Era um homem de contrastes. Admiravam-se alguns de como era possível a convivência de tanta diversidade. Mas o certo é que todos aqueles altos e todos aqueles baixos parecia darem-se como Deus com os anjos. Não havia ali a menor altercação.
Não importa aqui tocar nos altos,que os tinha muitos e excelentes. Interessa é dar conta de alguns baixos,devendo-se desde já esclarecer que assim são classificados por uma mera comodidade de expressão.
As mãos eram ásperas,calosas,de quem não enjeitava trabalhos rudes,neles se incluindo arroteamento de matos,limpeza de fossas,conserto de viaturas,governo de hortejos.
Para tais funções,os pés deviam andar convenientemente protegidos. E aqui residia uma sua grande preocupação. Não era qualquer rasto que o satisfazia. Horas ele gastava em terras do interior profundo em busca de especialissima roda de tractor.
Depois,havia lá maior prazer do que banquetear-se com pratadas de nêsperas,de ameixas e de figos de árvores por ele mesmo plantadas? Havia,sim. E esse residia em temporadas à beira-mar,olhando o sul. Para isso,adquirira uma nesga de terra,onde levantara,por suas próprias mãos,uma casa de praia.
Alegrando tudo isto,se tal fosse necessário,exibia sempre,nos altos,como nos baixos,um viçoso botão de rosa.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
NÓDOAS
Os cãezinhos lá do sítio já dispõem de um espaço seu para fazerem as suas necessidades. Para as líquidas,lá está um chão de areia,que facilita a lixiviação para o respectivo esgoto. Quanto às sólidas,deviam lá estar,segundo as instruções,saquinhos e contentor,mas não estavam,pelo que no pano já se viam nódoas. Para completar o ramalhete, a porta estava aberta,quando devia estar fechada,segundo as instruções.Quer dizer,mais um logradoiro com cara de condenado ao insucesso.
MOINHO
Muito moera aquele moinho. Não estranharia,pois,que vidas,que a vida moera,o viessem habitar.
UM PALÁCIO
Pode não acreditar,mas aquilo está ali um palácio que põe todos a um canto. Nada lhe falta,nem o duma rainha. Era a nova casa da filha.
domingo, 30 de maio de 2010
"DEVIA HAVER RECOMPENSAS PARA QUEM PRODUZ FLORESTA QUE CAPTURA DIÓXIDO DE CARBONO"
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1581761&seccao=Biosfera
É o que se pode inferir também de
SOBRE O CARBONO
Como se sabe,são muitos os modos de manter,temporariamente,o carbono fora do seu ciclo activo. É o caso da matéria orgânica dos solos,é o caso das árvores,das madeiras,das mobílias,da cortiça. Enquanto não houver decomposição microbiológica,quer por via aeróbia,ou anaeróbia,enquanto combustão não ocorrer,o carbono permanece como tal,e não como anidrido carbónico,o seu,por assim dizer,destino final. Assim,de modo tímido,todos esses materiais imitam os seus irmãos fósseis,quando os deixam lá estar no seu sono de milhões de anos.
É o que se faz,pelo menos,em
http://www.nytimes.com/2009/08/22/science/earth/22degrees.html?ref=global-home
É o que se pode inferir também de
SOBRE O CARBONO
Como se sabe,são muitos os modos de manter,temporariamente,o carbono fora do seu ciclo activo. É o caso da matéria orgânica dos solos,é o caso das árvores,das madeiras,das mobílias,da cortiça. Enquanto não houver decomposição microbiológica,quer por via aeróbia,ou anaeróbia,enquanto combustão não ocorrer,o carbono permanece como tal,e não como anidrido carbónico,o seu,por assim dizer,destino final. Assim,de modo tímido,todos esses materiais imitam os seus irmãos fósseis,quando os deixam lá estar no seu sono de milhões de anos.
É o que se faz,pelo menos,em
http://www.nytimes.com/2009/08/22/science/earth/22degrees.html?ref=global-home
SOBRE A NUTRIÇÃO MINERAL DA CONSOCIAÇÃO DE GRAMÍNEAS E LEGUMINOSAS
O potássio,sendo,no geral, mais fàcilmente absorvido pelas gramíneas do que pelas leguminosas,pode actuar como um importante factor ecológico,favorecendo umas,em detrimento das outras. Assim,em solos pobres em potássio,as leguminosas não terão vida fácil,pelo que,para garantir uma consociação equilibrada,será vantajosa uma aplicação adequada de potássio,de modo a evitar que nas gramíneas haja consumo de luxo. Este atender às leguminosas é fundamental,como se sabe,pois são elas que conseguem fixar azoto do ar,de que beneficiará o conjunto.Por outro lado,nos solos ricos em cálcio,a absorção de potássio pode ser reduzida,devido ao antagonismo entre os dois. Em tais casos,o desenvolvimento das leguminosas estará mais comprometido,pelo que poderá obrigar a uma adição criteriosa de potássio,pelas razões atrás apontadas.
ERA A ROSA
Fizera uma boa escolha a cegonha para instalar a família,lá mesmo na torre da igreja. De lá,ela podia ver bem o que se passava no local que mais apreciaria,um minúsculo rectângulo verde,perdido na imensidão amarela dos restolhos do vale. Levantava-se cedo. Despertaria com o início da faina naquele oásis. Gostava da companhia já conhecida de outros anos e bem depressa se lhes juntava. Consideravam-na já da casa,pelo que tinha,assim,duas,e puseram-lhe o nome de Rosa. Nenhum ruído dos habituais a amedrontava,nem mesmo o do tractor. Era o mesmo que nada. Nem levantava a cabeça do fundo dos regos em que procurava matar a fome que trouxera doutras paragens. As minhocas,lembrando enguias,só ali as encontraria. Pudera,não faltava água,que vinha do rio,mesmo ali ao lado,nem estrume de muitas vacas que ali se criavam,muito bem criadas,que comida era quanta elas queriam,uma fartura nunca vista. Sonharia com elas,as minhocas,e também com as vaquinhas,que bem conhecia,pois muitas vezes se cruzavam à mesa. Apenas dele a Rosa fugia. E isso entristecia-o muito. As tentativas que ele fez para a cativar,usando de muitas artimanhas,mas foi tudo em vão. De nada valiam outras presenças. Mal ele se aproximava,sempre de bons modos,ah asas para que vos quero. E aconteceu o que era de esperar. Ele,não suportando mais aquele repúdio,aquele desprezo,com ares de virem para ficar,abandonou aquele lugar para não mais volver. Ela,não. Por muitos anos ali voltou,sempre tranquila,pois sabia muito bem que o não iria lá encontrar.
ESTÃO VERDES
Eu cá contento-me com pouco. Pois muito me contas. Olha,das duas,uma,ou estão verdes,ou estás a precisar de ir ao médico.
ÚLTIMA PALAVRA
Ele podia aspirar ao que entendesse,na certeza de que a última palavra não era a dele.
