domingo, 12 de outubro de 2008

SOU A JÚLIA

Passara já por ela,mas não a reconhecera. Olhara-a,mas fora como se o fizesse pela primeira vez. Não acontecera assim com o irmão,com quem conversara demoradamente.
A certa altura,ela abordou-o. Não te lembras de mim,não sabes quem sou eu? E fitava-o com um ar muito triste. Ele fez um esforço,a ver se descobria quem estava ali na sua frente,tão interessada em que ele se recordasse. Quem seria? Passou um mau bocado,cheio de mágoa por prolongar aquela embaraçosa situação. Então ela não se conteve. Sou a Júlia,estou assim tão mudada? E disse-o com uma certa aspereza.
Pois claro que és a Júlia,mas isto sem grande convicção. Sabes,passou tanto tempo,mais de trinta anos não foi? E depois,esta minha cabeça já não é o que era dantes. Desculpa lá.
Coisas que se dizem,para compor. É que não havia meio de ele associar aquela pessoa que ali estava com a imagem que guardava dela. Tinha encolhido,mirrado,e a cara não mostrava qualquer sinal da beleza de outrora. Ela dava conta do seu embaraço e isso mais a contrariava. Estava decididamente o encontro estragado. Nem ela,nem ele tiveram culpa do sucedido,mas não havia mais nada a fazer.

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