Alexandre Herculano 33 e 51
Almeida Garrett 27 e 39
Antero de Quental 18 e 77
Camilo Castelo Branco 43 e 140
D. Dinis 4 e 6
Guerra Junqueiro 10 e 26
Jorge de Sena 53 e 36
José Rodrigues Miguéis 11 e 9
Júlio Dinis 18 e 23
Ramalho Ortigão 4 e 15
Raul Brandão 10 e 24
Teixeira de Pascoais 18 e 55
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
INVERNO MEDONHO
A sala estava a transbordar e ela pediu a palavra. Tratava-se de uma sessão aberta a todos,para protestar,reivindicar. Foi um sucesso. Desenvolta,desempenhou o seu papel com o ar que ainda hoje ostenta: dominadora,crítica,cáustica. Parece estar sempre a invectivar,transformando o espaço que a rodeia numa arena de permanente discussão e luta. Toda a sua figura impressiona:hirta,esfíngica,olhar distante,andar decidido,vestes de cerimónia,acabada de vir da cabeleireira.
É o olhar que mais chama a atenção,um olhar de águia. O nariz,ligeiramente adunco,acentua a semelhança. Com ele,varre os que à sua volta passam,como lixo fosse,para de seguida os triturar,reduzi-los a pó,que o vento se encarrega de levar para muito longe. Fará isto repetidas vezes,para garantir completo saneamento.
As passadas lembram o avançar de um exército devastador,que não deixa nada de pé,nem uma casa,nem uma árvore,nem uma ervinha. O chão que pisa deve temê-la,o ar que respira fica gelado. É isso,recorda um inverno rigoroso,prolongado,interminável,medonho.
É o olhar que mais chama a atenção,um olhar de águia. O nariz,ligeiramente adunco,acentua a semelhança. Com ele,varre os que à sua volta passam,como lixo fosse,para de seguida os triturar,reduzi-los a pó,que o vento se encarrega de levar para muito longe. Fará isto repetidas vezes,para garantir completo saneamento.
As passadas lembram o avançar de um exército devastador,que não deixa nada de pé,nem uma casa,nem uma árvore,nem uma ervinha. O chão que pisa deve temê-la,o ar que respira fica gelado. É isso,recorda um inverno rigoroso,prolongado,interminável,medonho.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
SER PROFESSOR
"Não sou, junto de vós,mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem,do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar,não:falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.
Não acabei sem lhes fazer notar que "a aula é nossa". Que a todos cabe o direito de falar,desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela."...
"Bendito seja Deus,por eu ser professor!"...
"Para ser porfessor,também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita."...
Do Prefácio de Hernâni Cidade para o
DIÁRIO de
Sebastião da Gama
9ª edição
Edições Ática
Não acabei sem lhes fazer notar que "a aula é nossa". Que a todos cabe o direito de falar,desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela."...
"Bendito seja Deus,por eu ser professor!"...
"Para ser porfessor,também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita."...
Do Prefácio de Hernâni Cidade para o
DIÁRIO de
Sebastião da Gama
9ª edição
Edições Ática
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
ALEXANDRA
Alexandra entra em bicos dos pés. A porta atreve-se a ranger,traiçoeira,a revelar a sua presença. Sobe as escadas,sem se esquecer que o silêncio não se deve quebrar....
Alexandra é uma flor que se anima com o vento,que se refresca com a chuva,que se congratula com o sol. Não alveja ninguém,muito menos intimida,antes se coloca, gratuitamente,como alvo fácil,a todas estas atitudes....
Alexandra está no pátio,separada do que a rodeia. A árvore balança,sob a aragem persistente do vento....
Alexandra espreita os quartos. Têm todos a porta entreaberta. Em convite permanente....
Alexandra espreita os quartos. As portas entreabertas continuam a convidá-la. São cantos disponíveis, atafulhados de histórias....
Alexandra está no pátio....
Alexandra entra em bicos dos pés. A porta atreve-se a ranger,traiçoeira,a revelar a sua presença. Sobe as escadas,sem se esquecer que o silêncio não se deve quebrar....