FIGURANTE E FIGURÕES
Nas histórias que ele contava,ele também entrava,mas como simples figurante. Nas histórias que outros contavam,eles também entravam,mas como figurões.
sábado, 29 de maio de 2010
O MESMO OCEANO
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipeBHOEtyOCO0em2QWTK7jgtQo-cNkT0NtlYNEzyABRtOI3p1pPtfQf5Z6nZ1ABcGw5hznou_OFLhogTFINztPDSPot2xCdqdleXlkOOThLU-S4bKI2e0Hpj1EM9veylG4w0P6-e2zEN4p/s1600-h/P5243524.JPG
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
http://www.flickr.com/photos/fotografiap/4616184190/sizes/l/
Galeria de Perz_
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPh75nrdh_dmkq-CV5oNvWNAgxMY4BZn30eaWJ3NpVBvll8HX8bRMlEl9O42k3VEIFIrXoTKTEbyS__DT5jNYqGeFuFXiCanVqlXU5uWcU_TE36auJputhjqroD5MRslo5S40SGAP3Ybt-/s1600-h/010520091749-787493.jpg
Do blogue LiveNow,de PAULO GAMA
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
http://www.flickr.com/photos/fotografiap/4616184190/sizes/l/
Galeria de Perz_
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Do blogue LiveNow,de PAULO GAMA
MILAGRES
A empresa estava passando um mau bocado,quer dizer,estava um tanto pior do que costumava estar,nem havia memória de que,alguma vez,tivesse estado bem. Alguns pensavam que só dum milagre poderia vir a salvação,e até sabiam de um que os podia fazer,estando dispostos a dar-lhe essa tarefa. Coisas de quem acreditava em milagres.
OUTROS RISCOS
Seriam dez,seriam vinte,quer dizer,eram muitos,todos jovens. Enretinham-se, em amplo e plano recinto,a patinar,a exibir arriscadas habilidades. Mais tarde,ou mais cedo,outros riscos os esperariam,pelo que o entretém podia ser visto como um modo de para eles se prepararem. Tão a sério o tomariam ,que,.até,lá dormiam. Era o que dois,que mantas cobriam, estavam fazendo. Tudo isto um rei, lá do alto onde o tinham posto,bem testemunhava. Coitado dele,para o que estava guardado.
INSUCESSO ESCOLAR
O insucesso escolar andava pelos cinco por cento. Era isso tido como um deitar dinheiro à rua.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
MUITO POUCO
Já dera notícia de si,ainda ela vinha lá longe. É que o ar de abandono que a envolvia contagiava tudo e todos. Caminhava muito devagar,arrimada a um bordão. O cabelo branco despenteara-se. Procurava uma casa onde acudiam a velhos como ela. Tinham-lhe dito que era para ali,mas o ali era muito grande,e ninguém sabia. Apenas um vago talvez lá mais para diante,naquele largo,
está a ver? A atenção que acabara de receber parecia tê-la animado e dar-lhe forças para continuar. E lá prosseguiu no seu arrastar penoso,com a esperança de dar com a casa que acudiam a velhos como ela. Talvez a encontrasse no tal largo. Teria gostado de que a tivessem acompanhado,de que a tivessem levado,porventura, num transporte,pois estava muito cansada,mas ninguém se lembrara. Tinham também lá as suas vidas. Ficaram com muita pena dela,mas só isso,o que era muito pouco,ou mesmo nada.
está a ver? A atenção que acabara de receber parecia tê-la animado e dar-lhe forças para continuar. E lá prosseguiu no seu arrastar penoso,com a esperança de dar com a casa que acudiam a velhos como ela. Talvez a encontrasse no tal largo. Teria gostado de que a tivessem acompanhado,de que a tivessem levado,porventura, num transporte,pois estava muito cansada,mas ninguém se lembrara. Tinham também lá as suas vidas. Ficaram com muita pena dela,mas só isso,o que era muito pouco,ou mesmo nada.
GASTEM MENOS
O anúncio de mais um aumento de ordenado punha-o doente,o que se compreendia muito bem. Gastem menos,façam como eu.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
MAUS TRILHOS
Chovera a cântaros naquele mês de Novembro e a ribeira ia caudalosa. A noite aproximava-se e era altura de regressar a casa. O jipe já pensara nisso,pois não se estava sentindo nada bem. É que precisava de cuidados que só lá na vila encontraria. Ainda se fez ao caminho,mas chegara ao limite das suas fracas forças. Acudam-me. E agora? Ao longe,via-se um "monte". Talvez lá houvesse remédio. Vieram logo com um tractor,e lá o trataram como puderam. Ficou a andar,
mas muito mal e incapaz de ver na escuridão,que,entretanto,se fizera. E agora? Haviam de chegar a casa,que devagar se vai ao longe. O jipe,muito chegado ao guia,por vezes,a tocarem-se,lá avançava,penosamente,mas muito amedrontado,pois o fragor da corrente,mesmo ali ao lado,era medonho. Valeu o caminho ter sido aberto em granito esbranquiçado. O jipe esteve um dia a recompor-se,mas disseram que não iria durar muito. Mas aquela era gente sem coração e não descansaram enquanto o não puseram a calcorrear os maus trilhos do costume.
mas muito mal e incapaz de ver na escuridão,que,entretanto,se fizera. E agora? Haviam de chegar a casa,que devagar se vai ao longe. O jipe,muito chegado ao guia,por vezes,a tocarem-se,lá avançava,penosamente,mas muito amedrontado,pois o fragor da corrente,mesmo ali ao lado,era medonho. Valeu o caminho ter sido aberto em granito esbranquiçado. O jipe esteve um dia a recompor-se,mas disseram que não iria durar muito. Mas aquela era gente sem coração e não descansaram enquanto o não puseram a calcorrear os maus trilhos do costume.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
CANTARAM DE ALEGRIA
Por largos anos,um enigmático mal assolou os vinhedos de uma vasta região. Não havia meio de se dar com a cura. Não era insecto e também não era um qualquer microorganismo,dos habituais em casos destes,fungo,bactéria,virus. Então,o que seria?
Um dia,alguém pensou que talvez se tratasse de fome. Mas a gente não lhes tem faltado com a comida. Pode ser que seja necessária uma outra. E vá de experimentar,não de qualquer maneira,
mas com uma certa orientação,que um facto recente fundamentava.
Ali,aplicou A,além,aplicou B,acolá,aplicou C,e assim por diante,alás,o velho método de tentativas. E esperou pelos efeitos.
Onde aplicara A,B,e assim por diante,ficou tudo na mesma,como dantes. Mas onde aplicara C,as videiras cantaram de alegria. Era,afinal,fome de C.
Tantos anos para se chegar à cura. Não resta dúvida de que aquele alguém era bem merecedor de,pelo menos,uma estátua,que não teve.
Um dia,alguém pensou que talvez se tratasse de fome. Mas a gente não lhes tem faltado com a comida. Pode ser que seja necessária uma outra. E vá de experimentar,não de qualquer maneira,
mas com uma certa orientação,que um facto recente fundamentava.
Ali,aplicou A,além,aplicou B,acolá,aplicou C,e assim por diante,alás,o velho método de tentativas. E esperou pelos efeitos.
Onde aplicara A,B,e assim por diante,ficou tudo na mesma,como dantes. Mas onde aplicara C,as videiras cantaram de alegria. Era,afinal,fome de C.
Tantos anos para se chegar à cura. Não resta dúvida de que aquele alguém era bem merecedor de,pelo menos,uma estátua,que não teve.
