesmo de tempos atrás,de tempos de vitória,que ainda cheirava. A volúpia que sentia,um prazer novo. É que já antevia uma hora nova,a hora em que o passariam a respeitar,como se tinha feito com o outro. Era um prazer muito grande,uma coisa que ele nunca tinha sentido. O prazer seria ainda maior,certamente,quando ele lá estivesse no topo,no lugar do "inimigo".
Bastava ter visto e sentido,como o ainda chefe se pavoneava por essas ruas e praças,quando se expunha. Era o que ele iria fazer quando o removesse lá do cadeirão,daquele poiso tão sonhado,que até lhe doíam,às vezes,os sonhos,de tão vividos que eles eram. Havia de lhes mostrar,sobretudo a ele,ao que iria desalojar,o que era pavonear-se. Não teriam sido em vão os esforços que fizera para bem o fazer. Haveria de mostrar,sobretudo a ele,ao derrotado,o que era pavonear-se.
PARA A RUA
Ele andava ali com uma alma nova. Ainda não estaria tudo perdido. A casa estava cheia,não era como em outros dias,em que estivera às moscas. As apreensões por que passara. Se calhar,iam-no dispensar,era o mais certo,que aquilo assim não dava,ele compreendia,e depois,com é que se iria arranjar?
A casa estava cheia. Poderia ser que fosse o começo de uma nova era,que a casa passasse a estar sempre cheia,que era assim que o patrão gostaria de ver,e assim,já não o mandaria embora.
Parecia alegre,pelo menos,sorria. Mas olhando-o bem,ainda se viam,bem visíveis,os maus momentos que atravessara,na cara muito pálida,magra,nos olhos encovados,olheirentos,naquele olhar onde havia ainda uns restos de pavor,de ter ir,mais uma vez,para a rua,para ficar em casa,sem nada fazer.
A casa estava cheia. Poderia ser que fosse o começo de uma nova era,que a casa passasse a estar sempre cheia,que era assim que o patrão gostaria de ver,e assim,já não o mandaria embora.
Parecia alegre,pelo menos,sorria. Mas olhando-o bem,ainda se viam,bem visíveis,os maus momentos que atravessara,na cara muito pálida,magra,nos olhos encovados,olheirentos,naquele olhar onde havia ainda uns restos de pavor,de ter ir,mais uma vez,para a rua,para ficar em casa,sem nada fazer.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
ERA DEMAIS
Pobre professora. O que ela tinha de fazer. Tinha de ir levar o filho à creche,tinha de ir abrir a porta da escola,tinha de aturar os alunos,uns três ou quatro,tinha de aturar uma valente constipação que não havia meio de a largar.
Pobre professora que nunca chegava a horas por via do impossível trânsito. Pobre professora que tinha de acudir aos exigentes alunos,que tinham também lá as suas vidas exigentes. Pobre professora que mais parecia um farrapo molhado.
Foi aquilo demais para um dos alunos. A pena que ele tinha da professora,a pena que ele tinha dos colegas,todos lá com as suas vidas encalacradas,sem lhes poder valer. Era demais. Que a professora curasse depressa a constipação teimosa e que os alunos encontrassem soluções para as suas vidas.
TAROKO NATIONAL PARK - TAIWAN
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SÓ NOSSO
Não sabia ele porque tinham aquele procedimento,porque quem assim não sabia nunca tinha procedido daquela maneira. Era uma coisa lá dessa gente com quem ele lidava de perto. E os outros,os lá de longe, teriam também o mesmo proceder? Era uma coisa que o trazia muito preocupado.
Afinal,do que se tratava? Acabava de contar uma coisa,a maior parte das vezes,uma coisa sem importância,e o comentário,ainda que com variantes,as variantes de ocasião,ligadas à pessoa,ao tempo,à circunstância,para falar bem e depressa, era sempre o mesmo. Ah,ele é isso? Pensei que fosse outra coisa. Essa já e velha,e não é bem assim,está mal contada. Ou essa já eu sabia,só que estava esquecida,sabes,não se pode reter tudo,não dá. Ou então,olha a grande novidade,isso vem em qualquer jornal,acabei agora mesmo de ler.
Há outras variantes,mais ou menos sofisticadas,mas todas querendo dizer a mesma coisa. Vem este para cá armado em esperto,julga que do outro lado da fronteira são todos uns ignorantes,mas está muitíssimo enganado. Tem de aprender mais umas coisinhas para chegar ao nosso nível,um nível especial,só nosso.
Afinal,do que se tratava? Acabava de contar uma coisa,a maior parte das vezes,uma coisa sem importância,e o comentário,ainda que com variantes,as variantes de ocasião,ligadas à pessoa,ao tempo,à circunstância,para falar bem e depressa, era sempre o mesmo. Ah,ele é isso? Pensei que fosse outra coisa. Essa já e velha,e não é bem assim,está mal contada. Ou essa já eu sabia,só que estava esquecida,sabes,não se pode reter tudo,não dá. Ou então,olha a grande novidade,isso vem em qualquer jornal,acabei agora mesmo de ler.
Há outras variantes,mais ou menos sofisticadas,mas todas querendo dizer a mesma coisa. Vem este para cá armado em esperto,julga que do outro lado da fronteira são todos uns ignorantes,mas está muitíssimo enganado. Tem de aprender mais umas coisinhas para chegar ao nosso nível,um nível especial,só nosso.
DESTINO MARCADO
Está bem, está,para cá vêm de carrinho. Têm de crescer muito mais. Eu não vou assim com três cantigas,era o que faltava. Queriam,mas desta vez não levam nada. Talvez para a próxima,ou talvez nunca,quem sabe?,que a vida é curta,pois ainda mal se tinham sentado,lá se foram. Coisas que acontecem,quase sem se darem por elas,é um ar que lhes dá,e pronto,caso arrumado,sem terem dito adeus,que no dia seguinte estavam de volta. Isso era o que eles pensavam,coitados.
Por outro lado,dali não levavam nada,pois já estava tudo decidido. Não era coisa recente,não
senhor,que ali as coisas decidiam-se muito antes,mesmo antes de se ter nascido. Era assim como o ter o destino marcado,não havia nada a fazer. Aquela do "veni,vidi,vici" era só para dar nas vistas,ou,melhor,nos ouvidos.
De resto,para falar bem e depressa,já se sabia tudo,pelo que não vinham ensinar nada. Assim,
podiam ir dar uma volta,que havia por lá muita coisa para ver,e de graça,pois se fosse a pagar
passassem por lá muito bem,que coisas de graça era ainda o que não faltava. Batessem a outra porta que dali não levavam nada. Talvez para outra vez,e que passassem por lá muito bem,
que,para mal,já tinham a sua conta.
Por outro lado,dali não levavam nada,pois já estava tudo decidido. Não era coisa recente,não
senhor,que ali as coisas decidiam-se muito antes,mesmo antes de se ter nascido. Era assim como o ter o destino marcado,não havia nada a fazer. Aquela do "veni,vidi,vici" era só para dar nas vistas,ou,melhor,nos ouvidos.
De resto,para falar bem e depressa,já se sabia tudo,pelo que não vinham ensinar nada. Assim,
podiam ir dar uma volta,que havia por lá muita coisa para ver,e de graça,pois se fosse a pagar
passassem por lá muito bem,que coisas de graça era ainda o que não faltava. Batessem a outra porta que dali não levavam nada. Talvez para outra vez,e que passassem por lá muito bem,
que,para mal,já tinham a sua conta.
DOENÇA NOVA
Não era para acreditar. Em vez de estarem muito caladinhos,por ser aquilo um assunto lá da família,que não deveria estar para ali a ser lembrado,um assunto que não tinha corrido nada bem,até com coisas muito desagradáveis,em vez de estarem muito caladinhos,dizia-se,não senhor,vinham para ali falar nele,como se aquilo não lhes dissesse respeito.
