sexta-feira, 14 de maio de 2010

MALDITO DO APARELHO

Só fora de casa é que ele encontrava sossego. Mal entrava,sabia logo pela mulher que este e aquele não tinham feito outra coisa senão telefonar. Eram os credores que não o largavam. Ainda não se tinha sentado para descansar das andanças e lá tocava o maldito do aparelho. O que lhe valia era já ter um grande calo para os ouvir. Falavam,desabafavam,desancavam. Ficavam mais aliviados. Aquilo havia de lhes passar. Tivessem paciência, que ele nunca ficara a dever nada a ninguém. Davam-lhe mais um tempo. Mas em casa é que ele não podia ficar,pois outros eram capazes de fazer o mesmo. Vem daí mulher,vamos ao cinema. Ela arranjava-se à pressa e lá iam eles a um que levasse duas fitas. Mesmo que não prestassem, pouco lhe interessava. Ela protestava,mas não havia nada a fazer. Só de duplos é que ele gostava. Ainda via alguma coisa,mas adormecia rapidamente. De resto,era este o seu objectivo. Ali ninguém o importunaria e quanto mais tempo lá permanecesse melhor. A sua grande pena era de não ficar toda a noite naquele refúgio.

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