APARÊNCIA
Fecharam o portão do recinto. Só que,do portão,apenas restam batentes. Quer dizer,mais uma aparência
terça-feira, 25 de maio de 2010
OUTRA VIDA
Os pais que ele tanto amara tinham abalado. O que ele faria para os reaver. Assim,acreditava numa outra vida.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
EFEITOS DA CULTURA DO ARROZ
Como se sabe,a cultura do arroz é feita,no geral,em canteiros alagados,
propícios,assim,a reacções redutoras,por escassez de oxigénio,incidindo em diversos elementos,como o azoto,na forma de nitrato,o ferro e o enxofre. Em relação ao azoto,podem ocorrer perdas por volatilização de óxidos e de azoto molecular. Isso implica uma preferência por adubos amoniacais ou amídicos,ainda que se saiba que,mais tarde,ou mais cedo,
haja formação de nitrato. Quanto ao ferro,há tendência para se gerar o estado bivalente,favorável à solubilização do fósforo,o que poderá significar menor necessidade de adubação fosfatada. No que diz respeito ao enxofre,criam-se condições para o sulfato se converter em sulfureto,o que favorece,também,o fósforo,visto o sulfureto de ferro ser muito insolúvel. Desta conversão,pode haver perdas de enxofre,por via do ácido sulfídrico.
propícios,assim,a reacções redutoras,por escassez de oxigénio,incidindo em diversos elementos,como o azoto,na forma de nitrato,o ferro e o enxofre. Em relação ao azoto,podem ocorrer perdas por volatilização de óxidos e de azoto molecular. Isso implica uma preferência por adubos amoniacais ou amídicos,ainda que se saiba que,mais tarde,ou mais cedo,
haja formação de nitrato. Quanto ao ferro,há tendência para se gerar o estado bivalente,favorável à solubilização do fósforo,o que poderá significar menor necessidade de adubação fosfatada. No que diz respeito ao enxofre,criam-se condições para o sulfato se converter em sulfureto,o que favorece,também,o fósforo,visto o sulfureto de ferro ser muito insolúvel. Desta conversão,pode haver perdas de enxofre,por via do ácido sulfídrico.
CANTOS DA CASA
Como é que se havia de lembrar,se tinha acabado de chegar? Sim,é isso,"washing powder". Coisas de quem ainda não conhecia os cantos da casa.
Etiquetas:
Meia dúzia de palavras,
Por terras da Velha Albion
VOZ GROSSA
A surpresa fora tão grande, que não se conteve. Olhe que não parecia. Quer dizer,o que é presiso, é dar-se ares,fazer sempre voz grossa.
domingo, 23 de maio de 2010
MICROORGANISMOS E SOLUBILIDADE DO FÓSFORO DOS SOLOS
Como se sabe,o fósforo encontra,em geral,nos solos,principalmente,nos tropicais,condições propícias a uma forte retenção,pelo que é fraca a sua disponibilidade para as plantas . A presença de matéria orgânica é susceptível de melhorar essa disponibilidade. É que a sua decomposição bacteriana pode gerar substâncias capazes de formar complexos estáveis com os elementos responsáveis pela retenção,muito em especial,o ferro e o alumínio,libertando,assim,o fósforo. Do mesmo modo,os microorganismos dos solos podem,igualmente,produzir compostos que possuam o mesmo efeito solubilizador. Não é de admirar,pois,que esta acção solubilizante,face à escassez de fosfatos minerais,esteja a ser explorada. É isso reflectido num encontro internacional sobre tal
matéria,que,muito recentemente,teve lugar.
matéria,que,muito recentemente,teve lugar.
NÃO TINHAM EMENDA
Para o que lhes havia de dar, pombos sem vergonha. Ali mesmo, na frente de qualquer um,desatavam num descarado e interminável namoro. Era aquilo um desaforo. Mas o que se havia de fazer?,se eles não tinham emenda. Depois,o sítio era cheio de encantos. Árvores,flores e relva em abundância. O espaço,amplo,e os horizontes,largos. De um lado,escoava-se um histórico rio,de outro, erguiam-se velhas pedras,que história rica evocavam. Nada mais era preciso para atrair caudais de gente vária. Muitos não reparariam naquelas aves despudoradas,mas uns parzinhos receberiam delas forte inspiração. E era vê-los a não poderem resistir àqueles feios exemplos. Mas o que se havia de fazer?,se eles não tinham emenda.
EM CAMISA
A ambulância estava parada,impedindo o trânsito,e uma longa fila formara-se. A maca tivera de trepar dois andares. Todos compreenderam,pelo que nem uma busina se ouviu,ao contrário do que é costume. A vida urge e tem-se sempre coisas muito importantes a fazer,coisas inadiáveis. Quem seria ? Uma velhota,muito magrinha e muito branca. Vinha em camisa,coitada. Ora a minha vida. O preparo em que estou e toda esta gente a ver-me. Que vergonha. Até vieram alguns à janela. Olha quem é,a vizinha ali do segundo direito. A filha acompanhava-a. Não se mostrava muito aflita,mas isso seria para não perturbar mais a mãe. Vai ver que vão tratar bem de si. Pôr-se-á boa depressa,pois faz-me cá muita falta,por causa das crianças.
TRAMAR
Ele queria lá saber dos outros,dos que não conhecia. Era dos que conhecia que ele queria saber,
até andava sempre a pensar neles,para os tramar.
até andava sempre a pensar neles,para os tramar.
sábado, 22 de maio de 2010
UM VELHO CONHECIDO
O metano está preocupando muita gente. Como se sabe,é um dos componentes dos combustíveis fósseis,sobretudo,do gás natural. Mas não é deste que deriva a preocupação, pois o que se conserva nas jazidas está lá bem guardado,e o que delas sai é para ser combustado. O que preocupa, é o que se vai libertando da muito complexa decomposição bacteriana de materiais orgânicos,vegetais e animais,em condições de falta de oxigénio. Acontece isso nas situações mais variáveis,em que se incluem terras pantanosas,águas estagnadas,arrozais,barragens e o aparelho digestivo de ruminantes e de térmitas. Preocupa, também, as camadas geladas de solos do hemisfério norte,um dos maiores armazéns de matéria orgânica da Terra,que aprisiona metano enquanto não se derreterem.O metano é,assim,pode dizer-se,um velho conhecido. Até há quem julgue que o metano eatá na origem da vida. Como gás que é,anda por aí,na atmosfera. O seu teor varia consoante a contribuição de cada uma das fontes e o poder eliminador da própria atmosfera. Que esse poder não deixe de actuar como até aqui,é a esperança de muitos.
O NÚMERO DOIS
Deus e Diabo. Eu e Tu. Bem e Mal. Rico e Pobre. Macho e Fêmea. Bom e Mau.Sim e Não. Palácio e Casebre. Sobe e Desce. Masculino e Feminino. Direita e Esquerda. Tudo e Nada. Feio e Bonito. Caos e Ordem.Forte e Fraco. Justo e Injusto. Mausoléu e Vala Comum. Vida e Morte. Mais e Menos. Par e Impar. Cara e Coroa. Norte e Sul. Céu e Terra. A Dupla Hélice. Verdade e Mentira. Amor e Ódio. Escravo e Homem Livre. Senhor e Servo. Velho e Novo. Quente e Frio. Este e Oeste.Santo e Pecador. Anjo e Demónio. Meu e Teu. O número dois.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
POBRE KUDZU
Pobre kudzu,essa infeliz planta invasora. Depois de ter sido acarinhada,malham nela
(http://alguresnestevale.blogspot.com/2009/09/kudzu-uma-historia-de-amor-e-odio.html).
Agora(http://www.pnas.org/site/misc/highlights.shtml#kudzu),é acusada de contribuir para o aumento do teor de ozone da troposfera. É que o solo onde ela se instala emite óxido nítrico,precursor do ozone.
Ora,o kudzu é uma leguminosa,pelo que fixa azoto do ar,tal como muitas outras suas irmãs. Condenando-a,é como estar a condenar uma numerosa família,o que é,manifestamente,um inqualificável exagero.
