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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
FRIO HÚMIDO
"Imagine V. uma cidade...penetrada dum frio húmido...",assim se referia Eça de Queirós a Newcastle Upon Tyne,onde permaneceu alguns anos,em carta de 1 de Fevereiro de 1874,para o seu"querido Ramalho",como vem em Vida e Obra de de Eça de Queirós,de Gaspar Simões.Imagina alguém o que ele deve ter suportado,pelo que esse alguém suportou durante seis escassos meses de 1965.Teve pouca sorte,pois não me lembro de um verão assim,dizia-lhe,contristado,como a pedir desculpa,um funcionário do sector de processamento de dados. De facto,mesmo em Julho e Agosto,as temperaturas não ultrapassaram os quinze graus,e a chuva,quase sempre do tipo molha-tolos,raramente deixou de cair.Quando chegou a altura,as pessoas foram para férias. As que não puderam comprar sol,rumando ao sul,tiveram de se contentar com aquilo que tinham,que era,apsar de tudo,muito.Nos campos,as culturas desenvolveram-se. As searas,de grande porte e densidade,alouraram,e as pastagens mantiveram-se verdes e pujantes. A lã era lustrosa e o leite gordo. Não se pode ter tudo.
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Por terras da Velha Albion
PASSAGEM DO ANO
Sente-se aqui. Noventa e um anos. Boa memória. O pai morrera muito cedo. De cinco irmãos,era ele o mais velho. E assim,com apenas treze anos,tivera de se desembaraçar,aliviando a carga da mãe.
Tem dois filhos,mas esses têm lá a sua vida,que bem lhes chega. Vive sòzinho,pois a mulher está internada,com ruim doença. Vê mal,pelo que a televisão pouca companhia lhe faz. Entretem-se a reordar e a tomar conta dele. A filha vem visitá-lo na passagem do ano.
Tem dois filhos,mas esses têm lá a sua vida,que bem lhes chega. Vive sòzinho,pois a mulher está internada,com ruim doença. Vê mal,pelo que a televisão pouca companhia lhe faz. Entretem-se a reordar e a tomar conta dele. A filha vem visitá-lo na passagem do ano.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
CANTAR DE GALO
Dizia ele, para quem estava disposto a ouvi-lo, que as gentes se podiam arrumar em dois conjuntos de muito diferente tamanho,um,minúsculo,e o outro,maiúsculo.
No minúsculo,procurava-se não descer do patamar cimeiro a que se tinham acostumado,o que,a acontecer,seria como que uma morte,e fazia-se até o que se podia para trepar ainda mais.
No maiúsculo,lá se iam conformando com a vida que levavam,mas sempre a sonhar com o dia em que podiam cantar de galo.
No minúsculo,procurava-se não descer do patamar cimeiro a que se tinham acostumado,o que,a acontecer,seria como que uma morte,e fazia-se até o que se podia para trepar ainda mais.
No maiúsculo,lá se iam conformando com a vida que levavam,mas sempre a sonhar com o dia em que podiam cantar de galo.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
HUMOR EM OS LUSÍADAS
Declara Júpiter a Vénus no Canto II (49). E depois, no Canto V (35), encontramos a cena em que todos certamente pensam quando se fala de humor em Os Lusíadas. Ela faz parte do célebre episódio do marinheiro Fernão Veloso – justamente aquele que, mais tarde, bradará: «caça estranha é esta!».
O meu propósito não é narrar o episódio, sobejamente conhecido. Recorde-se apenas que quando a armada do Gama se encontra na baía de Santa Helena, os navegadores portugueses entram em contacto com os indígenas; e que Veloso, espírito aventureiro e não pouco gabarola, acaba por pedir autorização para os acompanhar: ir com eles ver a povoação que tinham, pera trazer algua mais notícia da terra do que eles davam, como conta João de Barros na primeira Década da Ásia. Acaba por regressar a correr, perseguido pelos naturais, e tem de ser recolhido à pressa pelo batel enquanto se trava uma refrega em que o próprio Vasco da Gama é ferido. Já ao largo,Disse então a Veloso um companheiro(Começando-se todos a sorrir):– «Olá, Veloso amigo, aquele outeiroÉ melhor de decer que de subir...»– «Sim, é, – responde o ousado aventureiro –Mas, quando eu para cá vi tantos virDaqueles cães, depressa um pouco vim,Por me lembrar que estáveis cá sem mim.»
In http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio28.htm
O meu propósito não é narrar o episódio, sobejamente conhecido. Recorde-se apenas que quando a armada do Gama se encontra na baía de Santa Helena, os navegadores portugueses entram em contacto com os indígenas; e que Veloso, espírito aventureiro e não pouco gabarola, acaba por pedir autorização para os acompanhar: ir com eles ver a povoação que tinham, pera trazer algua mais notícia da terra do que eles davam, como conta João de Barros na primeira Década da Ásia. Acaba por regressar a correr, perseguido pelos naturais, e tem de ser recolhido à pressa pelo batel enquanto se trava uma refrega em que o próprio Vasco da Gama é ferido. Já ao largo,Disse então a Veloso um companheiro(Começando-se todos a sorrir):– «Olá, Veloso amigo, aquele outeiroÉ melhor de decer que de subir...»– «Sim, é, – responde o ousado aventureiro –Mas, quando eu para cá vi tantos virDaqueles cães, depressa um pouco vim,Por me lembrar que estáveis cá sem mim.»