Era mesmo uma coisa sem jeito algum,uma coisa para gente de pouco juízo,o que não era o caso,muito longe disso. Era mesmo coisa sem explicação. Teriam sido apanhados por alguma doença nova,sem tratamento ainda,doença que os levava,sem quererem,a falar de coisas de que,vistas elas bem,seriam os últimos a falar delas,por serem assuntos lá da família? Deveria ser isso,coitados deles,o que lhes havia de acontecer?
Era mesmo uma coisa sem jeito algum,uma coisa para gente de pouco juízo,o que não era o caso,muito longe disso. Era mesmo coisa sem explicação. Teriam sido apanhados por alguma doença nova,sem tratamento ainda,doença que os levava,sem quererem,a falar de coisas de que,vistas elas bem,seriam os últimos a falar delas,por serem assuntos lá da família? Deveria ser isso,coitados deles,o que lhes havia de acontecer?
terça-feira, 16 de junho de 2009
SUGESTÃO INTEGRADORA
Podia dizer-se que acertara em cheio. O que muito admirava era o ainda não ter aparecido,
depois de tantos anos da ocorrência,um outro,ou mais,com a mesma ideia,o de lhe ter dado uma cara que não fosse a cara de um qualquer,nem,o que seria de muito mau gosto,a cara de alguém em especial. Deveria ser uma cara de todos,ou uma cara de ninguém,para que todos se vissem nela representados,ou,pelo menos,terem essa sugestão ideal,integradora.
depois de tantos anos da ocorrência,um outro,ou mais,com a mesma ideia,o de lhe ter dado uma cara que não fosse a cara de um qualquer,nem,o que seria de muito mau gosto,a cara de alguém em especial. Deveria ser uma cara de todos,ou uma cara de ninguém,para que todos se vissem nela representados,ou,pelo menos,terem essa sugestão ideal,integradora.
PARQUE NACIONAL TORRES DEL PAINE,PATAGÓNIA - CHILE
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TER PENA DELES
Eram malabaristas da palavra,tendo armazéns delas. Procuravam enredar,confundir,deitando poeira para os olhos,quer dizer,debitando caudais delas. Mestres no sofisma,deleitavam-se com as suas conclusões enganosas. Assim é que se sentiam bem.
Embalados pelas suas aparentes vitórias,que só o eram para alguns,pavoneavam-se como triunfadores,chegando a convencer-se de que tinham saído vencedores.
A paciência que era preciso ter com eles,sabendo-se que não os demoviam,pois eram assim,
tinham nascido assim,gostavam de ser assim,morreriam assim,pelo que não havia nada a fazer,a não ser perdoar-lhes,e ter pena deles,que eles não sabiam o mal que a eles próprios infligiam.
Embalados pelas suas aparentes vitórias,que só o eram para alguns,pavoneavam-se como triunfadores,chegando a convencer-se de que tinham saído vencedores.
A paciência que era preciso ter com eles,sabendo-se que não os demoviam,pois eram assim,
tinham nascido assim,gostavam de ser assim,morreriam assim,pelo que não havia nada a fazer,a não ser perdoar-lhes,e ter pena deles,que eles não sabiam o mal que a eles próprios infligiam.
GLÓRIA
Que tempos aqueles. Havendo fortuna e filhos,a fortuna ficava para o que tinha primeiro visto a luz do dia,ou da noite,tanto faz. Os outros que se fizessem à vida,que havia por lá muito para colher,assim se soubesse,se queriam ter vida melhor da que os esperava,vivendo às sopas do primogénito,que não seriam,aliás, nada para enjeitar.
E assim, lá partiam alguns à cata da tal vida melhor,com coisa que se visse,que valesse a pena. De boa cepa,donairosos,bem depressa se arranjavam. A normal via para isso era o manejo das armas,pois naqueles tempos,muito ao contrário dos que vieram depois,havia desentendimentos por tudo e por nada.
E assim,para que fortuna se não dividisse,fortuna se tinha de arranjar,desse por onde desse,ainda que para isso se tivesse de arriscar a vida,cobrindo-se de glória.
E assim, lá partiam alguns à cata da tal vida melhor,com coisa que se visse,que valesse a pena. De boa cepa,donairosos,bem depressa se arranjavam. A normal via para isso era o manejo das armas,pois naqueles tempos,muito ao contrário dos que vieram depois,havia desentendimentos por tudo e por nada.
E assim,para que fortuna se não dividisse,fortuna se tinha de arranjar,desse por onde desse,ainda que para isso se tivesse de arriscar a vida,cobrindo-se de glória.
MÃE GENEROSA
Uma força da natureza. Jovem ainda,nem alta,nem baixa,nem gorda,nem magra,assim assim,o suficiente,com uma filhita,de três ou quatro anitos. Uma linha de montagem de palavras,sem avarias,nem descansos. Uma torrente ruidosa,ecoando por vales e montes.
Era um falar sempre bem disposto,um falar de camarada,um falar de filha,um falar de mãe. Era a alma daquela casa,era aquela casa. Todos a procuravam,todos gostavam dela.
O marido,um paz de alma,nem se dava por ele,por ali andava,feito sombra,sombra activa,cuidava da casa,cuidava da filha. E ouvia a mulher,no seu estar,tão contrário ao dele,que saíra calado,mas não mudo. Nem pareciam marido e mulher. Lembrava ela uma mãe generosa que mais filhos quereria ter,chegando para todos quantos viessem.
Era um falar sempre bem disposto,um falar de camarada,um falar de filha,um falar de mãe. Era a alma daquela casa,era aquela casa. Todos a procuravam,todos gostavam dela.
O marido,um paz de alma,nem se dava por ele,por ali andava,feito sombra,sombra activa,cuidava da casa,cuidava da filha. E ouvia a mulher,no seu estar,tão contrário ao dele,que saíra calado,mas não mudo. Nem pareciam marido e mulher. Lembrava ela uma mãe generosa que mais filhos quereria ter,chegando para todos quantos viessem.
DE BOCA ABERTA
São um nunca mais acabar,"as torres de Babel",por esses cantos de aquém e de além,em jeito,talvez,de imitação,para não ficar,talvez,para trás. Umas,apenas,ao acaso. Os Jardins Suspensos de Babilónia. Os Palácios Persas.O Colosso de Rodes. As Pirâmides do Egipto. O Coliseu de Roma. O Museu Hermitage. O Pártenon. O Convento de Mafra. A Torre Eiffel. A Estátua da Liberdade. O Palácio de Schonbrunn. Os Arranha-Céus. O Palácio de Belvedere. O Sanssouci. O Palácio Real de Aranjuez. O Escorial. As Pirâmides Mexicanas. Os Palácios da Baviera. A Praça Vermelha. As Estátuas da Ilha da Páscoa. A Cidade Proibida. A Muralha da China. O Palácio Branco de Lassa. A Praça Tianamenn. Os Financial Centers. É de arrasar,de ficar de boca aberta,com a língua de fora.E mesmo ali ao lado,à escala do Universo,O Céu Estrelado,O Sol,As Nuvens,A Chuva,Os Himalaias,Os Glaciares,Os Canyons,A Hemoglobina,As Avezinhas,A Clorofila,As Ervinhas,As Florestas,A Comidinha,O Coração.É de arrasar,de ficar de boca aberta,com a língua de fora.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
O MESMO
Era aquilo uma constante nele,sempre sobraçando três,quatro,ou mais jornais desportivos. Mas parecia não ter pressa para ir lê-los,bastar-lhe-ia o trazê-los,bem aconchegados,não fosse cair-lhes,e sujarem-se na rua suja,de cães,não de gatos,que gatos nas ruas por ali não havia.