RITA MAIA E SILVA
Íntimo
Chiado Editora
2008
Alexandra é uma flor que se anima com o vento,que se refresca com a chuva,que se congratula com o sol. Não alveja ninguém,muito menos intimida,antes se coloca, gratuitamente,como alvo fácil,a todas estas atitudes....
Alexandra está no pátio,separada do que a rodeia. A árvore balança,sob a aragem persistente do vento....
Alexandra espreita os quartos. Têm todos a porta entreaberta. Em convite permanente....
Alexandra espreita os quartos. As portas entreabertas continuam a convidá-la. São cantos disponíveis, atafulhados de histórias....
Alexandra está no pátio....
Alexandra entra em bicos dos pés. A porta atreve-se a ranger,traiçoeira,a revelar a sua presença. Sobe as escadas,sem se esquecer que o silêncio não se deve quebrar....
RITA MAIA E SILVA
Íntimo
Chiado Editora
2008
A AMEAÇA
Tantos e tantas que o velho médico vira nascer ali por aquelas redondezas. Todos ali o conheciam e respeitavam. E era-lhe consolador sabê-lo,o que, a cada passo,sucedia.
Naquela altura,já estava a descansar,pois os muitos anos assim o exigiram. Enviuvara e os filhos estavam lá para longe. Um casal tomava conta dele e da casa,que era um casarão. Quando entravam de férias,instalava-se numa pensão,onde o tratavam como se fosse da família.
Era uma pensão por onde passava gente dos mais diversos cantos. E isso entretinha-o,pois sempre havia alguém disposto a conversar. De resto,tinha muita coisa para contar e sabia fazê-lo. As pernas já lhe pregavam partidas,mas a cabeça não.
Um neto andava desgostando-o muito,o que o levava,por vezes,a desabafar. Vejam lá do que ele se havia de lembrar. Eu tenho tentado demovê-lo,mas é teimoso. Mas eu deserdo-o,era a ameaça que o moço também ouvia sempre que o ia visitar.
Naquela altura,já estava a descansar,pois os muitos anos assim o exigiram. Enviuvara e os filhos estavam lá para longe. Um casal tomava conta dele e da casa,que era um casarão. Quando entravam de férias,instalava-se numa pensão,onde o tratavam como se fosse da família.
Era uma pensão por onde passava gente dos mais diversos cantos. E isso entretinha-o,pois sempre havia alguém disposto a conversar. De resto,tinha muita coisa para contar e sabia fazê-lo. As pernas já lhe pregavam partidas,mas a cabeça não.
Um neto andava desgostando-o muito,o que o levava,por vezes,a desabafar. Vejam lá do que ele se havia de lembrar. Eu tenho tentado demovê-lo,mas é teimoso. Mas eu deserdo-o,era a ameaça que o moço também ouvia sempre que o ia visitar.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NA BRITISH LIBRARY E NA BIBLIOTECA DO KING´S COLLEGE LONDON
Alexandre Herculano 108 e 41
Almeida Garrett 165 e 57
Antero de Quental 100 e 44
Camilo Castelo Branco 54 e 97
D.Dinis 1 e 5
Guerra Junqueiro 39 e 26
Jorge de Sena 109 e 62
José Rodrigues Miguéis 23 e 12
Jílio Dinis 7 e 17
Ramalho Ortigão 47 e 8
Raul Brandão 42 e 22
Teixeira de Pascoaes 63 e 36
Almeida Garrett 165 e 57
Antero de Quental 100 e 44
Camilo Castelo Branco 54 e 97
D.Dinis 1 e 5
Guerra Junqueiro 39 e 26
Jorge de Sena 109 e 62
José Rodrigues Miguéis 23 e 12
Jílio Dinis 7 e 17
Ramalho Ortigão 47 e 8
Raul Brandão 42 e 22
Teixeira de Pascoaes 63 e 36
FESTA DE TRUZ
Terminada a festa daquele ano começavam logo a pensar na seguinte. Não os que dela se encarregavam,mas os que dela se serviam. Como é que aqueles haviam de ficar,depois de uma tal estafadeira? Derreados,certamente. E assim,precisavam de umas longas e merecidas férias. Os outros,ao contrário,estavam prontos para a que se seguia e desejosos que ela viesse depressa.