In http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio28.htm
LÁGRIMAS
Viera ali pela última vez. Fora buscar o resto dos seus documentos. No átrio e na escadaria,estavam alguns alunos,talvez duas dezenas. Cumprimentou-os a todos,um a um,silenciosamente.Desce a rampa íngreme muito devagar,como a demorar aqueles momentos muito especiais. Acompanha-o um amigo.De súbito,um aluno,levado não se sabe porque sentimento,é assaltado por um desejo,o de novamente dele se despedir. Outros se solidarizam. E em grande correria vão ao seu encontro.Ele pára e volta-se,talvez admirado. O companheiro distancia-se. E as mãos mais uma vez se estreitam. Dos seus olhos,jorram abundantes lágrimas caladas. Dalguns alunos,também. Para não mais esquecer.
PEIXE CONGELADO
Fez as malas e partiu. Se calhar teria querido ir já há mais tempo. É que aquilo era mesmo uma vida sem jeito. Andava para ali a arrastar os pés ,pelas mesmas ruas,parando de vez em quando nalguma locanda. Deixara de beber,mas aquele perfume compensava-o.Tivera pouca sorte com o emprego que lhe coubera,mas não pudera esperar por um melhor. Se não tivesse dito logo que sim,não faltariam outros para o substituirem. Passava horas a lidar com peixe congelado. Resistira durante anos,mas um dia teve de encostar. Já não dava conta do recado,não sendo ainda um velho,longe disso.Logo que saía daquele inferno,o que mais lhe apetecia era aquecer-se. E na primeira taberna entrava,outras se seguindo. As visitas a estas fontes já não eram novidade para ele. Desde muito novo que o fazia,muitas vezes com o mesmo propósito de se aquecer,pois o diabo do frio gostava muito lá da sua terra.Tivera,pois,azar. Quando tentou arripiar caminho, já era tarde. De nada lhe valeu a junção de algumas ajudas. Apenas serviram para prolongar aquele triste deambular sem rumo. Pode dizer-se que foi o frio que o matou.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
EMBOSCADAS
Coitado dele,que mal se tinha nas trôpegas pernas,que o muito alcool não deixava. Mas estava determinado. Queria visitar a catedral.
Venha daí que eu vou também. A vereda era estreita e um bocado acidentada,serpenteando por arvoredo denso. O rio também corria ali perto,e o céu borrifava.
Podia ter sido outro o encontro,mas calhou ser aquele. Talvez o dia tivesse afastado visitantes,
que o tempo não estava para se pôr a cabeça de fora,mesmo para os da casa. Estava antes para emboscadas,que a bruma mais facilitava.
Venha daí que eu vou também. A vereda era estreita e um bocado acidentada,serpenteando por arvoredo denso. O rio também corria ali perto,e o céu borrifava.
Podia ter sido outro o encontro,mas calhou ser aquele. Talvez o dia tivesse afastado visitantes,
que o tempo não estava para se pôr a cabeça de fora,mesmo para os da casa. Estava antes para emboscadas,que a bruma mais facilitava.
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domingo, 27 de dezembro de 2009
CARIDADE
A terra chamava-se Caridade. E ele nascera e vivera lá. Pois não teve caridade quando a ocasião chegou. Mais uma contradição. E a terra não mudou de nome,talvez há espera de uma nova ocasião.
UM VER SE TE AVIAS
Em certa ilha,lá para as bandas do Oriente,a gente que lá fazia pela vida andava como Deus a tinha posto no mundo,quer dizer,andavam nus,eles e elas,pequenos e grandes,novos e velhos. Não seria o paraíso aquela ilha,mas andaria lá perto.Tinha sido sempre assim,desde há muitos ,muitos anos,talvez até desde que aparecera por ali gente. Pelo menos,era assim que narravam os mais velhos,que o tinham ouvido doutros ainda mais velhos. E isto acontecia por nunca terem tido necessidade de se cobrirem,pois o tempo ali era o de uma perpétua primavera.Ora um dia,deu-se o irremediável. A ilha foi conquistada por uma gente estranha,gente que se enfarpelava. E essa estranha gente não admitia poucas vergonhas. Tiveram de se enfarpelar também,a muito custo,é certo,mas manda quem pode.Desde aí,desde esse fatídico dia,uma peste tomou conta deles,sem dó nem piedade,atingindo todos,sem excepção,velhos e novos. E foi um ver se te avias. Não ficou um para amostra.
UMAS VOLTINHAS
A água entrara no formigueiro. Era isso bem visível pelos montinhos de terra grumosa que à roda se viam. O piquete de serviço aproveitara o bom tempo para ir dar umas voltinhas.
