quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

NA SOLEIRA

Volta não volta,dava consigo a querer dispor de uns dias para percorrer, com minúcia, os lugares vizinhos da terra onde nascera e vivera os anos da juventude,mas que mal conhecera ou apenas sabia o nome. E fora assim porquê? Pela comezinha razão da falta de meios. Outros valores mais prementes se impuseram,como o de sobreviver. E porque a vida se endireitara,passara a poder fazê-lo. E assim,havia de os visitar a todos,sem uma excepção,com detença. Tal como numa espécie de posse. Para os saborear,para os mastigar. E vê-los-ia com outros olhos,não como os dum carenciado,que só pensa no pão que o sacie. Afinal,imitando tantos que abandonaram os seus lugares de origem,a fazer pela vida,e que ,um dia ,a eles regressam para mostrar,sobretudo,que já não mendigavam. Não faria,porém,bem assim. Viria como anónimo. Não diria que era dali perto. Diria que se enamorara daqueles sitios quando por lá passara em tempos. Apetecera-lhe,simplesmente,revê-los. Mas seria capaz? Pensando melhor,não iria. Ficava satisfeito só em saber que poderia fazê-lo,uma e mais vezes. As que quisesse. Ficaria, apenas,na soleira,sabendo que podia entrar.

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