quinta-feira, 26 de agosto de 2010

UMA SENHORA

Viera muito novinha para aquela vida,pois lá em casa é que ela não podia ficar. As bocas eram muitas. Bem lhes custou, a ela e à mãe,o separarem-se. Aquilo foi uma choradeira de pôr a chorar também as pedras lá da casa e da calçada. Mas que se havia mais de fazer,se não se lhes abria outra saída? Aliviava o pesado fardo dos pobres pais e seria até capaz de mandar-lhes algum dinheiro. Não seria muito,mas faria jeito.
Serviu algumas senhoras,sempre na mira de forrar mais uns patacos,que as mesadas eram curtas,pela muita competição. Não fora só ela mais a mãe a carpirem,pois tiveram larga companhia. O dinheiro também não abundava em muitas famílias. Com o tempo,lá conseguiu enfiar no mealheiro o suficiente para o enxoval. Não era o que eles queriam,mas sempre dava para começar.
E um dia,quem é que ela havia de encontrar? Mas é o menino. Tão crescido que ele está,quase não o reconhecia. Gostava muito que viesse a minha casa. É mesmo ali. Pouco mais tinha do que um quarto,mas estava bem recheada. O prazer que ela colheu a mostrar o armário dos vestidos,a abarrotar. E a bateria de sapatos debaixo da cama? Ela era,também,naquela altura, uma senhora. Para que constasse.

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