TÃO CEDO
Podia dizer-se que ali as árvores estavam despidas, pois que apenas uma ou outra folha seca permanecia lá nas alturas. O mesmo não se passava lá por baixo. É que as folhas dos rebentos, que tinham vindo tarde,ainda que prematuramente envelhecidas,mostravam uns restos de verdor,parecendo mostrar que não se queriam ir da vida tão cedo.
sábado, 26 de dezembro de 2009
DIAS CONTADOS
Em tempos lá muito de trás,havia um barco que estava a meter água por todos os lados,um barco que levava muita gente. Dessa gente,uns,em menor número,eram gordos,ou muito gordos,os outros,eram magros,ou muito magros. Os gordos,ou muito gordos, viviam bem,ou muito bem,os magros,ou muito magros,ao contrário,viviam mal,ou muito mal.Acontecia que o barco estava a meter água por causa dos gordos,ou muito gordos,pois pesavam demasiado. Para o barco deixar de meter água,estava-se mesmo a ver que os gordos,ou muito gordos,tinham de emagrecer.Sim senhor,vamos emagrecer,mas os magros,ou os muito magros, não devem querer engordar como nós. Mal os magros,ou os muito magros, tal ouviram,não se contiveram. Era o que faltava.É que nós também queríamos ser gordos,ou muito gordos,foi isso que sempre sonhámos. Não vamos nessa,também queremos engordar.Pobre barco,que tinha os dias contados.
COMPAIXÃO
O jovem cantor tinha qualquer coisa que o distinguia. Não seria a voz,não seria o talhe,não seriam os gestos. Era qualquer coisa de indefinido,qualquer coisa muito sua,qualquer coisa que pedia palmas,muitas palmas,qualquer coisa muito íntima,que prendia,que comovia.Não era alto,nem baixo,não era um Apolo,muito longe disso,não era loiro,não tinha olhos azuis. Os olhos eram pequeninos,que mais pequeninos pareciam,enquadrados por uma barbicha negra.Seria talvez nos olhinhos que morava o segredo da simpatia que despertava. Comovia fitá-los. Eram olhos de jovem sensível,eram olhos de jovem que se compadecia. Comovia olhar para ele,porque dos seus olhos jorravam torrentes de compaixão,que se derramavam à sua volta,contagiando quem o ouvia,lá onde cantava,como em qulquer outro lugar onde a sua voz chegasse.
MAIS QUE FAZER
Eu,entreter-me com um computador? Só se me obrigarem por razões fiscais,ou para jogar às
cartas. Doutro modo,passo bem sem ele. Tenho mais que fazer.
cartas. Doutro modo,passo bem sem ele. Tenho mais que fazer.
CARTAS E NOTAS
Então,também gosta de cartas? Acabara de deixar um grupinho que gastava uma boa parte do seu tempo,do seu último tempo,entretendo-se com elas,jogando ou vendo. E ali tão perto,sem
necessidade de virar a esquina,uma biblioteca bem apetrechada,de livros,jornais,revistas e computadores,e mais um centro de arte,com entrada livre para residentes.
Tinha lá tempo para isso. À biblioteca nem se referiu,mas quanto ao centro,onde entrara uma
única vez,sabia coisas. Tinha sido vendido o palácio por uma bagatela,cinco mil contos. Não pensava noutra coisa. Iria acabar os seus últimos dias a pensar em notas,como teria feito ao longo da sua longa vida.
necessidade de virar a esquina,uma biblioteca bem apetrechada,de livros,jornais,revistas e computadores,e mais um centro de arte,com entrada livre para residentes.
Tinha lá tempo para isso. À biblioteca nem se referiu,mas quanto ao centro,onde entrara uma
única vez,sabia coisas. Tinha sido vendido o palácio por uma bagatela,cinco mil contos. Não pensava noutra coisa. Iria acabar os seus últimos dias a pensar em notas,como teria feito ao longo da sua longa vida.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
SEM TÍTULO
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Amieira do Tejo,Alto Alentejo
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Amieira do Tejo,Alto Alentejo
CONDÃO
Naquela casa muito rica,a festa começara cedo. Risos de crianças e forte cheiro a bolos saíam dela. Viera da cidade gente para a pôr a brilhar ,a várias côres,quando o grande dia chegasse. A alegria seria nessa altura ainda maior.Era a única casa, naquela terra modesta,que assim se estava preparando. E um moço,que,casualmente,acompanhara essa gente da cidade,nunca tinha pensado que pudesse haver Natais tão diferentes.E fora preciso lá ir para fazer essa descoberta. Tinha sido um despertar súbito para a crua realidade,o que o entristecera muito. Julgara sempre que tal festa fosse igual para todos e não era.Havia de acordar,um dia,em qualquer lugar. Mas porque calhara àquela terrra tal feito? Não mais se esquecera disso. E sempre que por lá passava,ou lá por perto,era com um grande respeito. Aquela modesta terra devia ter condão.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
MORREU DE VELHO
Não haveria muitos burros como aquele. Pelo menos,lá na aldeia era ele quem levava a melhor.É que podia ser tomado como um macho,tal a sua estatura. No trabalho,não lhe ficaria atrás. Depois,era muito paciente,nada teimoso,sempre pronto para o que fosse preciso. A acrescentar a tudo isto,que já era muito,não se mostrava exigente,nem na comida,nem na cama. Qualquer coisa lhe servia.Não tinham conta os serviços que ele prestava. Pode dizer-se que era pau para toda a obra. E era também muito amigo de crianças. Nunca se indispôs com alguma,mesmo que,às vezes,abusassem,ao contrário do que acontecia com certos rapazolas. Ai daquele que o injuriasse,pois sabia dar a resposta adequada.Logo de manhazinha,abastecia a casa com água da melhor fonte. Depois,tinha pela frente a ordem do dia,quase tudo a ver com a actividade principal do amo,uma lavoura mixta de sequeiro e de regadio. Ele arava,ele gradava, ele fazia girar a nora,ele carregava com os produtos da horta e das courelas dos cereais e do arvoredo. Escusado será dizer que,nos intervalos,ainda lhe cabia o transporte de passageiros.Mas era de noite,pela fresquinha,após a ceifa,quando do carrear as colheitas para a eira,que ele tinha ensejo de pôr à prova os seus apurados dotes de orientação e de equilíbrio. Não precisava de guia,era ele que comandava,pelas estreitas veredas a subir e a descer. Os companheiros seguiam-no,confiados. Nunca perdia o trilho,nem nunca tropeçava.Todos invejavam a sorte do dono,que,por mais de uma vez,teve de dizer não a propostas tentadoras. Morreu de velho,deixando muitas saudades. Por muito tempo foi lembrado,sempre com referências elogiosas. Aquilo é que era um burro.