A passada era lenta,as paragens muitas,que ele gostaria de ver quem passava. Eram as esquinas os poisos preferidos,talvez porque de mais movimento. Parecia não ter pressa,parecia ter sido aquela a primeira vez que ali estava,parecia não ser tarde ainda,para ir ler os jornais.
Teria o dia todo,e a noite também. Não teria mais nada para fazer,pois já teria feito tudo,excepto estar a par do que os jornais diziam. Parecia mudo,mas mudo não era,que se lhe ouvira já dizer coisas,não muitas as coisas,as suficientes para mostrar como ele era,ou não,pois nunca se sabia como eram tais coisas.
Mas o que ele dissera,dissera-o alto,alto e convicto,para que todos ouvissem,pelo menos os que ali perto estavam,e não restasse a mínima dúvida,por mínima que fosse. Sim,voltaria a fazer o mesmo,e com muita honra.
A passada era lenta,as paragens muitas,que ele gostaria de ver quem passava. Eram as esquinas os poisos preferidos,talvez porque de mais movimento. Parecia não ter pressa,parecia ter sido aquela a primeira vez que ali estava,parecia não ser tarde ainda,para ir ler os jornais.
Teria o dia todo,e a noite também. Não teria mais nada para fazer,pois já teria feito tudo,excepto estar a par do que os jornais diziam. Parecia mudo,mas mudo não era,que se lhe ouvira já dizer coisas,não muitas as coisas,as suficientes para mostrar como ele era,ou não,pois nunca se sabia como eram tais coisas.
Mas o que ele dissera,dissera-o alto,alto e convicto,para que todos ouvissem,pelo menos os que ali perto estavam,e não restasse a mínima dúvida,por mínima que fosse. Sim,voltaria a fazer o mesmo,e com muita honra.
À CATA DE COISAS
Era triste a cena,muito triste. Da casa,tinha restado uma meia dúzia de cacos. Passara por lá,não interessa o quê,um quê do diabo que se não cansa de pregar partidas,a enxurrada,o vendaval,a terra a tremer.
Ela andava por lá,lentamente,como nos belos tempos,recolhendo o que lhe parecia valer a pena. Mas o melhor tinha ido para sempre. Eram coisas dela,muito dela,de mais ninguém. Muito lhe custara tê-las.
E,de repente,não sabia como,deu-lhe para se interrogar,para duvidar de que as coisas que tinha perdido para sempre fossem mesmo suas. Que coisas eram essas coisas? E ela,o que era ela,não seria também um "caco" que valesse a pena colher?
Era triste a cena. A cena de ela andar por ali à cata de coisas,que eram uma triste recordação do que tinham sido,ou pareciam ter sido. E ela,também,não um "caco",mas uma triste amostra do que fora um dia.
Ela andava por lá,lentamente,como nos belos tempos,recolhendo o que lhe parecia valer a pena. Mas o melhor tinha ido para sempre. Eram coisas dela,muito dela,de mais ninguém. Muito lhe custara tê-las.
E,de repente,não sabia como,deu-lhe para se interrogar,para duvidar de que as coisas que tinha perdido para sempre fossem mesmo suas. Que coisas eram essas coisas? E ela,o que era ela,não seria também um "caco" que valesse a pena colher?
Era triste a cena. A cena de ela andar por ali à cata de coisas,que eram uma triste recordação do que tinham sido,ou pareciam ter sido. E ela,também,não um "caco",mas uma triste amostra do que fora um dia.
BOAS AS INTENÇÕES
Coitada da senhora,para o que lhavia de dar. Não emigreis,não emigreis. As intenções dela seriam boas,seriam. Mas não havia nada a fazer,que outros valores mais altos,mais atractivos,
os atraíam.
Era,acima de tudo,o rico dinheirinho,o valor por excelência. Sem ele,eles sabiam muito bem o que os esperava,tinham disso larga experiência. Eles bem certos estavam do que lhes aconteceria se lá continuassem nas suas terrinhas de que eles gostavam muito,mas que não lhes podiam valer,que elas pobrezinhas também eram.
E era disso que eles se queriam livrar,pois ja tinham a sua conta,uma conta bem pesada de privações. Seriam boas as intenções dela,dessa senhora,seriam. Teria também tido as suas dificuldades,mas seriam doutra natureza. Certamente que lhes perdoou o não terem feito o que ela queria.
os atraíam.
Era,acima de tudo,o rico dinheirinho,o valor por excelência. Sem ele,eles sabiam muito bem o que os esperava,tinham disso larga experiência. Eles bem certos estavam do que lhes aconteceria se lá continuassem nas suas terrinhas de que eles gostavam muito,mas que não lhes podiam valer,que elas pobrezinhas também eram.
E era disso que eles se queriam livrar,pois ja tinham a sua conta,uma conta bem pesada de privações. Seriam boas as intenções dela,dessa senhora,seriam. Teria também tido as suas dificuldades,mas seriam doutra natureza. Certamente que lhes perdoou o não terem feito o que ela queria.
domingo, 14 de junho de 2009
MADAGÁSCAR
http://www.flickr.com/photos/google-news/2574919620/sizes/l/
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http://www.flickr.com/photos/marthaenpiet/99287830/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/marthaenpiet/98243861/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/marthaenpiet/99287225/sizes/o/
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UMA SINA
Que tempos aqueles,tempos para esquecer,ou então,recordar para se rir deles,que aquilo não servia a ninguém. Eram uns tempos vazios de ideias em que não entrasse gente conhecida,ou julgada conhecer,incluindo o tu e o eu.
Que sina aquela. Mal germinava uma ideia,das tais sem gente conhecida,ou julgada conhecer,intrometia-se logo este e aquele,sobretudo,o "inimigo",estragando a festa. E pronto,lá estava o caldo entornado,e pronto,lá se ia a ideia sem gente conhecida,ou julgada conhecer.
Era aquele um tempo vazio de ideias,das tais que interessava ter,ideias sem coisas de ao pé da porta,ideias largas,abarcando meio mundo. E não se passava do umbigo,mais exactamente,do umbigo e arredores. Era uma sina aquilo.
Que sina aquela. Mal germinava uma ideia,das tais sem gente conhecida,ou julgada conhecer,intrometia-se logo este e aquele,sobretudo,o "inimigo",estragando a festa. E pronto,lá estava o caldo entornado,e pronto,lá se ia a ideia sem gente conhecida,ou julgada conhecer.
Era aquele um tempo vazio de ideias,das tais que interessava ter,ideias sem coisas de ao pé da porta,ideias largas,abarcando meio mundo. E não se passava do umbigo,mais exactamente,do umbigo e arredores. Era uma sina aquilo.
O TENTADOR
A ser verdade o que ele contava,um velhinho muito velho,naqueles antigos tempos,aquilo deveria ser um inferno. Eram tempos nada parecidos com os que se estavam vivendo,tempos de paz,de concórdia,de interajuda,de amparar,de compreender,de perdoar. Não se podia aplicar assim o conhecido quem sai aos seus não degenera. É que tinham degenerado mesmo muito,nem pareciam da mesma espécie. Não eram nada como os de lá de trás,gente muito conflituosa.
Por tudo e por nada,questionavam,zangavam-se,entravam em vias de facto,maltratando-se,guerreando-se,chegando a matarem-se. E diziam-se muito religiosos,e andavam sempre com o nome de Deus na boca,indo mesmo para as refregas invocando-O.
Depois,uns eram os senhores,outros não se sabia bem o que eram,eram assim uns paus mandados,prontos para todo o serviço. O que se sabia é que se fartavam de trabalhar,de sol a sol,e mesmo,quando calhava,pela noite dentro. Outros,ora outros,aquilo eram quase só festas,e caçadas,todos muito bem enfarpelados,cheirando muito bem.
