quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

OS AFILHADOS

Era o senhor muito rico e solteiro. Tratava-se,pois,de um alvo sujeito a grande procura. Acontecia,também,que não se lhe via interesse pelo casamento. Gostava de se sentir livre,de modo a poder dedicar-se ao que lhe desse na cabeça. E em boa verdade não parava. A sua figura quase metia dó,de tanta actividade em que se metia. Mas se casar não queria,significava isso que filhos não viria a ter. Não era,de facto,pessoa para os fazer por outra via. E assim,aquela enorme fortuna ficaria para os familiares. Mas nesses abundavam,também,os teres e haveres. Surgiram,então,candidatos especiais,os afilhados. Talvez uma parte do espólio rico lhes viesse parar às mãos. Nunca se vira tanto interessado numa colheita. Mas o que admirava era o senhor aceitar sempre mais um. Não se sabia se o fazia por gosto ou por mania de coleccionador. É que ele tinha várias,algumas de luxo. Acabou isso por se esclarecer. Aquilo não passava,afinal,de uma outra mania,só que de parcos gastos. Do que constou,os meninos e meninas não foram contemplados como desejavam,eles, ou os paizinhos. Também era o que estavam todos a pedir. Não se via logo que era uma coisa sem jeito? Um ou dois,vá que não vá,mas um monte deles cheirava a esturro.

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