PLÁSTICOS NÃO BIODEGRADÁVEIS
Empestam os chãos,empestam as águas,mas não empestam os ares. De alguma maneira,
comportam-se quase como os materiais de onde derivam,guardando muito bem guardado o seu carbono,desde que não os combustem.
comportam-se quase como os materiais de onde derivam,guardando muito bem guardado o seu carbono,desde que não os combustem.
CONTA DO RECADO
Há trinta anos que andava naquela vida. Começara com catálogos,mas essa forma de vender acabara. Algumas freguesas pregaram-lhe grandes calotes,como uma que lhe ficara a dever mais de mil euros. Dizia sempre que já tinha pago. Naquela altura,defendia-se melhor.
Muito lhe custara a vida. Sozinha,criara três filhos,pois o seu homem abalara para não mais o ver. Arranjara outras. Mas lá conseguira dar conta do recado. Estava com mais de setenta,mas ainda se sentia capaz de continuar por mais uns tempos,talvez até ao fim.
Muito lhe custara a vida. Sozinha,criara três filhos,pois o seu homem abalara para não mais o ver. Arranjara outras. Mas lá conseguira dar conta do recado. Estava com mais de setenta,mas ainda se sentia capaz de continuar por mais uns tempos,talvez até ao fim.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
ACUMULAÇÕES
Pode dizer-se que o homem fora roubado. Não lhe tinham metido a mão ao bolso,mas impediram-no de o encher um pouco mais. Era um homem que acumulava,quer dizer,tinha duas ocupações,porque uma só não lhe dava para sustentar a família como ele queria. Mas,segundo constava,lá conseguia dar conta dos dois recados. Não aconteceu milagre,apenas ele tinha de se fartar de trabalhar. Como se sabe,porém,quem corre por gosto não cansa. Entretanto,havia outro homem que andava muito preocupado com a saúde do acumulador. Assim a trabalhar tanto,coitado,era capaz de se finar. Tinha de intervir,já que ninguém se atrevia. E vai daí,aproveitando uma certa assembleia,propôs que ,dali em diante,cessasssem algumas acumulações,em que se incluía a do infeliz ,que certamente morreria se não lhe acudissem rapidamente. Não deviam ser permitidos tais exageros,para bem, afinal,desses acumuladores. A proposta foi aprovada,pois visava um alto desígnio. E lá se foi uma acumulação,por sinal,bem modesta,mas que fazia muito jeito.
BIODEGRADAÇÃO
É a decomposição de substâncias orgânicas por microorganismos. Pode ser aeróbia ou anaeróbia. Em ambos os casos ocorrem reacções de oxidação-redução,quer dizer,há transferência de electrões.
Na aeróbia,é o oxigénio o captador de electrões,sendo os produtos finais,no geral, anidrido carbónico e água. Na anaeróbia,a captação de electrões é feita por nitratos,sulfatos,ferro,
manganês e anidrido carbónico,sendo os produtos finais,no geral,metano e anidrido carbónico.
Os dois casos também podem ser designados por respiração,aeróbia e anaeróbia.
Na aeróbia,é o oxigénio o captador de electrões,sendo os produtos finais,no geral, anidrido carbónico e água. Na anaeróbia,a captação de electrões é feita por nitratos,sulfatos,ferro,
manganês e anidrido carbónico,sendo os produtos finais,no geral,metano e anidrido carbónico.
Os dois casos também podem ser designados por respiração,aeróbia e anaeróbia.
COISA ACABADA
Ele não era má pessoa,coitado,mas tinha lá as suas manias,que,a bem dizer,não eram originais,
embora ele as considerasse. Depois,era um pregador de liberdades. Ditaduras,nunca. Ora isso parecia contradizer tudo quanto ele dizia e escrevia,que vinha com uma ar de coisa acabada,definitiva. Quer dizer,ditadura,só a dele.
embora ele as considerasse. Depois,era um pregador de liberdades. Ditaduras,nunca. Ora isso parecia contradizer tudo quanto ele dizia e escrevia,que vinha com uma ar de coisa acabada,definitiva. Quer dizer,ditadura,só a dele.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
SÓ
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Título do autor
Alto Alentejo
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OS "INIMIGOS"
Do que se haviam de lembrar em tempos muito lá de trás,tempos que não mais voltaram. Para reduzir a pó,a nada,os "inimigos",em que se incluíam os credores de qualquer espécie,
rotulavam-nos com nomes feios,ridicularizavam-nos,ou esqueciam-nos.
rotulavam-nos com nomes feios,ridicularizavam-nos,ou esqueciam-nos.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
CORRECÇÃO
Devia ser por quilo,e não por área. Tinha lá jeito uma tal medida. E dali não saía. Os seus quase noventa anos,e outras coisas mais,não admitiam correcção.