Que ricos exemplos eles davam,esses bem paramentados. Aquele modo de vida era tão bom,lembrando paraíso,que não havia ninguém,desses de sol a sol,e mesmo de gente intermédia,que a não quisesse ter,fazendo tudo por isso,o que, às vezes acontecia,pois era tudo a mesma gente,sem tirar,nem pôr. Quem é que não quereria ter uma vida assim? Só um santo,e mesmo esse, coitado,muito ele deveria rogar a Deus para que afastasse dele o tentador.
Por tudo e por nada,questionavam,zangavam-se,entravam em vias de facto,maltratando-se,guerreando-se,chegando a matarem-se. E diziam-se muito religiosos,e andavam sempre com o nome de Deus na boca,indo mesmo para as refregas invocando-O.
Depois,uns eram os senhores,outros não se sabia bem o que eram,eram assim uns paus mandados,prontos para todo o serviço. O que se sabia é que se fartavam de trabalhar,de sol a sol,e mesmo,quando calhava,pela noite dentro. Outros,ora outros,aquilo eram quase só festas,e caçadas,todos muito bem enfarpelados,cheirando muito bem.
Que ricos exemplos eles davam,esses bem paramentados. Aquele modo de vida era tão bom,lembrando paraíso,que não havia ninguém,desses de sol a sol,e mesmo de gente intermédia,que a não quisesse ter,fazendo tudo por isso,o que, às vezes acontecia,pois era tudo a mesma gente,sem tirar,nem pôr. Quem é que não quereria ter uma vida assim? Só um santo,e mesmo esse, coitado,muito ele deveria rogar a Deus para que afastasse dele o tentador.
sábado, 13 de junho de 2009
MESMO BARCO
O que,às vezes,se lia,estando escrito,ou se ouvia,de alguém dizendo de sua justiça,era de ficar três vezes espantado. Como era possível? Não eram as letras e as vozes de gente muito capaz? Pois claro que eram. Mas porque é que escreviam ou falavam assim? Porquê? Então não era o mais indicado estarem ali a perder o seu riquinho tempo,que não mais voltava,a ensinarem coisas úteis,coisas para fazer progredir,que o atraso era ainda muito grande,que ainda se não via a luz ao fundo do túnel? Com uma escuridão tão grande,com uma relatividade,e fragilidade de vidas,vidas fugazes,vidas quebráveis,de assustar,estarem para ali com aqueles modos de entristecer a mãezinha,que tantos cuidados tivera para eles crescerem,e virem a ser alguém,
para se ajudarem a si e os outros,que todos eram gente,gente metida no mesmo barco,barco que não sa sabia para onde ia,barco em forma de bola,que girava há um ror de tempo,sem ter parado ainda,não se sabendo pará-lo,nem movê-lo,nem nada.
Só sabiam implicar? Já ia sendo teima a mais. Quem é que iria dizer chegava,já bastava tanta implicação,tanto ferir?
para se ajudarem a si e os outros,que todos eram gente,gente metida no mesmo barco,barco que não sa sabia para onde ia,barco em forma de bola,que girava há um ror de tempo,sem ter parado ainda,não se sabendo pará-lo,nem movê-lo,nem nada.
Só sabiam implicar? Já ia sendo teima a mais. Quem é que iria dizer chegava,já bastava tanta implicação,tanto ferir?
ORA BOLAS
Aquilo é que eram uns tempos,uns tempos de fugir deles. Ainda bem que se foram,para nunca mais. Quem é que gostava duma coisa daquelas,quem? Só alguém que não regulasse bem da cabeça,coitado,que arranjasse depressa remédio capaz.
Pois eram assim. Era uma gente que não podia ver os outros,quaisquer que eles fossem,com farpelas lavadas. Parecia que lavrava por lá doença grave,e ainda por cima pegável,o que não era preciso porque todos a tinham.
As tiradas que se ouviam,por tudo e por nada,embora não fosse preciso ouvidos ter sempre ali à escuta,pois adivinhava-se o que ia lá por dentro. Assim,também,eu,pois então. Olha a grande coisa. Os discursos,têm quem os faça,era o que não faltava,pois os tempos iam maus,toda a gente o sabia,e sofria. Escritos,bem,era a mesma coisa,servindo os mesmos,ou outros,que era preciso variar,lá por coisas. Dizem muitas novidades,ora a grande façanha se o que não sobejavam eram fontes de informação,que,de resto,tiravam umas das outras.
Mais casos não são necessários para ilustrar tempos que nem se sabia como classificar. Aquilo nem pareciam tempos de gente. Que tempos seriam aqueles,que tempos seriam aqueles? Nem pensar neles era bom,mas, às vezes, tinha de ser,não se sabia,nem bem,nem mal, porquê,ou para quê,pois não se sabia mesmo como é que estava ali toda aquela gente,fazendo não se sabia o quê. Uma coisa,era,no entanto,bem evidente,e não mal. Implicavam muito uns com os outros,a ponto de se magoarem,às vezes,muito,doendo,o que não tinha graça nenhuma. Fora para isso,para implicar uns com os outros,que tinham aparecido ali? Ora bolas para o "negócio",ora bolas. Era melhor terem ficado lá,muito sossegadinhos,lá de onde tinham vindo.
Pois eram assim. Era uma gente que não podia ver os outros,quaisquer que eles fossem,com farpelas lavadas. Parecia que lavrava por lá doença grave,e ainda por cima pegável,o que não era preciso porque todos a tinham.
As tiradas que se ouviam,por tudo e por nada,embora não fosse preciso ouvidos ter sempre ali à escuta,pois adivinhava-se o que ia lá por dentro. Assim,também,eu,pois então. Olha a grande coisa. Os discursos,têm quem os faça,era o que não faltava,pois os tempos iam maus,toda a gente o sabia,e sofria. Escritos,bem,era a mesma coisa,servindo os mesmos,ou outros,que era preciso variar,lá por coisas. Dizem muitas novidades,ora a grande façanha se o que não sobejavam eram fontes de informação,que,de resto,tiravam umas das outras.
Mais casos não são necessários para ilustrar tempos que nem se sabia como classificar. Aquilo nem pareciam tempos de gente. Que tempos seriam aqueles,que tempos seriam aqueles? Nem pensar neles era bom,mas, às vezes, tinha de ser,não se sabia,nem bem,nem mal, porquê,ou para quê,pois não se sabia mesmo como é que estava ali toda aquela gente,fazendo não se sabia o quê. Uma coisa,era,no entanto,bem evidente,e não mal. Implicavam muito uns com os outros,a ponto de se magoarem,às vezes,muito,doendo,o que não tinha graça nenhuma. Fora para isso,para implicar uns com os outros,que tinham aparecido ali? Ora bolas para o "negócio",ora bolas. Era melhor terem ficado lá,muito sossegadinhos,lá de onde tinham vindo.
MAIS BEM SERVIDA
Então,e a senhora,gostava também de ir lá estar uns anos? Isso é comigo? Com que é que havia de ser,se não está aqui mais ninguém? Ai,que tão satisfeita fiquei, nunca fui assim tratada. Deus o ajude,que bem merece.
Se eu gostava de ir até lá uns tempos? Era conforme. Se me dessem aí cinco criados,ia logo a correr. Era uma maneira de me livrar da vida que tenho levado,feita como uma criada,o que não desejo a ninguém,que eu não sou de vinganças.
Mas agora,estou eu a pensar. Não,cinco é pouco. Era melhor sete,pois ficava mais bem servida,que é assim que eu tenho visto. Só com sete,pois então.
Se eu gostava de ir até lá uns tempos? Era conforme. Se me dessem aí cinco criados,ia logo a correr. Era uma maneira de me livrar da vida que tenho levado,feita como uma criada,o que não desejo a ninguém,que eu não sou de vinganças.
