segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O MAIS DESEJADO

Uma espessa névoa os envolve,mas ainda se conseguem distinguir. Parecem espectros a desfilar,a acenar, a dizer que vão voltar.
O Artista. Desenhava e pintava primorosamente,de maneira espontânea,sem escola. Um dom. Todo entregue à sua vocação,como que comandado por ela,não cuidava de mais nada. Não estudou,por horror aos livros. Não se empregou,por horror ao patrão. Ele era um artista,e,
portanto,a sociedade tinha obrigação de o sustentar. Alguns tinham disso alguma compreensão,pelo que lhe faziam encomendas. Era,sobretudo,pelo retrato que mais o procuravam.
Era alto,elegante,e uma cabeleira farta,ondulada,a puxar para o loiro,coroava-o. Julgava-se,de resto,um Adónis,adorado pelas mulheres. Tudo isto se conjugava para ele gostar de fazer vida de grande senhor. Mas,coitado dele,teve de refrear muito este seu jeito. Havia,porém,uns dias em que ele,de alguma maneira,o podia praticar. Tratava-se dos dias de pagamento das encomendas. Esbanjava nessas ocasiões. Escolhia a melhor pastelaria e banqueteava-se. O lugar em que se sentava ficava por detrás da montra a abarrotar de coisas boas. E assim,dizia ele,que,naqueles dias,era o homem mais desejado lá da terra.

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