HORROR
Como mudam os tempos,mesmo que não mudem as vontades. Estas permanecem,só que os tempos lhes temperam ou estimulam as expressões. O rapaz estava muito apaixonado. O seu olhar,o seu ar,as suas palavras traíam-no. Tudo se conjugava para a tradução em gestos do que lhe ia na alma. Bastava a ocasião e ela chegara. Os pares volteavam ao compasso de uma valsa. As mãos estavam presas e o braço dele amparava-a mansamente,delicadamente. Não sabia explicar o que se passara. Numa aproximação inesperada ou provocada,não se lembrava,os seus lábios roçaram ligeiramente as faces aveludadas e perfumadas. Horror. O que eu fui fazer,quase chorava o pobre moço no ombro do amigo. Que vai ela pensar? Sim,que vai ela supor? Que eu sou um animal,um devasso,um lúbrico. Não me perdoará,acredita. O amigo lá o consolou o melhor que pôde,mas ele estava inconsolável. Como mudam os tempos.
sábado, 19 de dezembro de 2009
A SEIVA
É pelo topo que as árvores mais depressa se desnudam. Quererá isto dizer que a seiva vai perdendo forças para trepar.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
DUAS FRASES
O que mais conta não é o que já se fez,mas o que está projectado.
O silêncio também fala.
O silêncio também fala.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
CHÁ DAS CINCO
Já tinha visto muita coisa. Um pesado casaco de peles cobria-lhe o corpo avantajado. Ao lado,a dama de companhia. Estavam sentadas numa pastelaria tomando o chá das cinco. Os dedos da senhora quase se não viam,tantos eram os anéis que os cobriam. Depois da torrada,de que não comeu a côdea,seguiu-se um bolo,tragado até à última migalha. Via-se que não ficara satisfeita. Os olhos procuraram o empregado,que renovou a dose. A dama de companhia limitara-se ao chá,talvez por causa da linha. A dada altura,entrou em cena um cauteleiro. A sala estava repleta. Com dificuldade,abeirou-se da mesa desta senhora. Já devia ser conhecimento antigo,pois a compra foi rápida. Seria um número exclusivo desta cliente. Quem tocou no dinheiro foi a dama de companhia.O cauteleiro abandonou a sala sem levar a fortuna a mais ninguém. Tratar-se-ia de uma questão de princípio,uma espécie de preito de vassalagem. Só convém servir um senhor.
CERTOS PASSOS
O tempo em que ele andara enganado,cheio de ilusões. É que houvera quem as alimentara. Deixe lá que o seu caso não está esquecido. Certos passos tinham de ser dados,e ele prometera dá-los. Às vezes,parecia que isso iria acontecer,mas na volta,a desculpa era sempre a mesma. Sabe,tive de ir tratar de um assunto muito importante.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
BAIRRO DE ALFAMA,LISBOA - PORTUGAL
http://www.flickr.com/photos/biblarte/sets/72157622003625083/
Galeria de Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian
Galeria de Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian
FEIRA DA LADRA,LISBOA - PORTUGAL
http://www.flickr.com/search/?ss=2&w=26577438@N06&q=feira+da+ladra%2Clisboa%2Cportugal&m=text
Galeria de Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian
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REINO DA DINAMARCA
Como se sabe,de muito milho e de muita soja,dois importantes bens alimentares,vem muito biocombustível,etanol e biodiesel,que impestam os ares. Por outro lado,um lado muito preocupante,é crescente a fome no mundo,fome de bens alimentares. Assim,parece que alguma coisa tem ido mal no Reino da Dinamarca.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
MUSEUS
Para o que lhe havia de dar. Não jogava às cartas,não lia jornais e muito menos um livro,não se sentava à mesa dum café e não coçava as esquinas. Entretinha-se a visitar mercados. Eram os seus museus,de coisas vivas.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
COR DE ROSA
Numa feira como aquela é que ele nunca tinha estado. Além do que é costume ver em qualquer feira,diversões,brinquedos,bugigangas,roupas,comes e bebes,expunham-se lá hortaliças a concurso,ideias religiosas e políticas,e vendia-se futuro.Das exposições,a que mais gente chamou foi,sem dúvida,a das hortaliças. Não foi isto uma grande novidade,pois já tinha reparado na profusão de estufas e de estufins que havia ali naquela terra. Aproveitavam a feira para que vissem quem conseguia as de maior tamanho.As das ideias estiveram quase sempre às moscas. Para as religiosas,ainda alguns se chegaram, enquanto lhes deram música,mas mal esta se calou,ficaram apenas umas velhinhas. Quanto às políticas,aquilo não passou de meras sessões de apupos e de assobios de meia dúzia de provocadores,ali mesmo nas barbas da polícia.Uma grande surpresa estava reservada para o futuro. Eram de respeito as bichas que por lá se formaram,junto a "roulottes"de luxo. Ali,o futuro devia ser cor de rosa.