Mas agora,estou eu a pensar. Não,cinco é pouco. Era melhor sete,pois ficava mais bem servida,que é assim que eu tenho visto. Só com sete,pois então.
LIBERTAÇÃO
Contavam os mais velhos uma história que tinham ouvido de outros mais velhos,uma história que se perderia nos muitos recuadíssimos tempos. Essa história dizia que em tempos muito lá detrás,existia um reino,muio vasto,e muito poderoso,talvez como aqueloutro onde nunca o sol se punha,que estava atavessando uma muito má hora,coisa que se vinha tornando cada vez mais feia,por via,dizia-se,de uma certa ideia que dera em espalhar-se por lá,como fogo em mato seco,por tudo que era canto,sobretudo,nos cantos mais cantos,onde certos ouvidos não iam.
E a ideia referia-se lá a uma libertação,que os dos muitos cantos não percebiam bem o que era,o que ouviam era libertação. E era serem libertados o que eles mais aspiravam,pois tinham sido sempre escravos,pois já os seus pais e os seus avós muito lá para trás nem sabiam o que era outra coisa.
Ora o rei gostava muito de ser rei,e rei todo-poderoso,não estava nada interessado,nem ele,nem mesmo um escravo que,por artes mágicas,se tornasse rei,que era o que ele mais desejaria,lá por coisas,ora o rei,dizia-se,que não era parvo algum,resolveu seguir um muito sábio conselho,que é o que reza assim,"se não podes com eles, junta-te a eles".
Abençoado conselho,não podia ele,o rei,ter seguido um melhor. Foi remédio santo. Devia era tê-lo tomado há muito mais tempo,que assim teria evitado muitos aborrecimentos.
E a ideia referia-se lá a uma libertação,que os dos muitos cantos não percebiam bem o que era,o que ouviam era libertação. E era serem libertados o que eles mais aspiravam,pois tinham sido sempre escravos,pois já os seus pais e os seus avós muito lá para trás nem sabiam o que era outra coisa.
Ora o rei gostava muito de ser rei,e rei todo-poderoso,não estava nada interessado,nem ele,nem mesmo um escravo que,por artes mágicas,se tornasse rei,que era o que ele mais desejaria,lá por coisas,ora o rei,dizia-se,que não era parvo algum,resolveu seguir um muito sábio conselho,que é o que reza assim,"se não podes com eles, junta-te a eles".
Abençoado conselho,não podia ele,o rei,ter seguido um melhor. Foi remédio santo. Devia era tê-lo tomado há muito mais tempo,que assim teria evitado muitos aborrecimentos.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
SEED BANKS
Science 12 June 2009:Vol. 324. no. 5933, p. 1376DOI: 10.1126/science.324_1376
Plant Breeding:
Scientists Seek Easier Access to Seed BanksElizabeth Finkel*
Free and timely access to seeds is enshrined in the International Treaty on Plant Genetic Resources for Food and Agriculture, which came into force in 2004. But "free and timely" is not how plant breeders describe their experience with five of the treaty's 120 signatories: China, Ethiopia, India, Iran, and Turkey. That's alarming because many seed collections are vulnerable. Last week, the treaty's governing body met in Tunis to review implementation and coax reluctant nations to open their seed banks and contribute to a "doomsday vault" on Norway's Svalbard island.
Plant Breeding:
Scientists Seek Easier Access to Seed BanksElizabeth Finkel*
Free and timely access to seeds is enshrined in the International Treaty on Plant Genetic Resources for Food and Agriculture, which came into force in 2004. But "free and timely" is not how plant breeders describe their experience with five of the treaty's 120 signatories: China, Ethiopia, India, Iran, and Turkey. That's alarming because many seed collections are vulnerable. Last week, the treaty's governing body met in Tunis to review implementation and coax reluctant nations to open their seed banks and contribute to a "doomsday vault" on Norway's Svalbard island.
MACAU TAIPA-COLOANE WETLAND RESERVE
Science 12 June 2009:Vol. 324. no. 5933, pp. 1373 - 1374DOI: 10.1126/science.324_1373
Macau Launches Late Bid to Cure Its Pearl River Delta BluesRichard Stone
Macau, a gambling haven known more for unbridled development than for ecological awareness, passed a milestone on an uncertain road to sustainability this year with the creation of the Taipa-Coloane Wetland Reserve. Another milestone will be passed on 29 June, when Macau establishes an Environmental Protection Bureau. The 10-year-old Macau Environment Council has no authority to enforce laws; the bureau that will supplant it, on the other hand, will have full rein to go after polluters.
Macau Launches Late Bid to Cure Its Pearl River Delta BluesRichard Stone
Macau, a gambling haven known more for unbridled development than for ecological awareness, passed a milestone on an uncertain road to sustainability this year with the creation of the Taipa-Coloane Wetland Reserve. Another milestone will be passed on 29 June, when Macau establishes an Environmental Protection Bureau. The 10-year-old Macau Environment Council has no authority to enforce laws; the bureau that will supplant it, on the other hand, will have full rein to go after polluters.
ERA PIOR
Naqueles tempos longínquos,que Deus,na Sua misericórdia infinita,os tenha em descanso,as pessoas não podiam umas com as outras,pelo que os políticos é que pagavam. Era um malhar sem destino,sem dó,nem piedade,deixando-os sem pinga de sangue. Valia quase tudo. Era de ter
medo.
Vieram,depois,outros tempos. Aquilo nem parecia o mesmo. Era pior,trinta vezes pior. Que Deus,na Sua infinita misericórdia,os tenha também em descanso.
medo.
Vieram,depois,outros tempos. Aquilo nem parecia o mesmo. Era pior,trinta vezes pior. Que Deus,na Sua infinita misericórdia,os tenha também em descanso.
ESTECHO DE MAGALLANES - CHILE
http://www.flickr.com/photos/labra-holzapfel/361772636/sizes/l/
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http://www.flickr.com/photos/hixaga/3317160734/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/hixaga/3316951524/sizes/l/
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ENERGIA HÍDRICA
Segundo dados da EDP,a contribuição da energia hídrica para o total da energia comercializada em Portugal,em 2008, foi de 14%.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
AMAZON DEFORESTATION
Boom-and-Bust Development Patterns Across the Amazon Deforestation FrontierA. S. L. Rodrigues, R. M. Ewers, L. Parry, C. Souza, Jr., A. Veríssimo, and A. Balmford (12 June 2009)Science 324 (5933), 1435-1437. [DOI: 10.1126/science.1174002]
Abstract 1 of 1
Boom-and-Bust Development Patterns Across the Amazon Deforestation FrontierAna S. L. Rodrigues,1,2,3,* Robert M. Ewers,4 Luke Parry,5 Carlos Souza, Jr.,6 Adalberto Veríssimo,6 Andrew Balmford1
The Brazilian Amazon is globally important for biodiversity, climate, and geochemical cycles, but is also among the least developed regions in Brazil. Economic development is often pursued through forest conversion for cattle ranching and agriculture, mediated by logging. However, on the basis of an assessment of 286 municipalities in different stages of deforestation, we found a boom-and-bust pattern in levels of human development across the deforestation frontier. Relative standards of living, literacy, and life expectancy increase as deforestation begins but then decline as the frontier evolves, so that pre- and postfrontier levels of human development are similarly low. New financial incentives and policies are creating opportunities for a more sustained development trajectory that is not based on the depletion of nature and ecosystem services.