De resto,há outras fontes de óxido nítrico. É o que se passa,entre outras,com os combustíveis fósseis,como carvão mineral,petróleo e gás natural.
Como sa sabe,não se pode viver sem azoto. Ora as leguminosas,e neste caso,o kudzu,fixando azoto do ar,prestam um inestimável serviço,com a vantagem de se reduzir o emprego de adubos químicos. Os combustíveis fósseis,ao contrário,não são essenciais,e têm,como se sabe,quem os substitua.
Pobre kudzu.
(http://alguresnestevale.blogspot.com/2009/09/kudzu-uma-historia-de-amor-e-odio.html).
Agora(http://www.pnas.org/site/misc/highlights.shtml#kudzu),é acusada de contribuir para o aumento do teor de ozone da troposfera. É que o solo onde ela se instala emite óxido nítrico,precursor do ozone.
Ora,o kudzu é uma leguminosa,pelo que fixa azoto do ar,tal como muitas outras suas irmãs. Condenando-a,é como estar a condenar uma numerosa família,o que é,manifestamente,um inqualificável exagero.
De resto,há outras fontes de óxido nítrico. É o que se passa,entre outras,com os combustíveis fósseis,como carvão mineral,petróleo e gás natural.
Como sa sabe,não se pode viver sem azoto. Ora as leguminosas,e neste caso,o kudzu,fixando azoto do ar,prestam um inestimável serviço,com a vantagem de se reduzir o emprego de adubos químicos. Os combustíveis fósseis,ao contrário,não são essenciais,e têm,como se sabe,quem os substitua.
Pobre kudzu.
ALTOS RISCOS
As uvas estavam prestes a serem colhidas,pelo que um estranho apanhado entre as videiras não seria bem visto. Mais ainda,se trouxesse sacos de plástico,embora transparentes,arriscava-se a que o maltratassem. Não chegaram a tanto,mas do epíteto de ladrão não se livrou,uma e mais vezes. Aconteceu isso,nesta tão arriscada altura,porque um jovem estava cheio de pressa para fazer um certo trabalho. Para tal,tinha de colher folhas e terra numa vasta zona. Se acaso deixasse passar aquela oportunidade,teria de esperar pelo ano seguinte. Seria como estar a marcar passo por longos meses,e isso é que não. Necessidade,a quanto obrigas. Das folhas,obteve fotografias que mostravam,claramente,sintomas de uma doença. Tinham,pois,para o jovem,um grande valor,sobretudo porque a elas estavam associados altos riscos. Tinham-lhe custado,pode dizer-se,suor e quase sangue. Cometeria uma injustiça quem dele duvidasse. Pois foi o que sucedeu. Um ilustre senhor,ao vê-las,não se conteve. De que livro as surripiou?
CIDADE E CAMPO
O galo da cidade não imaginava o bem que ele fazia, sempre que lhe dava para cantar. Parecia,
por breves momentos,que se tinha,ali,o campo.
por breves momentos,que se tinha,ali,o campo.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
A PROPÓSITO DA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
O aumento exagerado dos teores de alguns elementos nutritivos das águas,muito em especial do azoto e do fósforo,provoca,como se sabe,uma aceleração da sua vida vegetal,sobretudo,das algas. Da sua decomposição aeróbia,por via bacteriana,resulta consumo de oxigénio,o que pode afectar gravemente a vida animal,para além de toxinas,associadas às algas.
Porque o azoto e o fósforo são dois elementos que mais frequentemente entram na composição dos adubos minerais,há alguma tendência para os considerar factores importantes na poluição das águas. Não se pode negar que os adubos tenham alguma responsabilidade nesta poluição,
quer por lixiviação,quer por escorrimento superfical,sobretudo,quando se trata de adubações excessivas,ou não oportunas. A lixiviação afecta,principalmente,o azoto,em particular,na forma nítrica,por os solos não terem,no geral,mecanismos para o reter. Devido à forte retenção do fósforo pelos solos,o seu arrastamento ocorre,na sua maior parte,por escorrimento superficial.
Para além dos adubos químicos,outros materiais podem intervir também no processo de poluição das águas por nutrientes,nos quais se incluem os efluentes urbanos,industriais e agrícolas,a matéria orgânica do solo,os adubos orgânicos,as explorações pecuárias intensivas,os componentes minerais dos próprios solos,bem como os vegetais e animais em decomposição,que neles tenham vivido. No caso dos efluentes,e do fósforo,,há que temer,em especial,a acção de detergentes fosfatados,que, felizmente,têm vindo as ser retirados da comercialização.
Porque o azoto e o fósforo são dois elementos que mais frequentemente entram na composição dos adubos minerais,há alguma tendência para os considerar factores importantes na poluição das águas. Não se pode negar que os adubos tenham alguma responsabilidade nesta poluição,
quer por lixiviação,quer por escorrimento superfical,sobretudo,quando se trata de adubações excessivas,ou não oportunas. A lixiviação afecta,principalmente,o azoto,em particular,na forma nítrica,por os solos não terem,no geral,mecanismos para o reter. Devido à forte retenção do fósforo pelos solos,o seu arrastamento ocorre,na sua maior parte,por escorrimento superficial.
Para além dos adubos químicos,outros materiais podem intervir também no processo de poluição das águas por nutrientes,nos quais se incluem os efluentes urbanos,industriais e agrícolas,a matéria orgânica do solo,os adubos orgânicos,as explorações pecuárias intensivas,os componentes minerais dos próprios solos,bem como os vegetais e animais em decomposição,que neles tenham vivido. No caso dos efluentes,e do fósforo,,há que temer,em especial,a acção de detergentes fosfatados,que, felizmente,têm vindo as ser retirados da comercialização.
COMIDINHA
Primeiro, viver,depois,filosofar. Quer dizer,primeiro,arranjar comidinha,depois,logo se vê.
DE FÉRIAS
Oh tiazinha,vai-se bem por aqui para a aldeia? A mulher,muito magra e mal amanhada,empurrava um carrinho cheio de erva para as vacas. Parou e a cara dela alegrou-se. Vai sim,meu senhor,é ali adiante. E aquele meu senhor não queiram saber como foi pronunciado. Aquilo eram gerações e gerações na mó de baixo. Até parece ter ficado muito agradecida de a terem feito parar e de lhe terem falado. Os olhos estavam um tanto avermelhados,talvez de alguma mazela já antiga,que os afazeres não dão tempo para alguns se cuidarem. Ou seria de ter chorado?,que este mundo é um vale de lágrimas. Mais à frente,apareceu,de facto,a aldeia,com o seu larguinho,a sua igreja de granito carcomido e o seu coreto para as festas. Algumas crianças brincavam,descuidadas,longe ainda do tal vale de carpideiras. Uma delas entretinha-se sozinha. Então,minha linda,estás zangada? Parecia muda. Depois de alguma insistência, lá se percebeu. Era portuguesa de França. O pai era"maçon"e estava de férias. Os outros,meninas e meninos,não a entendiam. Uma tristeza, tomara já lá.