Podiam lá deixar de pensar nela. Em boa verdade,a festa era deles. Tratava-se de uma rica oportunidade para mostrarem o que valiam. Lá para onde tinham partido,apenas uma meia dúzia,se tanto,davam conta deles,os que circulavam no local de trabalho e pouco mais. Mas lá na terra de onde tinham abalado para se fazerem à vida era muito diferente. Ora como estão bem parecidos. Ora folgo muito em os ver.
Mas não só isso. Tinham também ocasião de pedirem meças a outros,sobretudo aos da sua geração. Não se encontravam mal adornados,como se fazia constar.
Era,de facto,uma festa de truz. Os seus promotores esmeravam-se para não ficarem mal vistos perante tais visitantes. O que iriam dizer se não achassem as coisas como deviam ser? E eram uns cumprimentos,umas admirações,uns elogios. Ficavam deliciados.
Podiam lá deixar de pensar nela. Em boa verdade,a festa era deles. Tratava-se de uma rica oportunidade para mostrarem o que valiam. Lá para onde tinham partido,apenas uma meia dúzia,se tanto,davam conta deles,os que circulavam no local de trabalho e pouco mais. Mas lá na terra de onde tinham abalado para se fazerem à vida era muito diferente. Ora como estão bem parecidos. Ora folgo muito em os ver.
Mas não só isso. Tinham também ocasião de pedirem meças a outros,sobretudo aos da sua geração. Não se encontravam mal adornados,como se fazia constar.
Era,de facto,uma festa de truz. Os seus promotores esmeravam-se para não ficarem mal vistos perante tais visitantes. O que iriam dizer se não achassem as coisas como deviam ser? E eram uns cumprimentos,umas admirações,uns elogios. Ficavam deliciados.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
MARIA MOISÉS
A novela de Camilo Castelo Branco para a qual Paula Rego fez ilustrações. Estas e outras obras de Paula Rego estão expostas no Centro de Arte Manuel de Brito, Palácio Anjos, Algés,até ao dia 18 de janeiro de 2o09.
UMAS ESCARAMUÇAS
Contara o moço que lá na terra de onde viera as coisas,às vezes,punham-se muito feias. Montes de pais de família não sabiam o que fazer à vida,pelo que estavam capazes de tudo. Acontecia que na terra mesmo ao lado,as coisas também não iam nada bem,pelo que muitos pais de família de lá estavam dispostos,igualmente, a ir às do cabo.
Então,de que é se lembravam os chefes lá das duas terras vizinhas? Inventar uma guerra. Está-se mesmo a ver que os pais de família aflitos, dos dois lados,esqueciam ,como por milagre,as suas aflições,para só passarem a pensar em que o inimigo vinha aí,palmando-lhes até o pouco que ainda tinham.
Mas,ao fim e ao cabo,a guerra não ia além de umas escaramuças na fronteira,de que resultava apenas meia dúzia de feridos ligeiros. Atingira,porém,o seu fim e que era o tal esquecimento das muitas dificuldades do dia a dia dos pais de família.
Então,de que é se lembravam os chefes lá das duas terras vizinhas? Inventar uma guerra. Está-se mesmo a ver que os pais de família aflitos, dos dois lados,esqueciam ,como por milagre,as suas aflições,para só passarem a pensar em que o inimigo vinha aí,palmando-lhes até o pouco que ainda tinham.
Mas,ao fim e ao cabo,a guerra não ia além de umas escaramuças na fronteira,de que resultava apenas meia dúzia de feridos ligeiros. Atingira,porém,o seu fim e que era o tal esquecimento das muitas dificuldades do dia a dia dos pais de família.
domingo, 26 de outubro de 2008
RECOVEIRO DE GARÇÃO
"Vocemecê é que é o senhor João da Cruz? Para o servir. Venho aqui pagar-lhe uma dívida. A mim? O senhor não me deve nada,que eu saiba. Não sou eu que devo;é o meu pai,e ele foi que me encarregou de lha pagar. E quem é o seu pai? Meu pai era um recoveiro de Garção,chamado Bento Machado. Proferida metade destas palavras,o cavaleiro afastou rapidamente as mangas do capote e desfechou um bacamarte no peito do ferrador."
É assim que vem em Amor de Perdição,de Camilo. Um simples diálogo,ao natural,como se tivesse sido registado a uma esquina,em qualquer lugar. Em qualquer lugar,ontem,lá muito para trás,quem sabe se hoje ou amanhã. De arripiar.