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Por terras da Velha Albion
O SILÊNCIO REGRESSOU
Não iria ser pera doce aquele aquele trabalho de cartografia de solos nas margens do rio Longa. Quando do começo, uma grande parte ainda estava inundada,mas haveria de secar,como sucedera noutros anos. Chegara a ocasião de um local que se tinha deixado para o fim,na esperança de que secasse completamente,o que não aconteceu. Ali,só com botas de borracha. Perto,ficara uma lagoa,de margens ensopadas. A água ,de cor acinzentada,ressumava a cada passo. Não fora possível abrir ali covas,pelo que a natureza do terreno só podia ser determinada por meio de sonda. Foi uma tarefa penosa,pois as mãos ficaram numa lástima. O capim crescera alto,mas pouco denso,permitindo serpentear sem necessidade de grandes esforços. A confiança era tanta,garantida por um prévio sinal da cruz,que nem um momento se pensou na surpresa que se podia ter no próximo afastamento de um tufo de caules. As observações faziam-se sem precalços e o silêncio do lugar não era perturbado por qualquer ruído alarmante. De súbito,ouvem-se repetidos sinais de aflição. Um pobre javali pisara,inadvertidamente,o espaço de um crocodilo e este não se fizera rogado. O desfecho foi rápido. E o silêncio regressou. Não houve uma palmeira,um embondeiro,nem sequer um pé de capim,por mais próximo,que viesse contar o que se tinha passado. Indiferentes,continuaram na sua vida.
O ABUSADOR
Que gosto o dele,o de explorar as debilidades de outros. Quando apanhava um a jeito,flilava-o logo,não mais o largando.
Porque se entreteria assim? Talvez para se divertir,abusando da sua aparente superioridade. Quer dizer,em vez de ajudar o outro a ter mais confiança em si,procurava dificultar-lhe mais a vida,exasperando-o.
Quantos teria ele levado a mudar de caminho,de modo a evitá-lo,que aquilo não se tolerava? Dois deram notícia,que se estava perto. Mas quando o abusador andava lá por longe?
Porque se entreteria assim? Talvez para se divertir,abusando da sua aparente superioridade. Quer dizer,em vez de ajudar o outro a ter mais confiança em si,procurava dificultar-lhe mais a vida,exasperando-o.
Quantos teria ele levado a mudar de caminho,de modo a evitá-lo,que aquilo não se tolerava? Dois deram notícia,que se estava perto. Mas quando o abusador andava lá por longe?
ESPERANÇA
Era o vira o disco e toca o mesmo. Era a lei do mais forte. Era o salve-se quem puder. Era o que viesse depois que fechasse a porta. Era o quero lá saber. Era o primeiro estava ele. Era o vissem como eles se amavam. Era o depois de mim o dilúvio. Era o Todo-Poderoso Dinheiro. Era o não há nada de novo. Era a história ser uma velhota que se repete sem cessar. Era a verdade há só uma,a dele. Era o não há nada a fazer,a não ser esperar. Esperar o quê? Tudo ou Nada. Apsar de tudo,ainda havia lugar para a ESPERANÇA.
sábado, 12 de dezembro de 2009
O TRISTE FADO
Andam os dois pelas esquinas,a fazer pela vida e a fugir da autoridade. É que são,no seu negócio,dois desleais concorrentes do mercado,ali tão perto. Trata-se de um casal. Ele,um homem alto,aí de uns cinquenta anos,de ombros largos,de cabelo forte e basto,de ricas cores,de ar muito desembaraçado,da arriscada labuta,e não só. Ela,mais nova,talvez quarenta,com ar de que ele é quem manda. Trabalham separadamente,cada um no seu posto. Clientes não lhes faltam,que os preços são competitivos e a vida não está para esbanjamentos. Assim,ainda o fecho do mercado vem longe,já eles fecharam a loja. Há dias,foram vistos a conferir a caixa,que é como quem diz,a caixa dela,que a dele só a ele diz respeito,e a mais ninguém,nem à sua mãezinha. O que é que ela havia de fazer,se ele é o homem da sua vida? Nada,e bico calado,que aquela fortaleza,onde ela encontrou protecção,não é para brincadeiras. O triste fado,não resta dúvida.
MARCA DA CASA
Ele precisava de ter umas lições de inglês,mas de modo a dar-lhe,rapidamente,um certo à vontade em terras de Sua Magestade a Rainha. Para isso,foi-lhe indicado uma senhora de larga experiência,nascida e criada na velha Albion. As lições começaram,e,a certa altura,entrou em acção um procedimento novo,que se manteve até ao fim. A senhora levantava-se da sua cadeira e vinha colocar-se por detrás dele,fazendo-lhe umas ligeiras massagens na testa por alguns momentos. Dizia ela que tais massagens,com marca da casa, faziam parte do seu método,uma parte essencial. Quer dizer,sem elas,os alunos não chegavam lá,onde ela queria que eles fossem. Uma coisa,porém,é certa,pode ele asseverar. Se ele chegou ou não onde ela pensava que ele podia ir não sabe dizer,mas para onde ele foi lá se conseguiu fazer entender e ele entendê-los.
ARRUMAR A CASA
Rotular é um jeito,parecendo ser ele atávico,uma coisa herdada. Os rótulos vão mudando,assim como uma moda,ao sabor das conveniências. Depois,rotula-se ligeiramente,talvez por se ter mais que fazer,que a vida não é só rotular. Será também uma forma de arrumar a casa,ou, mais concretamente,o visado.
