quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

ÁGUA LÍMPIDA

Ali estava ele,frente a uma muito bem composta plateia,dizendo coisas,algumas de escaldar,
mesmo peles mais causticadas. Ele,até,nem se arrependia de nada do que tinha feito ou consentido,voltando a proceder tal e qual,se,acaso,o tempo recuasse.
Tinham decorrido uns bons pares de anos desde esses tempos triunfais,em que pontificara. Pudera reflectir veses sem conta,mas nem uma vez sequer dera parte de fraco. A consciência não lhe pesava,nada lhe toldava o espírito,que se sentia leve como antes,como sempre.
Completara mais um livro,na esteira de outros,e um novo estava na forja. Aquilo era uma fonte inesgotável,um caudal de água límpida a verter-se por regiões aplanadas,sem uma ruga,uma alverca,uma lagoa estagnada. As feições destilavam bem-estar,sossego,felicidade. Os muitos anos não lhe pesavam,nem as acções. Coerência,acima de tudo.
Os criticos eram uns exagerados. Quando estão em causa os valores perenes,sagrados da grei,não há lugar para tibiezas,pieguices,escrúpulos,essas coisas mesquinhas que só emergem nos fracos,nos tímidos,dos quais não reza a história. E ele fazia parte dela,tinha sido sido,também,seu arquitecto.
Uma coisa,porém,é,igualmente,certa. Nessa história,outras grandes figuras lá figuram,figuras de todos os quadrantes,pois seria uma grande sensaboria se apenas a um pertencessem. Mas talvez se possa dizer que alguns,pelo menos,sofreram arrependimentos. Ele não,nunca,se arrependeria.

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