1 Conservation Science Group, Department of Zoology, University of Cambridge, Cambridge CB2 3EJ, UK.2 IN+, Center for Innovation, Technology and Policy Research, Environment and Energy Section, Mechanical Engineering Department, Instituto Superior Técnico, Portugal.3 Centre d’Ecologie Fonctionnelle et Evolutive, CNRS UMR5175, 1919 Route de Mende, 34293 Montpellier, France.4 Division of Biology, Imperial College London, Silwood Park Campus, Ascot SL5 7PY, UK.5 School of Environmental Sciences, University of East Anglia, Norwich NR4 7TJ, UK.6 IMAZON–Amazon Institute of People and the Environment, Belém, PA, Brazil.
Abstract 1 of 1
Boom-and-Bust Development Patterns Across the Amazon Deforestation FrontierAna S. L. Rodrigues,1,2,3,* Robert M. Ewers,4 Luke Parry,5 Carlos Souza, Jr.,6 Adalberto Veríssimo,6 Andrew Balmford1
The Brazilian Amazon is globally important for biodiversity, climate, and geochemical cycles, but is also among the least developed regions in Brazil. Economic development is often pursued through forest conversion for cattle ranching and agriculture, mediated by logging. However, on the basis of an assessment of 286 municipalities in different stages of deforestation, we found a boom-and-bust pattern in levels of human development across the deforestation frontier. Relative standards of living, literacy, and life expectancy increase as deforestation begins but then decline as the frontier evolves, so that pre- and postfrontier levels of human development are similarly low. New financial incentives and policies are creating opportunities for a more sustained development trajectory that is not based on the depletion of nature and ecosystem services.
1 Conservation Science Group, Department of Zoology, University of Cambridge, Cambridge CB2 3EJ, UK.2 IN+, Center for Innovation, Technology and Policy Research, Environment and Energy Section, Mechanical Engineering Department, Instituto Superior Técnico, Portugal.3 Centre d’Ecologie Fonctionnelle et Evolutive, CNRS UMR5175, 1919 Route de Mende, 34293 Montpellier, France.4 Division of Biology, Imperial College London, Silwood Park Campus, Ascot SL5 7PY, UK.5 School of Environmental Sciences, University of East Anglia, Norwich NR4 7TJ, UK.6 IMAZON–Amazon Institute of People and the Environment, Belém, PA, Brazil.
DENALI NATIONAL PARK - ALASKA
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SABIAM FALAR
Uma sumidade tinha vindo lá da sua terra distante dizer de sua justiça. Na sala,não cabia uma mosca,que uma coisa daquelas era para aproveitar. Falou de coisas já velhas,e de outras que estavam a dar os primeiros passos. Era nestas em que estava mais interessado,e esperava encontrar ali ajuda.
Da assistência,meia dúzia falou também,mas do que ele esperava,nem uma palavrinha. Falaram muito,até mais que a sumidade. Quiseram mostrar apenas que sabiam falar. A sumidade agradeceu,sugerindo que agradeceria mais se o tivessem ajudado.
Da assistência,meia dúzia falou também,mas do que ele esperava,nem uma palavrinha. Falaram muito,até mais que a sumidade. Quiseram mostrar apenas que sabiam falar. A sumidade agradeceu,sugerindo que agradeceria mais se o tivessem ajudado.
PASSOS NO ESCURO
Há passos que se dão na vida só porque isso foi do agrado de alguém. Quer dizer que esse alguém estava interessado em que esses passos se dessem. Pode querer dizer,ainda,que quem ganhou mais com esses passos foi quem os levou a dar. Não teriam sido,assim,passos perdidos,se o que deu os passos nada lucrou. Quer dizer,neste caso,que quem deu os passos esteve ao serviço desse alguém,embora não soubesse,vindo a sabê-lo,talvez,em qualquer altura da caminhada,o que não deve ser nada agradável. Enfim,coisas que acontecem quando alguém tem de dar passos no escuro.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
MUITO JEITO
Olhe,se você conseguir,não digo anular a pena,mas reduzir o castigo,pode contar comigo enquanto eu andar cá no negócio. O castigo dependia do grau da maroteira,que nova análise podia mitigar. Estaria dependente da argumentação da defesa. O castigo foi reduzido,mas aquilo era serviço para um estômago forte,o que não era o caso,pelo que a coisa ficou por ali,com muita pena,que sempre rendia uns cobres que faziam muito jeito.
MELHORES DIAS
Dois encontraram-se. Então,por aqui? Viemos ver a exposição,eu e este amigo. Não se conhecem? Olha,vai partir já amanhã para ocupar um lugar que lhe prometeram. Mas a mim também o tinham prometido,que é a minha terra,está lá a família toda à espera. Isto ele não disse,coitado. Teve de engulir em seco,e arranjar paciência,que talvez melhores dias viessem.
UM GRANDE RISCO
Dois não se viam há muito tempo. Então,por onde é que tem andado? Sabe,é que meti licença sem vencimento por uns anos. E teve dificuldade em a obter? Não, deram-me logo. Pois a mim,que só pedi por uns escassos três meses,foi um castigo para a conseguir. Utiliziei-a,mas com um grande risco,o risco de encontrar a porta fechada. Coisas de certos chefes.
OBRIGAÇÃO
Eram marido e mulher,e um dia,há sempre um dia,a mulher decidiu aclarar as coisas,quer dizer,pôr as coisas como elas eram,sem tirar,nem pôr. Olha que tu não me tens andado a fazer favores alguns,pelo que não te tenho de agradecer seja o que for,era o que faltava. O que tu me tens feito não tem sido mais do que a tua obrigação. Estamos entendidos? Espero que sim,para não ter que repetir.
O PIOR CURSO
Eram dois "amigos",que tinham lá as suas famílias,em que figuravam filhos. E um dia,há sempre um dia revelador,um dos "amigos" disse ao outro que o filho dele nunca faria o grande disparate de ter o curso que o filho do outro tinha,pela simples razão de que esse curso não valia nada,sendo,até,no seu entender,o pior curso deste mundo.
terça-feira, 9 de junho de 2009
PARQUE NACIONAL CONGUILLIO - CHILE
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NÃO TRAZIA ROL
Às vezes,dá para pensar em alguém que deixara de aparecer a animar as ruas. Se calhar,já marchara. Mas um dia,lá se vê de novo. Afinal,ainda por cá andava,cumprindo-se. Mas chegará outro dia,o dia de não mais se ver. Partira para longínquas paragens,donde não mais se volta.
Foi o caso de um velhinho que dava gosto ver,no seu andar lesto,parecendo voar,que lá em casa ficara a companheira de uma vida longa.Não tinha telemóvel,mas tinha o telefone da casa onde entrara. E era vê-lo a avisá-la que não tardaria,que ela tivesse mais um bocadinho de paciência. A memória já não seria por aí além,que o tempo não perdoava,e não trazia rol,pelo que,a cada passo,lá abria os sacos,na tentativa de descobrir as faltas.
Foi o caso de um velhinho que dava gosto ver,no seu andar lesto,parecendo voar,que lá em casa ficara a companheira de uma vida longa.Não tinha telemóvel,mas tinha o telefone da casa onde entrara. E era vê-lo a avisá-la que não tardaria,que ela tivesse mais um bocadinho de paciência. A memória já não seria por aí além,que o tempo não perdoava,e não trazia rol,pelo que,a cada passo,lá abria os sacos,na tentativa de descobrir as faltas.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
PARQUE NACIONAL DE TIMANFAYA - LANZAROTE
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http://www.flickr.com/photos/gien/2434042373/sizes/l/
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QUASE DA FAMÍLIA
A sorte dos burros. Estavam em vias de desaparecer,que os tempos já não estavam para burrices,e,de repente,veio-se a descobrir que o leite que os alimentava era assim como o melhor leite do mundo. Grandes burros eram eles,pois,maiores do que burros não eram.
