quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PASSE DE MÁGICA

Eram caras que irradiavam importância. Pareciam caminhar como se as outras não existissem,ou estivessem ali para as servirem. Donde viria tanta exaltação? Saberiam das suas limitações,da sua pequenez irremediável,da sua fragilidade? Talvez isso acontecesse e resultasse daí a sua peculiar maneira de ser. Achariam os outros ainda mais insignificantes. Seria como uma espécie de vingança trágica.
Coitados,seriam de lastimar. Quanto tempo duraria o seu reinado? Nem eles o saberiam. Andariam, por isso, irritados,zangados,mal dispostos. Fora deles o dia de ontem,era certo,esse ninguém lhos tirava,mas,infelizmente,já não contava,já la ia,para nunca mais. Tinham-lhe dito adeus,mesmo que em Deus não acreditassem,como num hábito,entristecidos,pois queriam que ele não se fosse, para sempre,que ele ainda ficasse mais um poucochinho. Mas tinham a certeza de que lhes iria escapar,irremediavelmente,como acontecera já a tantos outros dias,e isso punha-os em fúria.
E então viviam desesperadamente o presente,esse nada,essa ponte minúscula que os ligava ao futuro. E queriam ser donos do futuro,e o futuro brincava com eles,fazendo-lhes partidas,de tal maneira,que chegavam a desaparecer, como por encanto. Não davam conta do passe de mágica,pois tinham deixado de ser. Alguns,por estarem distraídos,ainda os procuravam,mas em vão. Ainda há poucas horas os tinham visto,até com eles falado,até planeando. Andavam intrigados uns tempos,mas,depois,era o costume,acabavam por não mais neles pensar.

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