MAR DE ROSAS
As coisas iam acontecendo,coisas desagradáveis. Era isso bem conhecido,mas parecia não terem ocorrido. Quer dizer,fazia-se de conta que se navegava num mar de rosas. E lá se ia vivendo,uns dias,melhor,outros,pior.
SUBLINHADO
Dois tinham-se excedido em palavras,trocando mimos. Um deles,o que ripostou,mandava. A coisa foi noticiada,sublinhando-se uma intervenção. Escusado será dizer quem mereceu o sublinhado.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
TRÊS E UM SÓ
http://photos1.blogger.com/blogger/609/1252/640/P8159183.jpg
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
PARA SEMPRE
As suspeitas são piores do que as carraças. Agarram-se às vítimas com unhas e dentes,não mais as largando. Mesmo que não provadas,ficam delas restos pairando nos ares,para sempre.
COMO DEVIA SER
Tinham sido uns tempos que não mais se repetiram,uns tempos de saudosas memórias,em que tudo,podia dizer-se,corria como devia ser.
Havia respeito,havia segurança,havia que chegasse para todos, de maneira a andarem todos satisfeitos,havia paz nos corações e nas ruas,enfim,ia tudo como devia ser.
Havia respeito,havia segurança,havia que chegasse para todos, de maneira a andarem todos satisfeitos,havia paz nos corações e nas ruas,enfim,ia tudo como devia ser.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
ERA A VIDA
Coitada da velhota,muito carregada ia ela. É que lá em casa não bebiam água da torneira,e não paravam de comer. E era ela que tinha de ir às compras,que os outros tinham mais em que se entreter. Mas era a vida,o que se havia de fazer?
NÃO PRESTA
Ninguém é perfeito,toda a gente o sabe. E uma vez por outra,mete-se o pé na poça,pisa-se o risco,faz-se um disparate,vá-se lá saber porquê.
E um dia,alguém que se atreveu a meter a cabeça de fora é coscuvilhado. Seguem-lhe o rasto à cata de uma maldade. Havemos de te apanhar.
E lá descobrem a mancha,a nódoa. Não dizíamos? O homem,ou a mulher,não presta.
E um dia,alguém que se atreveu a meter a cabeça de fora é coscuvilhado. Seguem-lhe o rasto à cata de uma maldade. Havemos de te apanhar.
E lá descobrem a mancha,a nódoa. Não dizíamos? O homem,ou a mulher,não presta.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
UM "INIMIGO"
A jornada fora longa,e ele vinha que não podia mais. Finalmente,o carro parou na terra do seu destino,uma terra que ele não conhecia.
Saiu do carro,muito aflito. Alguém lhe tinha de valer,sem demora. Ali muito perto,estava um"inimigo",que,sem regateios,se portou como um amigo. Vá-se lá entender uma coisa destas.
Saiu do carro,muito aflito. Alguém lhe tinha de valer,sem demora. Ali muito perto,estava um"inimigo",que,sem regateios,se portou como um amigo. Vá-se lá entender uma coisa destas.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
GALO DE CIDADE
Não falhava o galo. Todas as manhãs, lá dava ele acordo de si,como só os galos sabem fazer. Fazia isso vezes sem conta.
Mas,talvez por ser galo de cidade,acordava tarde,já o meio-dia ia chegando.
Mas,talvez por ser galo de cidade,acordava tarde,já o meio-dia ia chegando.
A PRIMA RITA
Ninguém é profeta na sua terra. Não há quem valha para o seu criado de quarto. Santos da casa não fazem milagres. A catástrofe e a lei das emoções. E foi toda a minha gente visitar a prima Rita,que acabara de esfolar um braço. Como é que as coisas podem correr bem numa freguesia destas?
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
RECADOS
Era ele um homem que não soubera dar conta de um recado. Mais concretamente,desbaratara as coisas da sua própria casa.
Pois fora ele o escolhido para dar conta de um recado ainda maior,que eram as coisas de muitas casas.
Lá teriam pensado que ele aprendera muito com o recado da sua própria casa.
Pois fora ele o escolhido para dar conta de um recado ainda maior,que eram as coisas de muitas casas.
Lá teriam pensado que ele aprendera muito com o recado da sua própria casa.
GENTE MUITO VIAJADA
Só ali,naquela terra,é que se via uma coisa daquelas,uma vergonha. E não se cansavam de o repetir.
Quer dizer,era gente muito viajada. Tinham andado por lá, demoradamente,convivendo muito. Podiam,assim,dizer de sua justiça,fazer comparações,opinar,classificar.
Quer dizer,era gente muito viajada. Tinham andado por lá, demoradamente,convivendo muito. Podiam,assim,dizer de sua justiça,fazer comparações,opinar,classificar.
domingo, 6 de dezembro de 2009
TUDO EM CASA
Estava ali um rico prado. Água tinha caido em abundância,e havia alimento de muitas gerações. Era como uma floresta que vivesse de si mesma,ou mato que a imitasse . Ficava tudo em casa.
TUDO INCLUÍDO
Um exagero,uma exorbitância,podes crer. Duzentos euros,por um par de lentes. A vida está que não se pode.
