sábado, 12 de dezembro de 2009
O TRISTE FADO
Andam os dois pelas esquinas,a fazer pela vida e a fugir da autoridade. É que são,no seu negócio,dois desleais concorrentes do mercado,ali tão perto. Trata-se de um casal. Ele,um homem alto,aí de uns cinquenta anos,de ombros largos,de cabelo forte e basto,de ricas cores,de ar muito desembaraçado,da arriscada labuta,e não só. Ela,mais nova,talvez quarenta,com ar de que ele é quem manda. Trabalham separadamente,cada um no seu posto. Clientes não lhes faltam,que os preços são competitivos e a vida não está para esbanjamentos. Assim,ainda o fecho do mercado vem longe,já eles fecharam a loja. Há dias,foram vistos a conferir a caixa,que é como quem diz,a caixa dela,que a dele só a ele diz respeito,e a mais ninguém,nem à sua mãezinha. O que é que ela havia de fazer,se ele é o homem da sua vida? Nada,e bico calado,que aquela fortaleza,onde ela encontrou protecção,não é para brincadeiras. O triste fado,não resta dúvida.
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