O que eram,pois,as coisas. E entraram numa era que nenhum se lembrava de ter vivido,mesmo naqueles velhos tempos em que os burrinhos eram considerados quase da família. E foi um multiplicar de burros por tudo quanto era sítio,mesmo sítios onde nunca tinham entrado,por serem o que eram,por serem burros,que eles não podiam deixar de ser o que eram,nem eles,nem outros quaisquer,por mais burrices deixassem de fazer. O que eram,pois,as coisas. De repente,deixaram de ser,pode dizer-se,burros,para ser outra coisa,ainda que burros continuassem a ser,em boa verdade,pois não se podia deixar de ser o que se era.
O que eram,pois,as coisas. E entraram numa era que nenhum se lembrava de ter vivido,mesmo naqueles velhos tempos em que os burrinhos eram considerados quase da família. E foi um multiplicar de burros por tudo quanto era sítio,mesmo sítios onde nunca tinham entrado,por serem o que eram,por serem burros,que eles não podiam deixar de ser o que eram,nem eles,nem outros quaisquer,por mais burrices deixassem de fazer. O que eram,pois,as coisas. De repente,deixaram de ser,pode dizer-se,burros,para ser outra coisa,ainda que burros continuassem a ser,em boa verdade,pois não se podia deixar de ser o que se era.
CABEÇAS TEIMOSAS
O meio sugeria virtude,cheirava a virtude,coisa um tanto secundarizada,lembrando tempos antigos,de muito atraso. Parecia estar condenado a ser esquecido,a ser mesmo desprezado. Eram as pontas de mais agrado,pontas,que ainda que aparentemente opostas,pareciam,cada vez com mais frequência,quase se entenderem.
Numa delas,reinava a abastança,na outra,a penúria,uma penúria com sonhos de grandeza,que já bastava o que se havia passado,que nem era bom lembrar. Era esse passado,e também ainda um presente que não se suportava,porque muito longe da abundância vista noutrem,muito desejada,que levava a não querer o meio,onde estava a virtude,de que se riam.
E assim, vá de,aparentemente, juntar esforços para o meio banir, que não estava ali a fazer nada,que era,afinal,um desmancha prazeres para as duas pontas,e era de prazeres que estavam as duas pontas desejosas,porque para trouxas já bastavam os do meio,que não havia meio de ganharem juízo naquelas cabeças teimosas.
Numa delas,reinava a abastança,na outra,a penúria,uma penúria com sonhos de grandeza,que já bastava o que se havia passado,que nem era bom lembrar. Era esse passado,e também ainda um presente que não se suportava,porque muito longe da abundância vista noutrem,muito desejada,que levava a não querer o meio,onde estava a virtude,de que se riam.
E assim, vá de,aparentemente, juntar esforços para o meio banir, que não estava ali a fazer nada,que era,afinal,um desmancha prazeres para as duas pontas,e era de prazeres que estavam as duas pontas desejosas,porque para trouxas já bastavam os do meio,que não havia meio de ganharem juízo naquelas cabeças teimosas.
GLACIAR PERITO MORENO,PATAGÓNIA - ARGENTINA
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INTEIRAMENTE SÓS
Onde estava aquele "vede como eles se amavam",onde estava? Em vez dele,o que se via?" Vede como eles se odeavam".
Era assim que se queria lá ir? Assim,nunca mais lá chegariam,supondo que quereriam ir a algum lado. Assim,iriam ficar pelos caminhos,um acolá,outro além,onde calhasse,inteiramente sós.
Era assim que se queria lá ir? Assim,nunca mais lá chegariam,supondo que quereriam ir a algum lado. Assim,iriam ficar pelos caminhos,um acolá,outro além,onde calhasse,inteiramente sós.
domingo, 7 de junho de 2009
RIBADAVIA,GALICIA - SPAIN
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OURENSE - PAISAGENS
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VIDA DE GENTE
Naqueles recuadíssimos tempos,tempos de muitos escolhos,de muito alheamento,que a vida não estava para brincadeiras,como,de resto,nunca tinha estado,tempos do salve-se quem puder,em suma,as decisões eram tomadas em nome de princípios muito vagos,como que inexistentes,em última análise,por assim dizer,pelos seus interesses,legítimos,ou não,ao fim e ao cabo,por eles mesmos,por aquilo que eram numa certa hora,ou minuto,ou segundo,quer-se dizer,pelo que lhes vinha à cabeça,moída de aflições sem conta,por tudo e por nada,que a vida não estava mesmo para brincadeiras.
É que nem havia tempo para pensar,porque pensar era um atraso de vida,e a vida não estava para atrasos,porque se atrasos ocorressem já se sabia o que estava lá à espera,uma coisa muito feia,que,sem querer, lhes aparecia em sonhos,atormentando-os. Eram,pois,aqueles tempos,
tempos para esquecer. Que não mais voltassem,que aquilo não era vida de gente
É que nem havia tempo para pensar,porque pensar era um atraso de vida,e a vida não estava para atrasos,porque se atrasos ocorressem já se sabia o que estava lá à espera,uma coisa muito feia,que,sem querer, lhes aparecia em sonhos,atormentando-os. Eram,pois,aqueles tempos,
tempos para esquecer. Que não mais voltassem,que aquilo não era vida de gente
POR TODOS
Ele dizia, para quem estava disposto a ouvi-lo,que a proliferação de religiões,ou lá o que lhes quisessem chamar,nada o apoquentava,antes pelo contrário.
Seria isso,continuava ele a dizer,aliás,com muito visível satisfação,sinal bem evidente de que Deus se interessaria,lá à Sua Maneira,por todos,não só com uns em particular.
Seria isso,continuava ele a dizer,aliás,com muito visível satisfação,sinal bem evidente de que Deus se interessaria,lá à Sua Maneira,por todos,não só com uns em particular.
sábado, 6 de junho de 2009
EM PAZ
Na perspectiva de seres criados por graça de Deus,as suas vidas deveriam ser vidas organizadas, quer dizer,sujeitas a uma organização,de modo a que cada um nascesse,vivesse e morresse em paz,com ele e com todos.
A JEITO
Não faziam "nada",não sabiam "nada",e isso trazia-os não se sabia como,mas satisfeitos consigo é que seria para admirar. Como quer que fosse,o que davam a entender é que estavam possuídos de um desejo incontido de ferir,de ferir a torto e a direito.
E assim,mal davam com um a jeito,e mesmo que bem a jeito não estivesse,malhavam nele,sem dó,nem piedade,deixando-o meio morto.
Era o seu triunfo,um triunfo passageiro,volátil,caindo bem depressa no tal estado mórbido de querer desancar sem destino. Só esperavam que uma nova vítima não demorasse muito a pôr-se a jeito,ainda que muito a jeito não estivesse.
E assim,mal davam com um a jeito,e mesmo que bem a jeito não estivesse,malhavam nele,sem dó,nem piedade,deixando-o meio morto.
Era o seu triunfo,um triunfo passageiro,volátil,caindo bem depressa no tal estado mórbido de querer desancar sem destino. Só esperavam que uma nova vítima não demorasse muito a pôr-se a jeito,ainda que muito a jeito não estivesse.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
CORES
Nem parecia a mesma de há pouco. A tristeza daqueles cansados olhos,a tristeza. Muito só,muito branca,muito lá com ela,ali estava,ligeiramente curvada,ali estava à espera,numa espera talvez de um fim próximo.
E bastou uma ligeira atenção,uma coisa de nada,para muita coisa nela mudar. Não,não é preciso,posso esperar,ela que tanto já tinha esperado. Até vieram cores àquela cara pergaminhada.
E bastou uma ligeira atenção,uma coisa de nada,para muita coisa nela mudar. Não,não é preciso,posso esperar,ela que tanto já tinha esperado. Até vieram cores àquela cara pergaminhada.