De alguma maneira,faz ele lembrar, também, a fábula do lobo e do cordeiro,de La Fontaine,ainda que a lição seja outra. Se não foste tu,foi o teu pai.
Alguém terá de pagar. Uma triste sina.
É assim que vem em Amor de Perdição,de Camilo. Um simples diálogo,ao natural,como se tivesse sido registado a uma esquina,em qualquer lugar. Em qualquer lugar,ontem,lá muito para trás,quem sabe se hoje ou amanhã. De arripiar.
De alguma maneira,faz ele lembrar, também, a fábula do lobo e do cordeiro,de La Fontaine,ainda que a lição seja outra. Se não foste tu,foi o teu pai.
Alguém terá de pagar. Uma triste sina.
NATIONAAL ARCHIIEF'S PHOTOSTREAM
Já são treze as instituições que aderiram ao The Commons,um projecto conjunto do Flickr e da Library of Congress. A última adesão veio da Holanda,com o Nationaal Archief' photostream. A Fundação Calouste Gulbenkian foi a sétima.
sábado, 25 de outubro de 2008
POUCA MAS MUITO BOA
Dizia o professor lá nas aulas que a proteína da batata é pouca mas de muito boa qualidade. Quereria ele,assim,acentuar a importância que este tubérculo tem na alimentação de muitos milhões de pessoas . Pois é precisamente por essa importância que a ONU declarou 2008 como o ANO INTERNACIONAL DA BATATA.
Atendendo à qualidade da proteína,era de esperar que surgissem tentativas para aumentar o seu teor. A isto não deve ser alheio o CENTRO INTERNACIONAL de la PAPA(CIP),com sede em Lima,Peru.
Atendendo à qualidade da proteína,era de esperar que surgissem tentativas para aumentar o seu teor. A isto não deve ser alheio o CENTRO INTERNACIONAL de la PAPA(CIP),com sede em Lima,Peru.
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NAS BIBLIOTECAS DAS UNIVERSIDADES DE HARVARD E DE YALE (EUA)
Alexandre Herculano 92 e 39
Almeida Garrettt 114 e 24
Antero de Quental 64 e 31
Camilo Castelo Branco 439 e 95
D. Dinis 10 e 5
Guerra Junqueiro 43 e 23
Jorge de Sena 79 e 95
José Rodrigues Miguéis 34 e 24
Júlio Dinis 31 e 20
Ramalho Ortigão 41 e 27
Raul Brandão 65 e 30
Teixeira de Pascoaes 62 e 37
Almeida Garrettt 114 e 24
Antero de Quental 64 e 31
Camilo Castelo Branco 439 e 95
D. Dinis 10 e 5
Guerra Junqueiro 43 e 23
Jorge de Sena 79 e 95
José Rodrigues Miguéis 34 e 24
Júlio Dinis 31 e 20
Ramalho Ortigão 41 e 27
Raul Brandão 65 e 30
Teixeira de Pascoaes 62 e 37
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
O VILÃO
De uma notícia da Reuters,o etanol deixa de ser visto como o vilão do preço do milho. É o que se pode inferir dos baixos valores dos "corn futures" dos últimos tempos. O mesmo sucede com outros bens essenciais,como a soja e o trigo. É caso para estar na expectativa. Como se irão comportar a oferta,a procura,etc.,etc.,...?
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
QUASE VOA
Nem parecia o mesmo naquela manhã. Ia só,sem o seu fiel companheiro,um carrinho,algo desconjuntado,que ele vai levando,alegremente,palas ruas,quase a correr. Desta vez,ia triste,de cabeça baixa,assim como um vencido da vida. Também não trazia o seu boné de pala,o que se compreendia, pois não estava trabalhando.
Talvez a sua carripana estivesse a reparar,que bem precisada estava. De qualquer maneira,poucos dias volvidos ,lá voltou ele aos seus muitos afazeres,que são as visitas meticulosas aos contentores lá do seu bairro,à sua boa disposição,ao seu boné de serviço.
