sexta-feira, 28 de agosto de 2009

PARA SEMPRE

Ele era um Zé Ninguém,ele dizia que,ainda que tivesse nascido com apenas um tudo nada de compreensão,de que não tinha culpa,estava mais que sabido,não sendo,portanto,filósofo,cientista,escritor,o que se quisesse do melhor,como muitos que tinha havido,e havia,não compreendia como é que alguém,sobretudo,um desses filósofos,cientistas,escritores de primeira linha,se atrevesse a negar a existência de um Criador.
E isso,perante a grandeza,a complexidade,a beleza da Criação. E isso, porque ele não se fizera,sendo,portanto,um ser casual,fruto de outras casualidades. Viera ao mundo,simplesmente,como podia ter lá ficado,não se sabia onde,e como.
Ele não compreendia como era isso possível,essa redonda negação. Ele,com o seu um tudo nada de compreensão,não podia provar a existência desse Criador,era bem certo,mas não se atrevia a afirmar a sua não existência.
Ele admitia que para a não existência havia algumas indicações ,certamente
fortes,como a aparente impassividade diante das muitas desgraças de todos os dias,desde sempre,assim se podia dizer,para mais,muitas vezes,por via de crentes no Criador,uma clamorosa contradição.
Mas isso,no seu um tudo nada de compreensão,não adiantava,pela razão simples de não se saber quem era esse Criador,o que é que Ele pensava,que ideia tinha Ele. Que ideia tinha Ele do homem,se o homem não era para Ele mais do que um outro ser qualquer.
O que ele sentia,um Zé Ninguém,com o seu um tudo nada de compreensão, era ser parte de uma Obra Imensa,atravancada de coisas,milhões e milhões delas,que eram planetas,estrelas,galáxias,buracos escuros,matéria
escura,um sem fim de coisas,a muitos anos de luz umas das outras.
Era ele um Zé Ninguém,e também quase assim um desses filósofos,cientistas,
escritores,ainda que de primeira linha. A propósito de cientistas,ele,um Zé Ninguém,estava-lhes muito agradecido, por não se cansarem de vasculhar a Obra do Criador. Que eles nunca se cansassem era o que ele mais desejava,escusado seria acrescentar.
Depois,voltando às muitas desgraças que tinham acontecido,que estavam a acontecer,e com muita cara de assim continuarem a acontecer,ele,com o seu um tudo nada de compreensão,só via uma saída para lhes pôr um ponto final,de vez,que, para amostra, já chegavam.
Que o Criador,condoído, entristecido,interviesse,para não ter de chegar à conclusão de que "tinha andado a trabalhar para o boneco",aqui na Terra,fazendo que os terrestres se entendessem,caindo nos braços uns dos outros,para sempre.

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