quarta-feira, 30 de setembro de 2009

EMPURRÕES

Vinha o José no seu passo descansado,quando sofre um empurrão ,assim como que a dizer para andar mais depressa,que estava a empatar o trânsito. Era o João,que ele não conhecia de lado nenhum. Após a ultapassagem,o João ainda se voltou,pondo uma cara de muita censura,disposto a acrescentar mais alguma coisa,mas acabou por desistir.
Afinal o João não ia muito apressado,pois o seu passo era também de descanso,só que um pouco menos do que o do José. Qual teria sido,pois,o motivo do empurrão? Talvez se tivesse irritado com a barreira à sua frente,na figura do José. Quereria ter o caminho inteiramente livre de obstáculos,quaisquer que eles fossem. Fora assim que o tivera sempre.
O seu aspecto era de pessoa bem instalada, a viver de altos rendimentos,não como os do José,coitado dele,que andara sempre a fazer contas à vida. Coroava-o,também,uma lustrosa calva. A do José mostrava algumas reservas,ainda que fracas. Teriam contribuído elas para a irritação? Depois,o José era alto,e o João muito baixinho. Quando se encararam,o José olhara-o de cima para baixo,coisa que ele não suportaria,levando-o a desorientar-se. Teria sido o que valera ao José,senão o João puxaria dos seus muitos galões,e seria o diabo.
Como um miúdo,o José ainda quis dar alguma luta,procurando um reencontro. Mas pensando melhor,deixou-se ficar por ali,a remoer. Tantas empurrões que levara ao longo da sua longa vida,que já devia ser esse coisa para esquecer. Teria sido mais um,nada mais.

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