Os caixotes já estariam sentindo a sua falta,pois sempre lhes faz alguma companhia,e,o mais importante,lhes alivia a carga. O carrinho chega a andar derreado,visto ele ser muito aproveitadinho. É que a vida não está para brincadeiras,e lá em casa há mais gente,que,por vezes,o acompanha,mas com dificuldade,que ele quase voa,por mor da concorrência. Tem de dar á perna,não vá ficar sem os melhores bocados.
Talvez a sua carripana estivesse a reparar,que bem precisada estava. De qualquer maneira,poucos dias volvidos ,lá voltou ele aos seus muitos afazeres,que são as visitas meticulosas aos contentores lá do seu bairro,à sua boa disposição,ao seu boné de serviço.
Os caixotes já estariam sentindo a sua falta,pois sempre lhes faz alguma companhia,e,o mais importante,lhes alivia a carga. O carrinho chega a andar derreado,visto ele ser muito aproveitadinho. É que a vida não está para brincadeiras,e lá em casa há mais gente,que,por vezes,o acompanha,mas com dificuldade,que ele quase voa,por mor da concorrência. Tem de dar á perna,não vá ficar sem os melhores bocados.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
DE DESGOSTO
Ele era tão mau que chegaram ao ponto de dizer que era pior do que as cobras. É que ele sabia,ao contrário delas. Coitadas das cobras,para ali a rastejarem,a limparem o pó do chão.
Já em pequeno o mostrara. Subia às árvores,à cata de ninhos,só para deitar os ovos ao chão. Apanhava grilos,nas tocas,com palhinhas,mas não os engaiolava,para depois os ouvir cantar. Mal os tinha na mão,ai deles. O mesmo sucedia às borboletas e às rãs. Uma calamidade.
Foi assim pela vida fora,na escola,no trabalho. Pode-se imaginar o que teria feito numa e noutro. Intriguista,adulador,veio a ser chefe. Pobres dos subordinados. Punia-os a torto e a direito,nada lhes desculpando. Engendrava tarefas para os reter e prestava sempre más informações.
Casou com uma alma gémea. Teve filhos. Mas o que são as coisas. Os rebentos sairam bonzinhos,com muita mágoa dele. Ainda tentou modificá-los,mas em vão. Morreu de desgosto.
Já em pequeno o mostrara. Subia às árvores,à cata de ninhos,só para deitar os ovos ao chão. Apanhava grilos,nas tocas,com palhinhas,mas não os engaiolava,para depois os ouvir cantar. Mal os tinha na mão,ai deles. O mesmo sucedia às borboletas e às rãs. Uma calamidade.
Foi assim pela vida fora,na escola,no trabalho. Pode-se imaginar o que teria feito numa e noutro. Intriguista,adulador,veio a ser chefe. Pobres dos subordinados. Punia-os a torto e a direito,nada lhes desculpando. Engendrava tarefas para os reter e prestava sempre más informações.
Casou com uma alma gémea. Teve filhos. Mas o que são as coisas. Os rebentos sairam bonzinhos,com muita mágoa dele. Ainda tentou modificá-los,mas em vão. Morreu de desgosto.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
UM MENINO
Cola tudo,cola tudo. Era a sua mercadoria principal. De vez em quando,lá ficava mais leve. Só custa um euro. É garantido,está aí escrito. Podem confirmar. Eu não sei ler,mas foi o que me disseram.
Não sei ler,pois lá em casa tinha de ajudar,na guarda dos animais e nos trabalhos do campo.
Mas olhe que ainda vai a tempo. Está aí ainda um moço cheio de vida. Isso são favores.
Ao lado dele,descansavam duas muletas. Os dentes tinham voado. A carita é que era lisa,sem uma ruga,e mostrava boas cores. E os olhos eram vivos, bem dispostos. Parecia um menino.
Já não vale a pena,pois qualquer dia marcho,que isto deve estar por pouco. Já cá cantam setenta e tais. E depois,o que é que estou cá a fazer? Escusava de andar para aí a vender umas coisitas para me entreter e para acrescentar mais alguns patacos à pensão,que se vai num instante.
Além do cola tudo,também se viam na caixa pilhas e pensos rápidos. Daria o negócio para amparar.
Não sei ler,pois lá em casa tinha de ajudar,na guarda dos animais e nos trabalhos do campo.