Ah,mas isso é de graça,quinhentos euros por uma semana em Nova Iorque,tudo incluído. É de não pensar duas vezes.
Ah,mas isso é de graça,quinhentos euros por uma semana em Nova Iorque,tudo incluído. É de não pensar duas vezes.
sábado, 5 de dezembro de 2009
ESTAR NO CAMPO
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivGGYMWm7wbJUk-vgDgawF6uWOsXg7FA2ELWHx80LjfMEIEhiiOlF3hMTdc4r6mO_0DzmIihmcUnxwbgdoRUNrQMdrxSNLgUEdthlYdU-d8SGOP7a3QViBbx0_qASSI9SL0X9wVb7WQUrX/s1600-h/P5314124-1.JPG
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Título do autor
Amieira do Tejo
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Título do autor
Amieira do Tejo
AO SERVIÇO
A compaixão nunca deve ir de férias,nem meter licença de qualquer espécie. Deve estar sempre ao serviço. Foi para isso que foi criada.
O ÓBVIO
Era o primeiro dia de ir receber a mesada a dobrar,uma fortuna. Teriam sonhado com ela e com o dia. Não seria,pois,de admirar que a quadra estivesse cheia. Quem deu mostras de não ter pensado nisso foi o cofre. E aconteceu o óbvio. Têm de vir cá segunda-feira,que hoje já não há mais,e hoje é sexta. As vezes que o disseram. Muito forte,ou insensível,deveria ser o coração de quem dizia não há mais,tenham paciência. Mas segunda,quando? Logo ao abrir da porta? Não garantimos. Talvez às dez,ou às onze,depende. E lá iam,resignados,que mais haviam de fazer?,para virem muito cedo,talvez antes da abertura,para serem os primeiros,não fosse o cofre,novamente,esvaziar-se. O dinheiro estava certo,é certo,mas enquanto não o tivessem na mão não descansariam,que o seguro morreu de velho. E tudo isto com gente a ver e a ouvir,não de uma maneira virtual,mas real. Quanto sofre um pobre.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
TRAPOS
Uma nova varanda,ampla e panorâmica, debruçava-se sobre a estrada e a linha de caminho de ferro. Por baixo, corriam os restos da imponente muralha de um antigo forte,e um friso de portas,ainda fechadas,à excepção de uma,a porta de uma casa,onde trapos se vendiam.
LINDO PRÉDIO
Aqueles passeios todos esburacados não podiam ficar assim,a fazer má companhia ao bonito prédio que estava a levar os últimos retoques,sobretudo, nos interiores ajardinados. Ficavam mal,afastariam alguns intereressados em lá viver,ainda que os não utilizassem,mas,acima de tudo,os que o procurariam.
E assim, ali estavam alguns calceteiros,sentados,ajoelhados,a pôr pedrinhas como devia ser,para os passeios se parecerem com aquele lindo prédio,de mármores,de vidros,de largas entradas para amplo e ajardinado recinto, onde lojas se iriam abrir.
E assim, ali estavam alguns calceteiros,sentados,ajoelhados,a pôr pedrinhas como devia ser,para os passeios se parecerem com aquele lindo prédio,de mármores,de vidros,de largas entradas para amplo e ajardinado recinto, onde lojas se iriam abrir.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA
Era um apaixonado pela botânica. Não admirava,pois,o seu grande interesse pela Gingko Biloba,sobre a qual dissertou. Um símbolo de resistência. E o que contou parecia ser uma prova disso.
Dera em tempos uma folha a um neto para o seu herbário. Pois a folha,ao contrário,de outras,nunca secou.
Dera em tempos uma folha a um neto para o seu herbário. Pois a folha,ao contrário,de outras,nunca secou.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
ÁGUAS AVARENTAS
Encontrava-se ali,já há uma hora,com um gorro enfiado na cabeça,de cana montada,e só pescara um polvo,um cefalópodo,não se fosse pensar que ele era um ignorante,mas um polvo quase acabado de nascer,e um caranguejo.
As águas andavam muito avarentas,nem pareciam as de outros tempos. Talvez fosse um efeito do que para aí se dizia,de alterações climáticas,de aquecimento,de poluição,de coisas assim. Já se apanhara por ali linguado,sargo,e até corvina,algumas de quilos. Pois naquela altura era o que se via.
Entretanto,mais um peixinho fora enganado,mas esse voltou para onde viera,depois de se lhe ter tirado o engodo,que estava muito caro.
As águas andavam muito avarentas,nem pareciam as de outros tempos. Talvez fosse um efeito do que para aí se dizia,de alterações climáticas,de aquecimento,de poluição,de coisas assim. Já se apanhara por ali linguado,sargo,e até corvina,algumas de quilos. Pois naquela altura era o que se via.
Entretanto,mais um peixinho fora enganado,mas esse voltou para onde viera,depois de se lhe ter tirado o engodo,que estava muito caro.
À ESPERA
Parecia estar tudo no seu lugar,tudo muito sossegado,como que à espera. A chuva caira em abundância,garantindo reservas capazes para o que estava projectado,uma obra vital,silenciosa. Teria ainda que decorrer um certo tempo para que a obra surgisse,como acontecera tantas vezes. Ficava-se,pois,à espera,uma espera renovada,uma espera repetida,vezes sem conta.
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