MUITO RALADO
Não se vendo jeito de cada um se contentar com o que coube ao vizinho,é caso para se andar muito ralado.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
ATÉ AS MOSCAS
Passavam o santo dia na caça,os outros que trabalhassem. Nenhum animal escapava,até as moscas. Parecia não saberem fazer outra coisa.
terça-feira, 18 de maio de 2010
PÃO PARA DURAR
Naquela casa escasseava o pão. E uma das razões para tal acontecer,talvez a de maior peso,é que naquela casa eram demasiadas as bocas. Eram bocas de três gerações,sendo a última a de maior vulto. Ora,escasseando o pão,zaragata nascia,zaragata da grossa,por tudo e por nada. Gritos estridentes vinham de lá. Aquilo parecia uma competição. Era ver aquele ou aquela que mais alto ralhava. Ao contrário,porém,do que por vezes se diz,naquela casa todos,afinal,tinham razão. O que não tinham era pão que chegasse. Mas não eram só gritos que de lá vinham,não. Não tendo já forças ,nem disposição,para o mal espantarem,cantando eles,pediam de empréstimo o cantar de outrem,um cantar para surdos. Um dia,aquela casa emudeceu. Teria sido bom que tal sucedesse porque muito pão nela entrara,um pão para durar. Talvez tivesse sido assim. E tão felizes ficaram,que lhes apeteceu dar uma grande volta,da qual não voltaram,vá-se lá saber porquê.
ABRAHAM LINCOLN
"Que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra"
segunda-feira, 17 de maio de 2010
MÁGOAS
Na mesa,não cabia mais uma garrafa de cerveja. De vez em quando,levantava-se para esvaziar. A deslocação fazia-se com dificuldade,pois uma perna arrastava e a outra era um bocado trôpega. Valia-lhe apoiar-se numa bengala. Mostrava algum desassossego,olhando em redor,de cabeça baixa,como a pedir socorro. O empregado que o atendia observava-o desconfiado,parecendo prever algum dissabor. Chamou-o mais uma vez. Queria pagar,mas não trago dinheiro e esqueci-me também do livro de cheques. O gerente deve compreender.Veio o gerente. A conversa não foi agradável,como era de esperar. Não sabia como aquilo lhe tinha acontecido. A sua vida não lhe tinha corrido bem ultimamente. Ao gerente que lhe importava isSo? Embora alterado,parecia ter alguma pena do homem,quase um inválido. Era num sábado de manhã. Na terça-feira venho pagar a despesa. Esteja certo disso. Se quiser tem aqui o meu bilhete de identidade. Ergueu-se a custo e caminhou para a porta muito lentamente,arrastando ainda mais a perna. Talvez quisesse correr,mas estava-lhe interdito. Foi triste vê-lo,já quase a despedir-se,em tal transe. Que mágoas teria ele querido afogar? Deve ter vindo para longe,onde ninguém o conhecesse. Como um animal acabado,fugindo do rebanho.
domingo, 16 de maio de 2010
CALORÍFEROS
Ela é muito magra,transparente. Ele é a sua imagem. Estão,assim,bem um para o outro. É um casal,pode dizer-se,em começo de vida. Casa têm,uma casa muito velha,de que não pagam renda. Não é um palácio,mas estão muito melhor ali do que debaixo da ponte. E cão também,dois até,um, para ele, e o outro, para ela. Levam-nos à trela,duas grossas cordas. Os cães são grandes,um, branco sujo,o dele,e o outro, negro,o dela. Não andam gordos,mas mostram melhores caras do que os donos. Tirarão da boca,para os ter apresentáveis. Ou será para outra coisa? É que a casa não tem aquecimento de espécie alguma,antes pelo contrário. Em dias como os que estão correndo,deve gelar. E,assim,dormirão com eles. Serão os seus caloríferos.
PARA FICAR
Quase tudo,ou mesmo tudo,exterior ao homem,vai mudando. Só os feios sentimentos dele não mudam,parecendo terem vindo para ficar.
sábado, 15 de maio de 2010
NINHARIAS
Teria uns quarenta anos. Vinha de óculos escuros e envergava camisa branca desportiva e calças negras,à moda. O cabelo era louro ainda e derramava-se,anelado,pelas costas largas. Àquela hora matinal,descia, assobiando,a longa e movimentada avenida. Na mão esquerda,trazia um saco de plástico vazio. Para que serviria? A resposta não demorou. No primeiro contentor de lixo,parou. Levantou a tampa e fez uma inspecção sem resultado. Mas um pouco mais abaixo,em frente do centro comercial,o passeio estava juncado de beatas. E ali,sim,o saco entrou em acção. Com o assobio mais afinado,retomou o percurso. Seguiram-se novos esquadrinhamentos e abaixamentos. Parecia não ligar aos transeuntes,que olhavam para ele algo admirados. Não podia preocupar-se com ninharias,pois acima de tudo estava o trabalho. O saco enchera-se,pelo que tinha direito a uma pausa. Foi o que fez,sentando-se junto a um quiosque,ponto de grandes encontros. Tirou os óculos,suspendendo-os,como é da praxe,na camisa,e confraternizou.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
FERRO NOS SOLOS E NAS PLANTAS
Como se sabe,o ferro não faz parte da estrutura da clorofila,mas a sua presença é indispensável na sua formação. Ainda que o ferro seja um dos elementos mais abundantes nos solos,nem sempre as plantas o encontram nas quantidades necessárias,mostramdo-se,por isso,cloróticas.
É o que pode suceder em solos alcalinos,como os calcários,por via da insolubilização do ferro. Nem todas as plantas,e nem todos os solos,porém,se comportam de igual maneira. É que há mecanismos,por assim dizer,de defesa,ou seja,mecanismos de solubilização do ferro. Assim,as plantas podem exercer uma forte influência na rizosfera,quer reduzindo a alcalinidade,quer excretando substâncias que tornem o ferro solúvel. E nos solos podem ser gerados,por decomposição de matéria orgânica,compostos que produzam o mesmo efeito. Há ainda a contar com a contribuição de compostos segregados por bactérias e fungos,e por gramíneas,os sideróforos.
É o que pode suceder em solos alcalinos,como os calcários,por via da insolubilização do ferro. Nem todas as plantas,e nem todos os solos,porém,se comportam de igual maneira. É que há mecanismos,por assim dizer,de defesa,ou seja,mecanismos de solubilização do ferro. Assim,as plantas podem exercer uma forte influência na rizosfera,quer reduzindo a alcalinidade,quer excretando substâncias que tornem o ferro solúvel. E nos solos podem ser gerados,por decomposição de matéria orgânica,compostos que produzam o mesmo efeito. Há ainda a contar com a contribuição de compostos segregados por bactérias e fungos,e por gramíneas,os sideróforos.
MALDITO DO APARELHO
Só fora de casa é que ele encontrava sossego. Mal entrava,sabia logo pela mulher que este e aquele não tinham feito outra coisa senão telefonar. Eram os credores que não o largavam. Ainda não se tinha sentado para descansar das andanças e lá tocava o maldito do aparelho. O que lhe valia era já ter um grande calo para os ouvir. Falavam,desabafavam,desancavam. Ficavam mais aliviados. Aquilo havia de lhes passar. Tivessem paciência, que ele nunca ficara a dever nada a ninguém. Davam-lhe mais um tempo. Mas em casa é que ele não podia ficar,pois outros eram capazes de fazer o mesmo. Vem daí mulher,vamos ao cinema. Ela arranjava-se à pressa e lá iam eles a um que levasse duas fitas. Mesmo que não prestassem, pouco lhe interessava. Ela protestava,mas não havia nada a fazer. Só de duplos é que ele gostava. Ainda via alguma coisa,mas adormecia rapidamente. De resto,era este o seu objectivo. Ali ninguém o importunaria e quanto mais tempo lá permanecesse melhor. A sua grande pena era de não ficar toda a noite naquele refúgio.