Mas olhe que ainda vai a tempo. Está aí ainda um moço cheio de vida. Isso são favores.
Ao lado dele,descansavam duas muletas. Os dentes tinham voado. A carita é que era lisa,sem uma ruga,e mostrava boas cores. E os olhos eram vivos, bem dispostos. Parecia um menino.
Já não vale a pena,pois qualquer dia marcho,que isto deve estar por pouco. Já cá cantam setenta e tais. E depois,o que é que estou cá a fazer? Escusava de andar para aí a vender umas coisitas para me entreter e para acrescentar mais alguns patacos à pensão,que se vai num instante.
Além do cola tudo,também se viam na caixa pilhas e pensos rápidos. Daria o negócio para amparar.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
ENXURRADA
Uma grande desgraça assolara ,em escasso tempo,a região onde ele era dono e senhor. Tinha havido perdas de vidas e outras de muito diferente natureza.
Na sua cara devia transparecer a consternação que lhe ia na alma por tanta miséria inesperada. Podia ter-se visto,até, os seus olhos molhados de lágrimas. E da sua boca haviam de sair palavras de conforto e de esperança,que ele iria fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance,no momento,e mais ainda,se tal fosse necessário,para que ajudas chegasem muito rapidamente.
Mas nada disto se viu e ouviu. Foi mais outra calamidade a derramar-se por ali e com força bastante para alastrar por esse mundo além. As chuvas e os ventos de há pouco vieram alojar-se nele e aquilo foi uma enxurrada ainda maior.
Parecia o homem possuído de mil demónios. Afinal,o que acontecera teria vindo a calhar lá para as contas dele. E lá no seu íntimo estaria exultando.
Na sua cara devia transparecer a consternação que lhe ia na alma por tanta miséria inesperada. Podia ter-se visto,até, os seus olhos molhados de lágrimas. E da sua boca haviam de sair palavras de conforto e de esperança,que ele iria fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance,no momento,e mais ainda,se tal fosse necessário,para que ajudas chegasem muito rapidamente.
Mas nada disto se viu e ouviu. Foi mais outra calamidade a derramar-se por ali e com força bastante para alastrar por esse mundo além. As chuvas e os ventos de há pouco vieram alojar-se nele e aquilo foi uma enxurrada ainda maior.
Parecia o homem possuído de mil demónios. Afinal,o que acontecera teria vindo a calhar lá para as contas dele. E lá no seu íntimo estaria exultando.
domingo, 19 de outubro de 2008
PASSAR DESPERCEBIDO
Caminhava rente ao edifício ,de olhos no chão,como que a esconder-se. Foi triste vê-lo,ali vergado ao peso dos muitos anos. Melhor seria não se ter salientado tanto,que o contraste não se mostraria tão doloroso,para ele e para outros,dos que tinha encantado.
Não era o seu caso,mas é bem verdade que o trambolhão é maior quanto mais alto se vai. Ele não caiu,de facto,muito longe disso,mas aos seus olhos é capaz de assim se ter passado. O que eu fiz,onde eu fui,e agora,para aqui estou,uma pobre sombra de mim,nada mais.
Parece ter-se arrependido de querer passar despercebido,pois ainda o viram virar a cabeça,com intenção,talvez,de corresponder ao cumprimento que pressentira e de que escapara.
O respeito e a dmiração de alguns podem servir de lenitivo perante a triste realidade do envelhecimento sem recuos,pelo que não se devem desperdiçar as ocasiões para isso,tanto mais que outros estão dispostos a esquecer,a ignorar.
Não era o seu caso,mas é bem verdade que o trambolhão é maior quanto mais alto se vai. Ele não caiu,de facto,muito longe disso,mas aos seus olhos é capaz de assim se ter passado. O que eu fiz,onde eu fui,e agora,para aqui estou,uma pobre sombra de mim,nada mais.
Parece ter-se arrependido de querer passar despercebido,pois ainda o viram virar a cabeça,com intenção,talvez,de corresponder ao cumprimento que pressentira e de que escapara.
O respeito e a dmiração de alguns podem servir de lenitivo perante a triste realidade do envelhecimento sem recuos,pelo que não se devem desperdiçar as ocasiões para isso,tanto mais que outros estão dispostos a esquecer,a ignorar.
sábado, 18 de outubro de 2008
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
UTILIDADE DO LUGAR
Iam de mãos dadas ,ele e ela,como,alás,é frequente vê-los. Assim passaram uma porta larga. As caras sorriam. Estava ali um casal feliz.
