"Tenho apanhado sol em todas estas eiras. Nunca me farto de ver as grandes pedras veneráveis,nem de falar com jornaleiros,cavadores e pedreiros,que não ganham para comer,porque as mulheres têm filhos às ninhadas como os ratos. Refiro-me principalmente aos pedreiros - geração formidável que há séculos vem rachando a alvenaria para edficar a casa,erguer os socalcos e lagear as eiras. São homens só ossatura e pele,que na mesma cantilena - ou pedra- ou - oupa - lá tem erguido as cabanas de todos estes arredores. É o Torto,o Carvalhoa,o Bernardino,quase todos da mesma família,alguns velhos de poucas falas,e os filhos,que vão sucedendo aos pais no mesmo mester de cortar a lage e a afeiçoar a pico e cinzel,sempre cantando e trabalhando - ou pedra - ou oupa - lá - para no fim da vida acabarem de fome."
RAUL BRANDÃO
Memórias(Tomo II)
Obras Completas Vol. I p. 44-45
Edição de José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
sábado, 27 de junho de 2009
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