"Vocemecê é que é o senhor João da Cruz? Para o servir. Venho aqui pagar-lhe uma dívida. A mim? O senhor não me deve nada,que eu saiba. Não sou eu que devo;é o meu pai,e ele foi que me encarregou de lha pagar. E quem é o seu pai? Meu pai era um recoveiro de Garção,chamado Bento Machado. Proferida metade destas palavras,o cavaleiro afastou rapidamente as mangas do capote e desfechou um bacamarte no peito do ferrador."
É assim que vem em Amor de Perdição,de Camilo. Um simples diálogo,ao natural,como se tivesse sido registado a uma esquina,em qualquer lugar. Em qualquer lugar,ontem,lá muito para trás,quem sabe se hoje ou amanhã. De arripiar.
De alguma maneira,faz ele lembrar, também, a fábula do lobo e do cordeiro,de La Fontaine,ainda que a lição seja outra. Se não foste tu,foi o teu pai.
Alguém terá de pagar. Uma triste sina.
domingo, 26 de outubro de 2008
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