A vida corria-lhes como eles desejavam. Ainda há pouco,uma meia dúzia de palmos de terra se convertera num pesado saco de notas,efeito da utilidade do lugar. Servira isso para elevar o monte que já existia.
À entrada,depararam com duas sentinelas,que ali têm permanecido tempos sem fim,pois nem pensar serem rendidas. Ora ali se encontravam dois ,que a seu modo,os têm sabido imitar. É que o chão onde se sentam,embora de pedra dura,lá se vai transformando em moedas. Pena é que não seja em notas,mas cada qual é para o que nasce.
A vida corria-lhes como eles desejavam. Ainda há pouco,uma meia dúzia de palmos de terra se convertera num pesado saco de notas,efeito da utilidade do lugar. Servira isso para elevar o monte que já existia.
À entrada,depararam com duas sentinelas,que ali têm permanecido tempos sem fim,pois nem pensar serem rendidas. Ora ali se encontravam dois ,que a seu modo,os têm sabido imitar. É que o chão onde se sentam,embora de pedra dura,lá se vai transformando em moedas. Pena é que não seja em notas,mas cada qual é para o que nasce.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
DE MÃOS DADAS
Calhara naquele dia mais uma visita. Uma visita prolongada,a compensar uma comprida ausência. Há que tempos não estavam juntos e que saudades já sentiam. O visitado até desesperara,pois estava para ali abandonado,sem um carinho. Era isso bem visível em todo o seu desleixado corpo,um corpo incapaz de se mover. A barba dera em crescer muito e por aquele andar ainda lhe chegaria aos pés. Quanto ao resto,nem vale a pena referi-lo. Uma lástima,uma ruína.
Do visitante,pouco há a dizer. Ainda se mexia,como claramente mostrava o estar ali. Mas aquele adiar da visita era prova evidente de que as coisas também não estavam famosas para ele. De resto,sabia que o amigo só podia esperar da sua parte compaixão. E isto era-lhe muito penoso,o que ajudava a explicar a larga separação.
Estavam os dois velhos,muito velhos mesmo. Parecia,até,um milagre o terem conseguido chegar tão longe. Talvez a causa estivesse na grande amizade que os ligava . Quereriam deixar este mundo juntos. E assim,um dia,quem sabe,uma voragem forte os enlace e os leve por esses espaços além,de mãos dadas.
Do visitante,pouco há a dizer. Ainda se mexia,como claramente mostrava o estar ali. Mas aquele adiar da visita era prova evidente de que as coisas também não estavam famosas para ele. De resto,sabia que o amigo só podia esperar da sua parte compaixão. E isto era-lhe muito penoso,o que ajudava a explicar a larga separação.
Estavam os dois velhos,muito velhos mesmo. Parecia,até,um milagre o terem conseguido chegar tão longe. Talvez a causa estivesse na grande amizade que os ligava . Quereriam deixar este mundo juntos. E assim,um dia,quem sabe,uma voragem forte os enlace e os leve por esses espaços além,de mãos dadas.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
"O PAÍS DAS UVAS"
Do Flickr,by zip 95
Do Flickr,by Valter Jacinto
Do Flickr,by Paulo Brabo
Do Flickr,by filipe ferreira
Do Flickr,by Domingos Xavier
"AS VINDIMAS
Agosto passa. É o mês de sazão dos grandes frutos,em que as debulhas terminam,os pêssegos turgescem,abeberam os figos e,enfim,se decide a abundância ou a escassez das nossas vindimas....
Aí vêm agora em plena exuberância as verduras brunidas da paisagem vinhateira,cujos metálicos pâmpanos ascendem por cima dos arvoredos e valados,na estesia dos seus viços bravios,pendendo os cachos ingurgitados de sucos,cuja diversa tintura já começou a acentuar-se. Lebres,corvos.codornizes,pardais,tudo agora se abate sobre a vinha esbagoada em topázios,ametistas e rubis...."
FIALHO DE ALMEIDA
O País das Uvas
Círculo de Leitores
1981
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