PARA TRÁS
De crise em crise,obras das mais diversas circunstâncias,lá iam mudando,num processo de contínua adaptação. Como sempre,eram os mais aptos a saírem-se melhor,e os menos aptos a ficarem para trás.
CEGUEIRAS
Tinham andado os dois na mesma escola e no mesmo serviço, e eram os dois da mesma idade. Pois não,não o conheço. Nunca o vi,nem mais gordo,nem mais magro. Cegueiras.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
VACA DOENTE
A velhota,mal amanhada,sentara-se num banco do jardim. Parecia esperar alguém. Estava desassossegada e ávida de comunicar. Não sou daqui. O meu filho trouxe-me,pois tivemos de tratar dumas coisas. O nosso maior sustento vem duma vaca que dá muito bom leite. Também a gente não lhe falta com a erva e com a ração,que nos custa bom dinheiro. Há dias, passou por lá um senhor vestido de bata branca que tirou sangue da vaca para análise. Agora, querem matar a vaca. Dizem que está doente. Deram um nome ao mal,um nome muito esquisito. O que vai ser de nós? Temos por lá uma porção de milho a crescer,umas couves na horta e pouco mais. Como é que vamos viver sem a vaca? Dizem que nos vão dar algum dinheiro pelo abate. Mas quanto e quando? E como é que até lá havemos de viver? O filho apareceu e levou a mãe. Mas ali ficou a grande mágoa da velhota, que não sabia como iria ser a sua vida, depois da morte da sua vaca. Uma vaca que dava um leite tão bom. Vejam lá uma coisa destas.
TUDO CURA
O tempo,o das horas e dos segundos,tudo cura. É,afinal,um médico como não há outro. Para mais,não leva nada.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
GAIVOTAS
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Alvor
http://www.flickr.com/photos/fotografiap/4596969522/sizes/l/
México
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Alvor
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México
PRATELEIRA
Não era para acreditar. No topo da escada íngreme,via-se um exíguo patamar,onde cabia uma cama e pouco mais. Estava lá,de facto,uma cadeira desconjuntada,sempre na iminência de ir parar ao abismo. Na cama,ou,mais exacto,no catre,jazia uma velhota entrevada. Uma fresta,sem protecção,rasgava-se na parede,um pouco acima da cabeça da inválida. O terceiro degrau da escada era a base de um fogareiro a petróleo. Está-se mesmo a ver o que acontecia quando a fonte calórica desempenhava as suas funções. Os vapores dos cozinhados e os gases de combustão,antes de se escaparem pela fresta,visitavam minuciosamente aquele corpo a despedir-se,como numa tarefa de mumificação. Incensado daquela maneira,estaria garantida a sua incorruptibilidade. Mas porque ficava aquela mártir naquele patamar? Pela razão muito simples de que não havia outro sítio para a depositar. Pai,mãe e filha era gente demasiada para uma só divisão. A velhota tinha de ir para a prateleira.
terça-feira, 11 de maio de 2010
AR DE MAU
Passa os dias encostado às paredes,conversando com os amigos,ou aos balcões das tabernas junto ao mercado. A idade também já não dá para muito mais. Pois há uns dias mudou de vida. Foi arvorado em guarda de um prédio em construção. Assumiu compenetradamente o seu papel. Ali gastava as horas,de manhã à noite,vigiando. A sua voz até parece que engrossou. Ficou com ar de patrão. O construtor fazia mesmo uma fraca figura ao seu lado. O homem é alto,a cara mete respeito,o boné descai-lhe para os olhos,em jeito de rufia de bairro. Nenhum carro,por pouco tempo que fosse,podia estacionar perto da obra. Logo ele aparecia,com ar de mau,a mandar avançar. Para melhor observação,colocava-se no passeio,no outro lado da rua,acompanhando as diferentes fases ,com olhos de que aquilo era seu. Julga-se até que lá dormiu. Continuou,por ocasião da venda,a permanecer nas imediações,e mesmo depois de tudo transacionado. Fora ali que pontificara meses a fio. Não o esqueceria nunca e sentir-se-ia muito agradecido pela confiança nele depositada. Ronda-o,agora,amorosamente. Dá a impressão de ser um filho seu. Vira-o nascer,crescer e tornar-se num bonito prédio. Amparara-o. Estará ciente de que dele se desprende alguma coisa de si. E dali não sai. Encosta-se aos carros estacionados e assiste ao movimento da loja do rez-do-chão. Fora uma ama inexcedível. O boné continua descaído,olhando para todos os lados,zelando.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
PONTES
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OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
CANTO DESOLADO
Aquilo não era um deserto ,mas para lá caminhava. Não se via um riacho e muito menos um rio. As colinas sucediam-se,revestidas de vegetação rasteira e seca. Rocha granítica aflorava por toda a parte. Os carneiros que ali e acolá pastavam mostravam-se tristes por tão grande desolação. Assim andariam animais e gentes naqueles recuados tempos de aventuras sem conta. A fome seria sua companheira fiel ,irmanando-os. Lá ao longe,via-se um povoação,parda como tudo o resto. Apenas uma ou outra torre a denunciava. Lá dentro,em larga praça,dominava a estátua,em bronze,de um cavaleiro na sua montada. Fora assim,do alto do seu poder,que ele conquistara terras longínquas. Onde teria ele ido buscar tamanha energia? Ali perdido,naquele canto desolado do mundo,como lhe teria brotado aquela vontade forte que tanto obstáculo tivera de vencer? A magreza dos proventos seus ter-lhe ia dado a resistência das pedras que atapetavam o chão que magramente o sustentara. Teria sido ele quase uma pedra,volumosa como algumas à vista,que,rolando,esmagara,na sua passagem,tudo quanto lhe aparecera pela frente.
domingo, 9 de maio de 2010
SABÃO
Dissolve-se em água. Emulsiona gorduras. Precipipita cálcio e magnésio. É sabão. Uma mistura de sais de sódio de ácidos gordos de cadeia longa.
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Meia dúzia de palavras,
Um pouco de Química
DIGNIDADE
Muito a velhota hesitou,frente ao expositor das carnes. Não procederam assim os que lá se detiveram,mesmo ali ao seu lado. Muito ela os olhara,admirada,talvez,da profusão de coisas que alguns levavam.Por fim,lá se decidiu. Era uma embalagem das mais pequenas,das mais baratas. Ainda a colocou no cesto,mas por pouco tempo. Feitas mais umas contas,aquilo iria esvaziar-lhe o cofre. Naquela manhã,meninas e meninos de bom coração distribuíam sacos à entrada do supermercado. Os artigos que recolhessem destinar-se-iam aos pobres declarados,aos pobres com rosto,aos que fazem das ruas e dos esconsos a sua habitação. Aquela velhota seria,muito provavelmente,excluída. Faria parte de um difuso conjunto que se envergonha de estender a mão à caridade. Sofrem a sua pobreza,calados,resignados. Uma ajuda tomá-la-iam como uma ofensa à sua dignidade. Ficarão estes lembrados, para sempre ,numa estátua que,um dia,alguém há-de conceber, a estátua do Pobre Desconhecido.
sábado, 8 de maio de 2010
PRODUÇÃO(2008 E 2009) E RESERVAS DE FOSFATOS MINERAIS (MILHARES DE TONELADAS MÉTRICAS)
Estados Unidos 30.200 27.200 1.100.000
Austrália 2.800 2.500 82.000
Brasil 6.200 6.000 260.000
Canadá 950 900 15.000
China5 50.700 55.000 3.700.00
Egipto 3.000 3.30o 100.000
Israel 3.090 3.000 180.000
Jordânia 6.270 6.000 1.500.000
Marrocos e Sara Ocidental 25.000 24.000 5.700.000
Rússia 10.400 9.000 200.000
Senegal 700 700 80.000
África do Sul 2.290 2.300 1.500.000
Síria 3.220 3.000 100.000
Togo 800 800 60.000
Tunísia 8.000 7.000 100.000
Outros Países 7.440 7.000 950.000
Totais Mundiais (arredondados) 161.000 158.000 16.000.000
Dos números,vê-se que só Marrocos e Sara Ocidental detêm cerca de 35% do total das reservas,enquanto o conjunto destes dois e mais a China,a África do Sul e a Jordânia anda pelos 80%. A Europa depende,quase na totalidade,de importações. A maior parte das reservas,cerca de 80%,é de origem sedimentar,ou seja,marinha,sendo o resto de natureza vulcânica.
