terça-feira, 18 de maio de 2010

PÃO PARA DURAR

Naquela casa escasseava o pão. E uma das razões para tal acontecer,talvez a de maior peso,é que naquela casa eram demasiadas as bocas. Eram bocas de três gerações,sendo a última a de maior vulto. Ora,escasseando o pão,zaragata nascia,zaragata da grossa,por tudo e por nada. Gritos estridentes vinham de lá. Aquilo parecia uma competição. Era ver aquele ou aquela que mais alto ralhava. Ao contrário,porém,do que por vezes se diz,naquela casa todos,afinal,tinham razão. O que não tinham era pão que chegasse. Mas não eram só gritos que de lá vinham,não. Não tendo já forças ,nem disposição,para o mal espantarem,cantando eles,pediam de empréstimo o cantar de outrem,um cantar para surdos. Um dia,aquela casa emudeceu. Teria sido bom que tal sucedesse porque muito pão nela entrara,um pão para durar. Talvez tivesse sido assim. E tão felizes ficaram,que lhes apeteceu dar uma grande volta,da qual não voltaram,vá-se lá saber porquê.

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