CULPADO
Para o que lhe havia de dar. Um casal de cegos aproximava-se,e a voz dele ouvia-se. Uma esmolinha por favor,uma esmolinha por favor.
Primeiro,pensou em mudar de passeio,depois,ao passar por eles,quase nem os olhou. Teria sido para se furtar ao desembolso? Talvez um pouco,ainda que pouco se esvaziasse. Então,do que mais seria?
É que,sem querer,sentiu-se,em parte, culpado de eles ali irem. Não bastava já o serem cegos? Lá se estragara o almoço,que aquela imagem não o largou enquanto comia.
Primeiro,pensou em mudar de passeio,depois,ao passar por eles,quase nem os olhou. Teria sido para se furtar ao desembolso? Talvez um pouco,ainda que pouco se esvaziasse. Então,do que mais seria?
É que,sem querer,sentiu-se,em parte, culpado de eles ali irem. Não bastava já o serem cegos? Lá se estragara o almoço,que aquela imagem não o largou enquanto comia.
PÉS IRREQUIETOS
Uma formiguinha vinha lá no seu caminho,transpondo vales,mais ou menos fundos,contornando obstáculos,de dificuldade vária. Parecia vir determinada,sabendo o que queria,para onde ir.
De repente,surge-lhe um pé que não havia meio de estar quieto,barrando-lhe a caminhada. Ora a minha vida,e eu que estava com pressa. Que hei-de fazer,teria ela pensado? Querem ver que tenho de ir para outro lado,coisa que nada me apetecia? E foi mesmo o que ela teve de fazer,coitada dela. O que era a vida de uma formiguinha,sujeita a pés irrequietos,que não sabiam o que queriam.
De repente,surge-lhe um pé que não havia meio de estar quieto,barrando-lhe a caminhada. Ora a minha vida,e eu que estava com pressa. Que hei-de fazer,teria ela pensado? Querem ver que tenho de ir para outro lado,coisa que nada me apetecia? E foi mesmo o que ela teve de fazer,coitada dela. O que era a vida de uma formiguinha,sujeita a pés irrequietos,que não sabiam o que queriam.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
ABRAÇOS BEM APERTADOS
Não têm conta as estruturas naturais que simulam abraços,abraços bem apertados. Parece isso conter uma lição. Imitem-nos,quererão significar. É que sem,pelo menos,dois deles, a hemina,da hemoglobina, e a clorofila,a vida, como a conhecemos, não existia.
RENASCER
Era isso,uma coisa tão simples,mesmo ali à mão,por assim dizer. Só havia uma solução para o deconcerto que ia por lá,na continuidade de muitos outros desconcertos,como uma falalidade,ou lá o que se quisesse chamar. E era renascer,transfigurado.
UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ
Ele fizera mal,muito mal,para a outra vez tinha de comprar. É que,afinal,fora uma esmola que dera,quando ela tinha mercadoria para vender. Ela aceitou,que remédio,pois aquele dinheiro dava-lhe muito jeito. Seria uma "fortuna".
Donde ela viera,a coisa estava feia,com cara de continuar não se sabia até quando,talvez até
nunca mais,que há coisas que se eternizam.Um irmão acompanhara-a. Lá,ficaram ainda mais dois,e também a mãe,que o pai abandonara-os. Uma desgraça nunca vem só.
Donde ela viera,a coisa estava feia,com cara de continuar não se sabia até quando,talvez até
nunca mais,que há coisas que se eternizam.Um irmão acompanhara-a. Lá,ficaram ainda mais dois,e também a mãe,que o pai abandonara-os. Uma desgraça nunca vem só.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
OUTRA COISA
Um trabalho cientifico que levara meses em leituras,em análises,em escrita,estava a ser apreciado em público.
Pois um dos apreciadores interessou-se ,muito especialmente, pela forma,quer dizer,pelas vírgulas e pelos pontos finais.
Do resto,muito pouco cuidou,que estaria ali a mais. Ou teria sido por outra coisa?
Pois um dos apreciadores interessou-se ,muito especialmente, pela forma,quer dizer,pelas vírgulas e pelos pontos finais.
Do resto,muito pouco cuidou,que estaria ali a mais. Ou teria sido por outra coisa?
ASSESSMENT OF UNDISCOVERED OIL AND GAS IN ARCTIC
Science 29 May 2009:Vol. 324. no. 5931, pp. 1175 - 1179DOI: 10.1126/science.1169467
Reports
Assessment of Undiscovered Oil and Gas in the ArcticDonald L. Gautier,1,* Kenneth J. Bird,1 Ronald R. Charpentier,2 Arthur Grantz,3 David W. Houseknecht,4 Timothy R. Klett,2 Thomas E. Moore,1 Janet K. Pitman,2 Christopher J. Schenk,2 John H. Schuenemeyer,5 Kai Sørensen,6 Marilyn E. Tennyson,2 Zenon C. Valin,1 Craig J. Wandrey2
Among the greatest uncertainties in future energy supply and a subject of considerable environmental concern is the amount of oil and gas yet to be found in the Arctic. By using a probabilistic geology-based methodology, the United States Geological Survey has assessed the area north of the Arctic Circle and concluded that about 30% of the world’s undiscovered gas and 13% of the world’s undiscovered oil may be found there, mostly offshore under less than 500 meters of water. Undiscovered natural gas is three times more abundant than oil in the Arctic and is largely concentrated in Russia. Oil resources, although important to the interests of Arctic countries, are probably not sufficient to substantially shift the current geographic pattern of world oil production.
1 U.S. Geological Survey, 345 Middlefield Road, Menlo Park, CA 94025, USA.2 U.S. Geological Survey, Box 25046 Federal Center, Denver, CO 80225, USA.3 930 Van Auken Circle, Palo Alto, CA 94303, USA.4 U.S. Geological Survey, 12201 Sunrise Valley Drive, Reston, VA 20192, USA.5 Southwest Statistical Consulting, 960 Sligo Street, Cortez, CO 81321, USA.6 Geological Survey of Denmark and Greenland, Øster Voldgade 10, DK-1350 Copenhagen K Denmark
Reports
Assessment of Undiscovered Oil and Gas in the ArcticDonald L. Gautier,1,* Kenneth J. Bird,1 Ronald R. Charpentier,2 Arthur Grantz,3 David W. Houseknecht,4 Timothy R. Klett,2 Thomas E. Moore,1 Janet K. Pitman,2 Christopher J. Schenk,2 John H. Schuenemeyer,5 Kai Sørensen,6 Marilyn E. Tennyson,2 Zenon C. Valin,1 Craig J. Wandrey2
Among the greatest uncertainties in future energy supply and a subject of considerable environmental concern is the amount of oil and gas yet to be found in the Arctic. By using a probabilistic geology-based methodology, the United States Geological Survey has assessed the area north of the Arctic Circle and concluded that about 30% of the world’s undiscovered gas and 13% of the world’s undiscovered oil may be found there, mostly offshore under less than 500 meters of water. Undiscovered natural gas is three times more abundant than oil in the Arctic and is largely concentrated in Russia. Oil resources, although important to the interests of Arctic countries, are probably not sufficient to substantially shift the current geographic pattern of world oil production.
1 U.S. Geological Survey, 345 Middlefield Road, Menlo Park, CA 94025, USA.2 U.S. Geological Survey, Box 25046 Federal Center, Denver, CO 80225, USA.3 930 Van Auken Circle, Palo Alto, CA 94303, USA.4 U.S. Geological Survey, 12201 Sunrise Valley Drive, Reston, VA 20192, USA.5 Southwest Statistical Consulting, 960 Sligo Street, Cortez, CO 81321, USA.6 Geological Survey of Denmark and Greenland, Øster Voldgade 10, DK-1350 Copenhagen K Denmark
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