In http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/phosphate_rock/mcs-2010-phosp.pdf
Austrália 2.800 2.500 82.000
Brasil 6.200 6.000 260.000
Canadá 950 900 15.000
China5 50.700 55.000 3.700.00
Egipto 3.000 3.30o 100.000
Israel 3.090 3.000 180.000
Jordânia 6.270 6.000 1.500.000
Marrocos e Sara Ocidental 25.000 24.000 5.700.000
Rússia 10.400 9.000 200.000
Senegal 700 700 80.000
África do Sul 2.290 2.300 1.500.000
Síria 3.220 3.000 100.000
Togo 800 800 60.000
Tunísia 8.000 7.000 100.000
Outros Países 7.440 7.000 950.000
Totais Mundiais (arredondados) 161.000 158.000 16.000.000
Dos números,vê-se que só Marrocos e Sara Ocidental detêm cerca de 35% do total das reservas,enquanto o conjunto destes dois e mais a China,a África do Sul e a Jordânia anda pelos 80%. A Europa depende,quase na totalidade,de importações. A maior parte das reservas,cerca de 80%,é de origem sedimentar,ou seja,marinha,sendo o resto de natureza vulcânica.
In http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/phosphate_rock/mcs-2010-phosp.pdf
MARCHAVA TUDO
Se a sede apertava,o senhor Joaquim corria logo para um poço. Olhe que vai adoecer,tenha cuidado. Não tem dúvida,vêem-se lá avencas e rãs. O outro resistia,desconfiado. Estranho era que nos "montes" bebia a água que lhe davam. Pensaria,certamente,que estava tratada. Quando não se descortinava um poço ou um "monte",o senhor Joaquim sabia desembaraçar-se,caso tivesse chovido de véspera. Ali por perto,havia de encontrar água nalgum rego. Então,ou se servia da concha da mão,ou se estendia ao comprido sobre o espigoado,para sorver. Se a sede não era muita,estava com cerimónias. Afastava,primeiro,alguns resíduos flutuantes. Sendo o apêlo grande,marchava tudo.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
FEITO TROPEÇO
Teria dado tratos à memória,já gasta de tanto a usar,e logo ali,em pleno passeio,é que lhe estavam ocorrendo as palavras salvadoras. Não fossem elas voltar aos subterrâneos onde se tinham escondido,do passeio é que ele não saía. Puxara do jornal e atirara-se, com entusiasmo, à solução das palavras cruzadas daquele dia. Estava uma manhã bonita,uma manhã de primavera como deve ser,uma manhã inspiradora. No ar,cruzavam-se andorinhas e com ele cruzava-se muita gente. Nem reparava que se fizera num tropeço. Para o café,nem pensar,com uma manhã daquelas. Não estaria de todo alheio,o que era sinal de esperança. Talvez ainda estivesse a tempo de se cruzar com outros passatempos,mais de acordo com alguém portador de um cérebro capaz de grandes prodígios. E quem sabe se, um dia,não será visto feito tropeço, no mesmo passeio,por estar germinando nele uma ideia nova,plena de promessas?
O MESMO
Estou rico,como diz,mas olhe que me fartei de trabalhar. Os outros que fizessem o mesmo. Escusavam,assim,de se queixarem.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
FESTA ESTRAGADA
Era tarde de grande festa. Pelo palco, tinham passado muitas crianças. Mas foram umas meninas,muito pequeninas,de fatinhos de cor branca,uns anjinhos,as que mais encantaram. Estaria ali a inocência,a candura,a pureza,a paz. Muito diferente era o mundo em que mal tinham entrado. Se soubessem,não teriam deslisado,assim,leves,como passarinhos prestes a irem por esses ares além. Os seus corpitos estariam tolhidos,temerosos,pesados. Mas nem de propósito. A finalizar,vieram crianças a lembrar esse mundo. Até uma espada desfilou,bem à frente,comandando. Pior do que um banho de água gelada foi aquilo. Lá se fora o sonho que as suas companheiras aladas tinham induzido. Estava a festa estragada.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
A FONTE SECOU
O fósforo,dada a sua vital importância e a relativa escassez das suas reservas mundiais,irá,nas suas variadas facetas,ocupar,cada vez mais,as atenções de muita gente. Como se sabe,face à crescente necessidade de alimentos,tem sido vultoso o recurso a fosfatos minerais,sobretudo de natureza sedimentar. Foi o caso da Austrália. Não chegando para as encomendas " a prata da casa",recorreu aos fosfatos de uma ilha do Pacífico,a Nauru. Ora,essa fonte secou. É o que irá acontecer,mais tarde,ou mais cedo,a outras fontes,que as exigências não param de aumentar. Assim,há que ir tomando medidas,nas quais se incluem uma melhor eficácia nas aplicações,a colaboração de microorganismos do solo,o aproveitamento de resíduos orgânicos,quaisquer que eles sejam, e a exploração de depósitos fosfóricos dos oceanos,à semelhança do que se tem feito com os combustíveis fósseis. Tudo isto,na certeza de que sem fósforo, nada feito.
NÃO DAVA
Toda vestida de negro,estava sentada num recanto,fazendo malha. A cara era prazenteira. No recinto,brincavam quatro crianças. Davam-lhe muito trabalho? Felizmente que eram só duas,duas irmãs muito gorduchas. As outras,os pais que as aturassem. Encontrava-se ali só de passagem. Era de uma aldeia próxima e viera fazer compras à vila,pois aquilo eram duas bocas muito exigentes. Cuidava delas até domingo,pois ia estar uns dias muito ocupada. Na segunda,começava a vindima.Levara o ano a pensar nas uvas. O jeito que lhe ia fazer o dinheiro. Tinha de aproveitar,embora o corpo preferisse ficar em casa,pois estava ali uma velha cheia de achaques. Mas sabe,a reforma não dava. A renda da casa era um dinheirão. Depois,havia ainda a água,a luz,o telefone. Este,fora lembrança do marido,que Deus já lá tinha,mas precisava dele para comunicar com os seus,que,volta, não volta,lhe pediam ajuda. E os remédios? Nem era bom falar neles. Pois tinha de ser. Saía-lhe da pele,mas que se havia de fazer? Não podiam mandriar,que o patrão não deixava. Ele tinha razão,coitado,pois doutra forma aquilo não dava. Deus o conservasse. Lembrava-se sempre dela,pelo que lhe estava muito agradecida.
