sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DO MESMO MAL

Estavam os dois velhos e reformados. Quando novos,tinham trilhado,pode dizer-se,os mesmos caminhos,mas quando se cruzavam,era sempre de fugida e com cara de poucos amigos. Não era coisa de admirar,pois se sabe muito bem que isto de oficiais do mesmo ofício tem muito que se lhe diga. Entretanto,o tempo voara, e passaram a ser vizinhos,ficando quase a poderem ver-se das varandas. Parecia estar criada uma situação favorável a cruzamentos frequentes,com demoras,mostrando caras prazenteiras. Mas tal não tem acontecido,vá-se lá saber porquê. Talvez por um abundar em teres e o outro pouco ou nada possuir,embora sem disposição para assaltos. Talvez por um ter arranjado patrão de cinco estrelas e o do outro andar sempre encalacrado. Talvez por um se bastar com o deleite de posse exclusiva e o outro se entreter com bens de todos. Talvez por terem da solidariedade entendimentos diferentes. Talvez por um ser baixo e o outro alto. Talvez por ambos padecerem do mesmo mal.

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