ESTÔMAGO
O que são as coisas. Ele,que estômago capaz não tinha,andava a tratar do estômago de outros.
terça-feira, 4 de maio de 2010
ESCRAVIDÃO
Tinham sido libertados da escravidão. Mas isso era pouco,ou mesmo nada. E assim,iriam escravizar.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
SOBRE A FIXAÇÃO DE AZOTO DO AR
A subida de preços dos adubos azotados,bem como a elevada energia para os sintetizar,apontam cada vez mais para o aproveitamento crescente de azoto do ar por via bacteriana. Para isso, há necessidade de conhecer as estirpes de bactérias envolvidas,a sua capacidade fixadora,os factores intervenientes,bióticos ou não,as relações entre bactérias e hospedeiros. Dos factores intervenientes,têm merecido aprofundada atenção a acidez do solo e os diversos nutrientes,particularmente, o fósforo,o enxofre,o cálcio,o magnésio,o boro e o molibdénio. Porque a relação bactéria/hospedeiro é biunívoca,o estudo da influência dos nutrientes tem de respeitar os dois componentes do simbionte. Qualquer acção que tenda a incrementar o fotossintato determinará um maior rendimento da fixação . A fixação inicia-se por uma redução do azoto,formando-se amoníaco,que posteriormente é convertido em compostos orgânicos azotados de complexidade variável. Para ser reutilizado,o azoto dos resíduos das plantas tem de ser mineralizado,à semelhança do azoto da restante matéria orgânica do solo. Da taxa de decomposição do azoto orgânico, depende o grau de fertilização azotada a efectuar. Daí, a importância de um adequado método laboratorial de determinação da disponibilidade do azoto orgânico. A escolha dum método não é facil. Com efeito,a taxa de mineralização depende de diversos factores,estando também influenciada pelo fenómeno inverso,a imobilização de azoto por via microbiana.
PONTOS E VÍRGULAS
Não percebiam nada daquilo,mesmo nada,o que os punha muito zangados,estando a pedir uma compensação. Tinham de se "vingar",aquilo não podia ficar assim. E quem pagava,coitados,eram os pontos finais e as vírgulas,sobretudo estas,por serem mais visiveis. E,claro,os que tinham lá posto os pontos finais e as vírgulas,ainda que alguns e algumas,com um bocadinho de boa vontade,podiam deixar passar. Mas estavam eles bem livres dessa. Nem um ou uma escapava,que a lupa estava ali,que não mentia.
À QUEIMA-ROUPA
O moço acabara o curso e contava que um emprego lhe caísse,muito depressa,do céu. O céu não demorou. Está interessado em substituir-me? Acabei de ser convidado para ir trabalhar na minha terra,coisa que há muito desejava. Estou aqui tão contente. Via-se à légua. Pois é para já. E lá foi o moço para o seu primeiro emprego. Também se sentia muito contente. Para começar,não estava mesmo nada mal. Até quarto tinha de graça,mesmo ali ao lado do serviço. Havia,apenas,um senão. Ficava como assalariado,quer dizer,a corda na garganta podia ver-se. O outro lá lhe ia passando a pasta,uma pasta de que ele estava a gostar muito. Uma tarde,num encontro,aconteceu coisa muito grave. Então não é que o lugar lá na tal terra tinha outro dono,um que acabara de ser apresentado? Ia partir já no dia seguinte. É assim a vida,cheia de surpresas. E esta podia ter sido fatal,porque à queima-roupa. E lá ficaram os dois quase a desempenhar a mesma tarefa. A situação não estava a agradar ao moço. Não é que o quisessem mandar embora,longe disso. Parecia-lhe só que dois eram demais. Entretanto,num concurso para outro lugar,este de quadro,ficara com ele à sua espera. Ainda tentou assegurar o primeiro,apsar da tal aparente duplicação. Mas foram inabaláveis. Ou assalariado,ou vá lá para onde quiser. Mas isto,com cara de poucos amigos. E assim se desfez o duo.
O MEU PAIZINHO
Olhe que assim,sempre na paródia,não vai arranjar emprego capaz. Não se preocupe,que eu também não. O meu paizinho há-de me arranjar um. Melhor ainda,já lá tenho um guardado para mim.
domingo, 2 de maio de 2010
GENTE FIXE
É pintor de interiores o senhor Francisco. Anda nisto há um ror de anos,tantos que até já lhe perdeu o conto. Deita mãos aos pincéis logo de manhazinha,só os largando pela noite dentro. Aos domingos,faz uma pausa,mas mais porque é um pau mandado e o sócio tem outras exigências. O corpo é franzino,mas rijo. Diz que esteve apenas uma vez doente,com uma forte gripe. Mas só faltou um dia à chamada. Podia lá estar sem as suas tintas. Tinto é também o seu líquido preferido. Às vezes, exagera,sobretudo em dias de folga. Tem um grupo de gente fixe com quem se diverte à grande. Volta não volta,dão grandes passeatas. Até já foram à Galiza. É que a vida não é só trabalhar. Com este modo de vida,o que mais se poderia esperar do senhor Francisco? A bebida será para ele um refúgio e até um resguardo para as correntes de ar que tem de apanhar,com as janelas sempre todas abertas. Não sabe fazer mais nada. Nem a bola o atrai,pois não sabe ler lá muito bem. Pouco informado,como é que acompanharia as conversas? Os companheiros do grupinho fixe serão também dos seus,pelo que ficará tudo em família.
TRÂNSITO
Então,ainda andas por cá? Coitado dele,sem eira,nem beira,quer dizer,sem cheta,andava a empatar o trânsito.
sábado, 1 de maio de 2010
BOA CONTA
Veio a Primavera e as árvores da quinta renovaram-se. O portão e o muro não as imitaram. Quer dizer,a Natureza,ainda que abandonada,sabe dar boa conta de si.
CUIDAR DOS SOLOS
Por razões de subsistência,ao derrubarem-se florestas,ao arrotearem-se matos,perturbou-se o natural desenvolver dos solos,sob a tripla acção biológica,quimica e física,solos esses que são muitos,com os seus perfis típicos. Mais se perturbou, quando se largaram instrumentos rudimentares e se substituíram ajudas orgânicas por químicas,que a familia não parava de aumentar . Dada a inevitabilidade de não se poder voltar atrás,é claro que se sente, se compreende,que ,cada vez mais.se tem de cuidar dos solos, de que tem vindo o sustento,de modo a acautelar o futuro. Para isso, tem-se investigado,tem-se mudado de técnicas,tem-se acompanhado as alterações ,tem-se actuado procurando não estragar mais o que já se estragou,tentando recuperar o mais que se puder. E é o combate à erosão,e é o evitar perdas por lavagem,por volatilzação,e é o não salgar demasiado com a rega,e é a passagem do cultivo convencional para o da sementeira directa,e é a adubação com conta,peso e medida,e são as rotações,e é a inclusão de leguminosas,estando de sobreaviso,que as leguminosas acidificam,e é o deixar na terra a maior parte dos resíduos,sem que se prejudique o manejo do cultivo,...Enfim,tem-se ido adaptando,sempre alerta,que é o futuro,de uma comunidade a dilatar,não se sabe até onde,e até quando,que está em causa.
UM GELADO
Já devia ter ultrapassado o cabo dos noventa,ou talvez não,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Caminhava quase em ângulo recto,apoiado numa bengala e numa canadiana. Conseguira descer uma escadaria de dois lanços,atravessara a rua e embrenhara-se no jardim. Avançava muito tentamente e,enquanto o fazia,soltava gemidos. Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia. Parou junto a um quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim. Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.
TESTEMUNHO
A vida pode ser vista como uma corrida de estafetas. Entrega-se,passa-se,o testemunho, ao senhor, ou à senhora,que se segue.
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